Estação Livre: obras podem ter alterado características originais do prédio tombado

Remodelação do pátio externo e construção de cobertura na antiga rodoviária urbana foram interrompidas por ordem do Iphan
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
As obras na Estação Livre (Fotos: Henrique Pinheiro)
As obras na Estação Livre (Fotos: Henrique Pinheiro)

Quase quatro meses após o início da remodelação do pátio externo e da construção de uma cobertura anexa à Estação Livre (antiga rodoviária urbana), na Praça Getúlio Vargas, as obras foram paralisadas, na última quinta-feira, 24, por determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Prefeitura de Nova Friburgo iniciou as obras, em julho, sem a aprovação do órgão, que é o responsável pela preservação de bens tombados. 

“O prédio faz parte do entorno da praça e, como tal, não pode sofrer alterações que mudem sua volumetria (conjunto das dimensões que determinam o tamanho de uma construção, dos agregados, da terra retirada ou colocada no terreno) e que, eventualmente, venham a prejudicar a leitura visual do bem tombado. Assim, intervenções em áreas de entorno têm que ser aprovadas pelo Iphan”, explicou o instituto, que na quinta-feira recebeu o projeto da Estação Livre para análise. Não há previsão para o parecer final do órgão. 

Nesta sexta-feira, 25, A VOZ DA SERRA perguntou ao governo municipal por que as obras na Estação Livre, atualmente chamada de Centro Cultural César Guinle, começaram sem a autorização do órgão que cuida do patrimônio material e imaterial do país. A questão, no entanto, não foi respondida. Em nota, a prefeitura informou apenas que agendou uma reunião com o Iphan para apreciação do projeto da Estação Livre na próxima semana. 

“Quanto ao tombamento, o espaço está incluído no conjunto arquitetônico da praça tombado pelo instituto. A rodoviária anterior, construída na década de 1950, já existia no local à época do tombamento, ocorrido na década de 1970. Inclusive, houve autorização prévia do Iphan para que o então prefeito, Heródoto Bento de Mello, construísse o terminal César Guinle, que antecedeu a Estação Livre. Os documentos referentes a essa autorização para construção estão apensados ao processo de tombamento no órgão”, comentou o governo em nota.

Pacotão de obras 

As obras na área externa da Estação Livre fazem parte do “pacotão de obras” anunciado pelo prefeito Renato Bravo em fevereiro. Na época, Bravo disse que o projeto não iria alterar a estrutura do prédio. “Esse é um projeto que foi pensado para dar mais comodidade para a população que utiliza o local para embarque e desembarque do transporte coletivo. Ele não mexe com a estrutura da estação, o que será feito é uma ampliação da cobertura nas laterais e também melhorias no entorno”, afirmou em entrevista para A VOZ DA SERRA, na época. 

As intervenções na Estação Livre começaram no dia 4 de julho, no lado Norte. No local, a construtora fez a remodelação do pátio em um formato que, segundo a prefeitura, facilitará as manobras dos ônibus, agilizando o embarque e desembarque de passageiros. A estrutura da cobertura, que vai proteger os usuários em o todo o trecho do pátio, também está quase concluída. Nesta sexta-feira, 25, no entanto, a equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA viu homens trabalhando no local, apesar do anúncio de que as obras teria sido interrompidas.  

Por causa das obras, os ônibus que vêm da região Norte da cidade, que inclui os distrito populosos de Conselheiro Paulino, Campo do Coelho e Riograndina, estão parando, temporariamente, na Rua Sete de Setembro. Já no lado Sul da Estação Livre, o embarque e desembarque de passageiros continua sendo feito normalmente. As obras nesse lado já deveriam ter começado, pois a previsão de conclusão dos serviços em toda a antiga rodoviária urbana era 8 de  dezembro deste ano. A obra vai custar R$ 1.032.184,16 ao município. 

Manejo da praça

Enquanto as obras na Estação Livre são paralisadas, os serviços de manejo da Praça Getúlio Vargas devem ser retomados em breve. Na última semana, a prefeitura firmou com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) contrato para a produção de um relatório técnico com diagnóstico fitossanitário dos eucaliptos da praça. 

O documento, que aponta o estado de saúde das árvores centenárias, é fundamental para as corretas ações de manejo do espaço, tombado como patrimônio histórico. A Universidade Rural deve concluir o relatório no início do próximo ano. 

O relatório técnico é crucial para que a Prefeitura de Nova Friburgo dê continuidade aos planos de reforma da principal praça da cidade, cujas ações foram interrompidas em janeiro de 2015, quando uma operação de poda e cortes dos eucaliptos, realizada pela gestão anterior da prefeitura, alterou características originais do espaço, gerando críticas. Na ocasião, árvores foram cortadas sem necessidade e o caso foi parar na Justiça. 

Na última semana, a prefeitura também divulgou no Diário Oficial eletrônico o resultado do pregão para compra de motosserra, motopoda, roçadeira e caçamba, equipamentos que serão utilizados no serviços de manejo da Praça Getúlio Vargas, conforme determina o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado com o Ministério Público Federal (MPF). Está prevista ainda a aquisição de novo mobiliário para a praça e instalação de novos equipamentos de iluminação nas alamedas. 

 

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