Nova Friburgo está pronta para vencer as enchentes?
Com a chegada do período de chuvas fortes, cidade teme reviver tristes lembranças de verão
Por Bruno Pedretti
Situada num vale, cercada de montanhas, Nova Friburgo sempre sofreu com as chuvas de verão, que costumam desabar sobre a cidade no fim de dezembro e começo de janeiro. Há 70 anos o município suportava melhor as intensas chuvas, afinal, não havia tantas construções ribeirinhas, o que, inegavelmente, agravou a situação. Nos últimos anos, porém, Nova Friburgo registrou um crescimento acentuado, sem que houvesse, para tal, planejamento urbano adequado.
Em 1941, Nova Friburgo enfrentou uma das maiores enchentes de sua história. Na época, a população era de 30 mil habitantes; ninguém morreu. As águas tomaram a praça e o rio chegou a passar por cima dos umbrais das pontes. Os prejuízos foram apenas materiais. Anos depois, em 2007, construções em encostas, de modo indiscriminado, contribuíram imensamente para a tragédia que matou 11 pessoas e deixou um prejuízo em torno de R$ 80 milhões.
Na carona de um crescimento galopante, a geografia de Nova Friburgo foi modificada com muita rapidez, o que prejudicou a própria população. Os temporais, comuns nos meses mais quentes do ano, passaram a fazer estragos cada vez maiores, em épocas diversas. Em fevereiro de 1979, uma chuva de apenas uma noite deixou a cidade destruída, matando 64 pessoas. A cidade começava a pagar o preço do progresso. No Cemitério São João Batista, os corpos chegavam aos montes, enrolados em lençóis, e o povo chorava seus mortos.
Impossível esquecer toda a lama e lágrimas do Natal de 1996, que, além de resultar em 200 pessoas desabrigadas, fez três vítimas fatais, deixando a população friburguense sem muitos motivos para comemorar a chegada de Papai Noel. Os prejuízos das chuvas, que duraram cinco horas, foram incalculáveis, e o município ficou devastado.
A natureza não diferencia ricos de pobres e as águas costumam deixar tristes rastros e memórias por onde passam. Foi assim também no início de 1997, quando as chuvas voltaram a preocupar a Defesa Civil. Temporais intermitentes danificaram as margens e calçadas do Rio Bengalas. Tanto choveu que a barragem de Debossan não suportou e rompeu, suspendendo o abastecimento de água em boa parte do município. Uma mulher morreu eletrocutada na Praça Lafayette Bravo Filho, e o distrito de Conselheiro Paulino foi um dos que mais sofreram com aquele temporal.
Uma das tragédias mais recentes a assombrar Nova Friburgo foi em 2007. A Suíça Brasileira ficou arrasada, registrando muitos deslizamentos, desabamentos de casas, alagamentos e devastações em geral. O saldo: cerca de 1.100 pessoas desabrigadas, 1.800 desalojados e 11 mortos. Mais de 300 casas foram interditadas pela Defesa Civil e a Prefeitura anunciou prejuízos em torno de R$ 80 milhões.
2010: estamos preparados?
Neste ano, a população friburguense espera que alguns problemas relacionados às enchentes na cidade tenham se resolvido ou, pelo menos, sido minimizados, afinal, ninguém quer presenciar ou ser vítima de novas enchentes. Será que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, reduziram os riscos de uma nova catástrofe na cidade? E os deslizamentos de encostas: a cidade está preparada para receber grande quantidade de chuvas? Veja o que afirmam responsáveis por órgãos que tentam evitar as tragédias das chuvas de verão em Nova Friburgo.
O secretário de Serviços Públicos, Hélio Gonçalves Corrêa, o Helinho, em entrevista para A VOZ DA SERRA, afirmou que a cidade nunca está preparada para fortes chuvas, como, por exemplo, trombas d’água. Mas ele garante que o órgão está se precavendo para este fim de ano.
“Foi feita dragagem nos rios da cidade e retirados objetos maiores, que estavam obstruindo a vazão das águas”, informou.
