Há cerca de seis meses à frente do 11º BPM em Nova Friburgo, o comandante do Batalhão Tirdentes, coronel Paulo Roberto das Neves, falou com exclusividade para A VOZ DA SERRA sobre os desafios de combater o tráfico de drogas no município, a ocupação por tempo indeterminado do bairro do Alto de Olaria, operações emblemáticas como a ocorrida na Pedra do Imperador, onde jovens em fuga tiveram que ser resgatados, projetos sociais e a polêmica no carnaval.
AVS: No dia da sua posse o senhor disse que a principal meta era combater o tráfico de drogas. Qual o balanço desses primeiros seis meses a frente da corporação?
Coronel Paulo Roberto das Neves: O quantitativo de drogas é muito grande. Em uma “pancada” só conseguimos apreender quase 100 quilos de drogas uma semana antes do carnaval. Todos os dias temos ocorrências de elementos sendo levados para a delegacia por conta do tráfico. A apreensão de armas tem sido volumosa também. Só nos meus primeiros três meses de comando foram mais de 100 armas apreendidas. Nós estamos combatendo não só o tráfico de drogas, mas tudo que gira em torno dessa atividade.
O senhor percebe se há fuga de bandidos da capital e outras cidades para Nova Friburgo?
Em algumas ocorrências detectamos, principalmente no Alto de Olaria, elementos, presos por nós, originários do Rio de Janeiro. Nós já percebemos que uma vez ou outra essas pessoas tentam se estabelecer na nossa região, mas nosso efetivo trabalha diariamente para mostrar que aqui eles não terão vida fácil, assim como os próprios elementos daqui da cidade.
A geografia de Friburgo, com muitos morros, é um atrativo para esses criminosos?
Sim. Quando existem locais como há em Nova Friburgo, onde o bandido pode se esconder da polícia, sem dúvida ajuda, mas outro atrativo é o consumidor de drogas. Sem ele, não teríamos gente vendendo drogas na cidade. O que nós como policiais temos que fazer é limitar a chegada de drogas. Repetindo o que disse seis meses atrás, nós estamos aqui para não deixar que a cidade vire um antro de bandidos.
Talvez o caso mais emblemático nesses seis meses tenha sido ação na Pedra do Imperador. Como o senhor orquestrou toda a operação para que tudo desse certo?
Nós buscamos sempre prender o criminoso. Quando há troca de tiros, pode ter certeza que só atuamos dessa forma caso não haja nenhuma outra possibilidade. O que aconteceu naquele caso é que certamente eles tinham algo de irregular e empreenderam fuga para a mata, porque ninguém foge da polícia se estiver com tudo certo. A partir desse momento a questão policial deixou de existir e a prioridade passou a ser o resgate dos jovens, tendo um deles, infelizmente, escorregado e morrido. Entramos em contato com o Corpo de Bombeiros, com ajuda do Centro Excursionista e pessoas capacitadas, tendo êxito no resgate. A grande questão é: o ideal é que tenhamos uma localidade em que as pessoas de bem possam viver o dia a dia sem a ação desses elementos. A questão das drogas afronta a população de bem. O morador de certa localidade, pode achar que sair para levar o filho na escola e ver alguém vendendo droga, mesmo sem estar armado, é normal. Só de estar desarmado, é menos mal. Não existe o “menos mal”, existe o ilícito que está sendo cometido ali.
O Alto de Olaria é um bairro que exige mais atenção da PM no momento…
Hoje nós estamos com uma ocupação 24 horas no Alto de Olaria, mas estamos monitorando todas as áreas, justamente para identificar se há fuga desses elementos para outras áreas. Estamos em contato com o Batalhão do Rio de Janeiro para saber o que pode estar vindo para cá. Toda a movimentação de meliantes a gente monitora. Desde a saída do Rio de Janeiro até aqui.
Há projetos sociais da PM em prática hoje? Eles podem ajudar a mostrar, principalmente aos jovens de comunidades, que o policial é um amigo…
Há dez anos temos o projeto Gol de Placa, em que crianças de várias comunidades vem para o quartel jogar futebol, aos fins de semana, com a orientação do professor Alex. Aqui, através do esporte, eles têm o entendimento do que é ordem, disciplina, respeito, criam a consciência de grupo, o que contribui para afastar qualquer possibilidade deles entrarem para o crime. Fora isso, temos o Proerd, um projeto de muitos anos em que policiais estão nas escolas mostrando os malefícios das drogas, orientando os jovens a não fazer uso. Nós temos um projeto para ser colocado em prática em breve para trazer crianças aqui para o quartel. As crianças vão passar um dia aqui, vão conhecer como funcionam as coisas, vão conhecer a sala de operações, ganharão lanches. Também vamos voltar, mas ainda sem data definida, com o projeto Cidade do Trânsito, que serve para educar de forma lúdica as crianças sobre as leis de trânsito.
