Vinicius Gastin
Cento e oitenta pessoas que fazem a diferença através do futebol e apostam no esporte como fator de desenvolvimento social em todo o mundo. Estes profissionais estiveram reunidos no 2º Fórum Football for Hope da Fifa, realizado em Belo Horizonte entre 26 e 29 de junho. Durante os quatro dias foram feitas apresentações, exposição de painéis e oficinas lideradas por representantes de organizações populares, instituições esportivas e de desenvolvimento e corporações globais. Entre os assuntos discutidos, a contribuição do futebol para a inclusão social e o legado da Copa do Mundo no Brasil foram os destaques. E entre os projetos selecionados para participar do evento estava o Gol de Placa.
"Pudemos trocar experiências, conhecer outros projetos de vários lugares do mundo, de países africanos, e lugares como Israel. Pudemos atestar que estamos no caminho certo, mantendo o foco correto”, comenta Alex Carvalho, coordenador do projeto de Nova Friburgo.
O fórum contou com a presença de líderes e militantes de movimentos diversos, representando organizações e projetos sociais de mais de 50 países. As experiências foram trocadas no bate-papo do dia a dia. Alguns projetos, inclusive, comprovaram que nem sempre se faz necessário o uso de um espaço esportivo para o desenvolvimento das atividades. "Conhecemos, por exemplo, o Futebol Três Tempos e o Street Ball. Essa foi uma metodologia desenvolvida para usar o futebol como contrapartida, onde as regras são estabelecidas, o jogo vem no segundo momento e na terceira fase acontece uma análise sobre o que foi colocado no primeiro momento. O debate é feito e o cumprimento ou não das regras é discutido”, conta.
Na sessão de abertura, o diretor de responsabilidade social corporativa da Fifa, Federico Addiechi, e três delegados brasileiros discutiram as origens dos recentes protestos. De acordo com a análise, o desafio consiste em utilizar a força do futebol para enfrentar as desigualdades e injustiças sociais. As oficinas contemplaram assuntos variados, desde a promoção da igualdade entre os gêneros até o desenvolvimento de estratégias de comunicação, a partir dos exemplos práticos. Em Israel e na Palestina, a Fundação Shimon Peres trabalha reunindo jovens das duas comunidades para jogar futebol, e os conflitos são amenizados através do futebol.
A Tackle África trabalha nos quatro cantos do continente africano e educa jovens a respeito do HIV. O projeto desenvolveu sessões de treinamento onde o jogador passa a ser o vírus, e a bola torna-se a camisinha. Se você está com a bola, não pode ser tocado pelo vírus. Indiretamente, a discussão sobre o assunto acontece através do esporte.
Na Índia, a Fundação Oscar usa o futebol como ferramenta em algumas das regiões mais carentes do país. "Os técnicos perguntam: se abrirem 1x0 em dez minutos, vocês param de jogar? A resposta é a seguinte: ‘Mas faltam 80 minutos, ainda podemos marcar dois gols’. O mesmo vale na escola. A criança reprovou no exame, perdeu aulas, mas tem o resto da vida pela frente e ainda pode terminar os estudos”, destaca Alex, recordando o trecho de uma das palestras. Através deste trabalho, muitos jovens da região tribal de Orissa e das favelas de Mumbai voltam à escola e buscam novas metas pessoais.
A Colombianitos integra meninas aos programas de futebol e educação e agrega também as mães. No Quênia, a Mysa vincula a classificação dos times no campeonato ao envolvimento na coleta de lixo e na limpeza de bueiros. Desta forma, o destino de milhares de jovens em todos os continentes do planeta ganha um novo rumo.
Projetos serão contemplados no Brasil
O programa Football for Hope, desenvolvido pela Fifa desde 2005, já beneficiou mais de 250 programas em 60 países. Atualmente, cinco organizações brasileiras recebem o apoio: Companheiro das Américas (Curicica/RJ), Formação – Centro de Apoio à Educação Básica (São Luís/Maranhão), Fundação Eprocad (Santana de Parnaíba/São Paulo), Rio Grande do Sul ACM (Porto Alegre) e Instituto Fazer Acontecer (Salvador).
A ideia é expandir a área de atuação no Brasil, e um estudo foi encomendado para localizar e analisar organizações que utilizam o futebol como ferramenta para lidar com os desafios sociais. O objetivo final é atingir um total de 45 projetos no país. "Colocamos as nossas necessidades e dificuldades e percebemos que todos nós estamos no mesmo patamar. Deu pra perceber que a Fifa quer deixar um legado na Copa de 2014, uma continuação além do mundial.”
A resposta oficial sairá em setembro, quando a Fifa divulgar os projetos aptos a receber o selo e os recursos da entidade máxima do futebol mundial. A partir da escolha acontece o processo de alinhamento de contratos, documentação e formalização dos termos combinados no momento da inscrição. No dia 31 de dezembro a verba prometida estará na conta da instituição. "Acho que temos grandes chances, pois restam 40 vagas para serem distribuídas. Mas só o fato de o Gol de Placa, de uma cidade do interior do Rio de Janeiro, ter sido descoberto na internet e incluído no grupo de projetos que visam a formação de cidadãos, e não de atletas, já é algo fantástico”, diz Alex.
Novas parcerias em vista
Enquanto aguarda a resposta oficial, Alex Carvalho vibra com a oportunidade de dividir as experiências e revela que algumas parcerias foram feitas durante o encontro. O Gol de Placa estará visitando outros projetos em breve e, em contrapartida, receberá a visita dos mesmos. A troca de informações e métodos poderá enriquecer ainda mais o trabalho realizado pelas instituições.
"Fizemos amizade com um projeto do Rio Grande do Sul e eles nos convidaram para uma visita. Nós não temos condições de ir até lá, mas eles possivelmente virão até aqui. É um projeto que faz intercâmbio com o Uruguai, são pessoas que estão bem à frente nessa parte de intercâmbio. Conversamos com um outro projeto, de São Paulo, e dois do Rio de Janeiro, com quem o Gol de Placa pretende desenvolver parcerias e realizar visitas. Um deles, inclusive, vai se tornar nosso parceiro. Nós deveremos utilizar uma ferramenta que eles criaram”, revelou.
Federico Addiechi, diretor de responsabilidade social corporativa
da Fifa, aposta no futebol para enfrentar as desigualdades sociais
O fórum reuniu representantes de variados projetos
de todo o mundo e o Gol de Placa esteve presente
Marcelo, Jorginho e Alex: ex-técnico do Flamengo ministrou uma das palestras
Oficinas trabalharam diversos assuntos
relacionados ao futebol e à inclusão social
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