Segundo Helinho, a partir desta semana as equipes da Secretaria de Obras estarão 24 horas de prontidão, aptas a agir em caso de qualquer incidente. “Teremos um telefone disponível para que a população tenha acesso a essas equipes e telefonem, caso ocorra alguma coisa devido às chuvas”, diz Helinho.
Para o secretário de Obras, a enchente não é o grande problema da cidade. O que incomoda e tira o sono dos friburguenses, segundo ele, são os frequentes deslizamentos que ocorrem nesta época. “Na realidade, os rios não são tão perigosos quanto pensamos, pois eles enchem, mas uma hora vão esvaziar. Já os morros que cercam Nova Friburgo correm frequente risco de deslizamentos, e estes podem matar”, comenta.
Helinho destaca que sua pasta está buscando recursos do governo federal para realizar obras necessárias neste sentido, já que, segundo ele, a Prefeitura não tem verba para tal. “Temos problemas em toda a cidade por conta das chuvas de verão”, lembra.
O secretário diz ainda que uma equipe está incumbida de desobstruir bueiros entupidos em toda a cidade e alerta para a consciência que as pessoas devem ter quanto ao lixo nas ruas.
“A época da chuva está chegando, mas com a cidade mais limpa teremos menos problemas”, frisa.
Bombeiros preparados para encarar as chuvas
O 6º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM) de Nova Friburgo enviou nota à redação de A VOZ DA SERRA afirmando que a corporação está preparada para encarar o período de chuvas, especialmente entre os meses de dezembro e março.
“Primeiramente contamos diuturnamente com aproximadamente 25 homens, das mais variadas especializações, desde o bombeiro combatente à especialização de guarda-vida, tendo como suporte cinco viaturas operacionais, devidamente equipadas, para qualquer tipo de ocorrência. Caso seja necessário, contamos ainda com o Plano de Chamado, que tem como fito mobilizar todos os bombeiros militares do 6º grupamento, que não constituam as guarnições de serviço por escala, quando na formação de guarnições especiais de socorro, para reforçar ou substituir as guarnições de serviço, empenhadas numa missão de grande porte e duração prolongada, podendo atingir o dobro do efetivo acima mencionado.
É imperioso ainda notificar que, caso o GBM não consiga propiciar um suporte adequado à população, possuímos em nossa estrutura o Departamento Geral de Defesa Civil – DGDEC – órgão responsável pela articulação e coordenação de ações de Defesa Civil no âmbito estadual, atrelado ao Centro de Estadual de Administração de Desastres – Cestad – com o objetivo de mobilizar os recursos humanos e materiais para responder aos desastres que venham assolar os diversos municípios do nosso Estado.
“No que diz respeito a equipamento e viaturas operacionais, podemos destacar que o GBM, nesses últimos dois anos, recebeu um ABT – autobomba tanque (viatura para combate a incêndio), um ATE – autotática de emergência (viatura multifuncional – combate a incêndio, salvamento e emergência), seis AR – autorápido (viatura L-200 com tração 4x4, podendo ser equipada para eventos de locais de difícil acesso), entre outras viaturas administrativas. Já acerca de equipamentos fomos contemplados com dois barcos de alumínio de seis lugares, dois barcos de alumínio de oito lugares, dois barcos infláveis com capacidade de 300kg, além de dois motores de popa de 15hp”.
Obras do PAC: “O rio está mais largo e com as laterais mais altas”O secretário de Projetos e Obras Especiais, Antônio Carlos Mendes Berbert, responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), informou que uma equipe está executando o projeto de canalização do rio, projeto este que, ao seu final, vai melhorar consideravelmente os efeitos da chuva.
“Nos dias de hoje, o rio já está com uma calha bem maior do que aquela de anos anteriores, porque nós viemos aumentando as paredes laterais com o rio mais aberto, e em função disso a quantidade de água que corre é maior, o que não significa dizer que não teremos enchentes, pelo simples fato de a obra não estar terminada. Iniciamos a obra em janeiro de 2009 e a previsão de término é dezembro de 2011, ou seja, são três anos de obras. Estamos prestes a terminar a parte de emparedamento lateral e começamos a fazer escavações em algumas partes do rio, e daqui a pouco vamos ter que escavar o mais pesado, que é uma parte de rocha no fundo do rio que é próximo a barragem do Catete.