Qual é a atuação da PM junto ao programa Cidade Inteligente, da prefeitura?
Nós estamos aqui para apoiar e ajudar no monitoramento das vias, só que nós como polícia precisamos ter um foco um pouco diferente. Eu tenho feito contatos com pessoas da região, com o Conselho de Segurança e estamos fazendo um remanejamento da nossa sala de operações para reestruturar também a central 190. É importante ter alguém nosso dentro da prefeitura, mas o foco muitas vezes não é a criminalidade. Exemplo: uma câmera que funciona para a Defesa Civil, não tem a mesma função para nós da polícia. O que eu preciso é que o meu policial ao suspeitar de uma atividade ilícita pela câmera, possa acionar uma guarnição a fim de apurar essa atividade. Atrelado a isso, empresários da região e moradores vão disponibilizar seus links para que nos ajudem no monitoramento e isso vai nos ajudar a mapear a região. A ideia é fechar a cidade com essa rede de monitoramento e disponibilizar viaturas em locais onde haja necessidade.
Qual o planejamento do comando do 11ºBPM para o Trailer Móvel?
Quem pede a volta do Trailer Móvel, geralmente quer um aumento no policiamento daquela região. E nós estamos colocando esse policiamento nas ruas. Estamos com policiais do RAS (Regime Adicional de Serviço) que utiliza o policial que está de folga no patrulhamento remunerando-o com horas extras. A questão hoje não é falta de policiamento e sim a visualização do trailer. O trailer precisa estar à disposição da corporação para determinados tipos de ação. Nós estamos ocupando o Alto de Olaria e precisamos dele como posto de comando. Quando colocamos na praça havia uma certa urgência, após um período a situação foi normalizada e retiramos ele para outra localidade. O trailer vai ficar no Alto de Olaria por tempo indeterminado e se tiver que ser permanente, dentro do meu comando, vou deixá-lo lá.
Qual o contingente oficial do batalhão?
O previsto são 600 homens, temos em torno de 400 prontos, mas com o RAS, chegamos próximos aos 600.
Qual é a orientação dada aos agentes diante das manifestações seja pró ou contra o governo federal?
A Polícia Militar, como corporação, não está direcionada para lado nenhum. Temos que trabalhar e fazer o que é correto para nós e para a população. Pegando um gancho na sua pergunta, tivemos um entrevero no carnaval e tenho aqui pela primeira vez a oportunidade de falar. Previamente me reuni com os oito prefeitos para dizer que existe o decreto estadual 44617 que versa sobre todo e qualquer evento que aconteça na área de policiamento, ou seja, não existe evento que não tenha autorização do comandante da polícia. O que ficou combinado: até às 2h da madrugada iria acontecer o carnaval. Após esse horário encerraria-se o som e todos tipos de manifestações carnavalescas. Um bloco, não autorizado (mas que se tivesse pedido até eu teria dado a autorização), que eu nunca tinha ouvido falar, chegou às 3h da madrugada na Rua Portugal promovendo uma manifestação. Se quisesse fazer qualquer tipo de manifestação política dentro do horário estabelecido, poderia fazer sem problema algum. Não nos interessava saber o conteúdo da manifestação, se era pró ou contra governo e sim que ela estava sendo realizada às 3h da madrugada e que a ordem pública estava sendo desrespeitada. Falaram que policiais usaram de força para conter quem estava no local e só depois de 43 horas que fizeram o registro. Aí faço um questionamento: será que a questão política está sendo usada de forma errada contra a corporação? Usar a PM para fazer plataforma política eu não concordo. Se não querem que a PM tenha um posicionamento político, não nos envolva nisso. Até porque, tivemos uma chamada do 190 para ir até a Rua Portugal, por conta do barulho. Os policiais não foram lá porque estavam xingando o presidente da República.
Apesar de tantas ações contra o tráfico de drogas e das ações no Alto de Olaria, o senhor considera Nova Friburgo uma cidade pacífica?
Sim, pacífica. Quando eu assumi o comando disse que a minha missão era não deixar que a cidade tenha um índice de criminalidade alto e usei o termo “Não vou deixar vagabundo vir pra cá”. A minha missão continua a mesma. Claro que a cidade tem seus problemas. Tem a questão das drogas e é importante ressaltar que enquanto houver gente consumindo, tem gente vendendo e nós vamos combater isso.
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