Depois disso feito e o rio escavado, esperamos que as enchentes demorem alguns anos para acontecer, pois isso é uma coisa cíclica, que significa dizer: quando se faz um projeto de escoamento de água, temos que nos basear estatisticamente naquilo que aconteceu em anos anteriores. Com base nesses acontecimentos extrapolamos as obras e as previsões do que pode acontecer naquele período. Não é uma obra que vai resolver o problema eterno do rio, até porque o próprio rio ao longo dos anos vai crescendo seu fundo novamente, pois as águas que vem dos morros trazem um material sólido, e num determinado instante terá de ser feito novas dragagens.
Estamos fazendo também uma série de intervenções ao longo da calha do rio, principalmente no bairro do Prado, realizando drenagens superficiais para melhorar as condições das habitações do local. Em Conselheiro Paulino existem dois problemas fundamentais. O primeiro problema é o transbordamento do rio, e o segundo é que independente do transbordamento do rio quando chove muito, aquela região lateral tem pontos que são mais baixos do que o rio, enchem d’agua, e o sistema de drenagem é para minorar este problema também.
O rio hoje está mais largo, com as laterais mais altas, mas não significa dizer que hoje não temos mais problemas, mas esperamos que não tenhamos transtornos”.
Defesa Civil monitora áreas de risco: todo cuidado é pouco com os deslizamentos
Eloir Perdigão
Todo ano, quando chega esta época, tanto a população quanto a imprensa se referem aos temporais de verão relembrando as enchentes. No entanto, o coordenador de Defesa Civil, Roberto Robadey, afirma que, em Nova Friburgo, o problema maior não são as enchentes, mas, sim, os deslizamentos. Quanto à enchente, especificamente, o primeiro lugar atingido é Conselheiro Paulino, e ele espera que, com as obras do PAC, realizando a contenção das margens e alargamento da caixa do Rio Bengalas, este problema seja resolvido.
ENCHENTES
Os bombeiros sempre dão orientações sobre como agir em caso de enchentes nos meses de muita chuva. Elas podem ocorrer lentamente ou em poucos minutos. Normalmente carregam muita lama, lixo, pedras, madeira e até arrastam veículos. A regra básica é nunca construir em áreas sujeitas a enchentes ou alagamentos. As pessoas devem ficar atentas às notícias de rádio, TV, internet e jornais (A VOZ DA SERRA publica a previsão do tempo todos os dias, na capa). Em caso de enchente, a pessoa deve sair imediatamente da casa ou procurar andares mais altos. Se estiver em casa, deve desligar a energia elétrica e fechar os registros de água, a fim de preservar as tubulações das águas geralmente sujas das inundações. A pessoa não deve andar pela água, e se tiver de fazê-lo, deve usar um cabo de vassoura ou uma vara para verificar se o solo à sua frente é firme e raso. Ninguém deve dirigir em áreas inundadas, ou se a água tomar conta da rua, a pessoa deve abandoná-lo com segurança e seguir para algum lugar mais alto e seco.
Após a enchente todos devem evitar poças e trechos de ruas alagados, pois as águas podem estar contaminadas; devem ficar longe de linhas elétricas caídas e sair ou voltar para casa com segurança, de preferência quando as autoridades informarem que é seguro.
A preocupação com doenças deve ser constante. O cuidado com água e alimentos também ajuda a prevenir diarreia e outras doenças, como a leptospirose, transmitida pela urina do rato. Para prevenir a leptospirose, todos devem usar botas ou luvas de borracha ou mesmo sacos plásticos ao lidar com água de enchentes.
DESLIZAMENTOS
Para Roberto Robadey, o maior problema em Nova Friburgo são os deslizamentos de barreiras. Ele lembra que a maior tragédia até hoje no município ocorreu em 1979, quando morreram 64 pessoas, a maioria vítima de deslizamentos.
Segundo Robadey, a Defesa Civil tem desenvolvido um trabalho preventivo, como a remoção de mais de 50 famílias das 47 áreas de risco mapeadas, enquanto a outras são dados meios de se manterem no local com segurança, como o fornecimento de pluviômetros caseiros. No caso da marca atingir 80 milímetros, os moradores devem sair de casa.
O Plano Municipal de Prevenção de Riscos de 2009/2010 está sendo revisto e será apresentado na reunião do secretariado, convocada pelo prefeito em exercício, Dermeval Barboza Moreira Neto, para esta quarta-feira, 17. Trata da remoção e abrigo de moradores em áreas de risco. Os principais abrigos são as escolas. Por exemplo, o Loteamento Floresta tem 123 casas em área de risco, com 584 moradores. O abrigo determinado é a Escola Municipal Lafayete Bravo Filho. A ideia, segundo Robadey, é abrigar a pessoa antes que ela seja atingida. E a escola destina-se àquelas que não têm para onde ir, pelo tempo que for necessário. “As casas até podem ser atingidas, porém o objetivo principal é evitar mortes”, frisa o coordenador.
PROVIDÊNCIAS
Nesta época, a equipe da Defesa Civil está constantemente em estado de atenção ou alerta. Em caso de necessidade a Defesa Civil passa o aviso às diversas secretarias municipais, Departamento de Estradas de Rodagem (DER), concessionárias Rota 116, Energisa e Águas de Nova Friburgo e associações de moradores, além das emissoras de rádio.
Em 2009 a Defesa Civil fez 1.444 vistorias, mais do que os três anos anteriores juntos. Só em 2010 já são 817. No entanto, a Defesa Civil não se responsabiliza por obras. O setor supre a Secretaria Municipal de Projetos Especiais com as devidas informações a fim de que sejam captados recursos para as obras necessárias.
Por enquanto, a principal obra contra enchentes na cidade é a contenção das margens e alargamento da caixa do Rio Bengalas em Conselheiro Paulino. Considerada importante por Robadey, por julgar que dará maior vazão naquele distrito e, em consequência, o rio não deve transbordar em Duas Pedras e no centro da cidade, o que sempre dificulta o socorro e atrapalha o funcionamento normal da cidade.
“É uma obra grande, demorada, mas eu espero que resolva os problemas da cidade ou boa parte deles”, comenta Robadey.
O Plano Municipal de Prevenção de Riscos inclui as dez áreas mais críticas de Nova Friburgo. São necessários, só para estas áreas, cerca de R$ 18 milhões. Só na Vilage são previstos R$ 8 milhões. Em Riograndina estão previstos gastos de R$ 2,800 milhões. Os outros locais incluídos nesse plano são Lazareto, Cordoeira, Barroso (Olaria) Olaria I e Olaria II e Alto do Floresta.
O coordenador da Defesa Civil chamou a atenção para as pequenas intervenções que também se fazem necessárias pela cidade, citando o exemplo da Avenida Itália, no Centro, trabalho que ainda terá continuidade.
“Esse tipo de trabalho não cessa, pois sempre aparece alguma coisa não prevista”, observa. “Agora, por exemplo, há um trecho da estrada de Amparo que está merecendo as atenções”.
Essas pequenas intervenções a Prefeitura faz com recursos próprios, envolvendo drenagem, desobstrução de bueiros, construção de novos bueiros, entre outras. As maiores dependem de verbas federais ou estaduais, como contenções no Loteamento Floresta, com verba federal. A confirmar, o governo estadual deverá se responsabilizar pelas obras no Lazareto.
Para os próximos dias, há previsão de chuvas, que, segundo as previsões, devem ser consideradas normais. A expectativa de Roberto Robadey, baseado nos anos anteriores, é que as chuvas mais fortes devam ocorrer no final de dezembro e no mês de janeiro, podendo chegar a fevereiro.
Deixe o seu comentário