Por Alessandro Lo-Bianco
Telefones móveis, cuecas apertadas, excesso de peso, tabagismo, abuso de álcool, excesso de exercícios físicos: todos já foram apontados como fatores que interferem na fertilidade masculina.Um novo estudo, recentemente publicado na revista Fertility and Sterility, sugere que as ondas de rádio Wi-Fi também podem afetar negativamente a motilidade dos espermatozoides e causar danos à fragmentação do seu DNA. “Como é muito comum encontrarmos informações conflitantes, além de muitos mitos, sobre os fatores que afetam a fertilidade masculina, reunimos algumas considerações relevantes sobre o tema”, explica o urologista Sidney Glina, diretor do Projeto Alfa—Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida.
IDADE
Antigamente, acreditávamos que os homens mantinham-se igualmente férteis ao longo de suas vidas. Mas pesquisas recentes já fazem os urologistas acreditarem que a qualidade e a quantidade do esperma declinam lentamente, pois quando os homens envelhecerem apresentam uma diminuição na produção de testosterona. A fertilidade masculina diminui progressivamente após os 50 anos de idade. “A maioria dos homens segue fértil até morrer, mas cerca de 20% passa a ter uma produção diminuída de espermatozoides. Além disto, nos gametas de homens com mais de 50 anos encontramos mais alterações genéticas do que nos gametas de homens mais jovens. No entanto, não temos evidências para afirmar que a idade do pai está ligada a problemas futuros no desenvolvimento infantil, tais como dificuldades de aprendizagem da criança”, afirma Sidney Glina.
ÁLCOOL
O álcool afeta a capacidade do organismo de absorver zinco, um nutriente vital para obtermos espermatozoides saudáveis. As pesquisas sugerem que beber moderadamente não provoca efeitos nocivos sobre a quantidade ou a qualidade dos espermatozoides. “No entanto, muitos estudos comprovam que o consumo excessivo de álcool reduz a contagem de espermatozoides. Em relação às bebidas alcoólicas, moderação é a palavra chave”, aconselha o urologista.
ANTIOXIDANTES
Os problemas de fertilidade, em alguns homens, podem estar associados ao estresse oxidativo, desequilíbrio entre a formação e a remoção de agentes oxidantes do organismo, decorrente da geração excessiva de espécies reativas de oxigênio (EROs) e/ou diminuição de antioxidantes endógenos. “O estresse oxidativo está ligado ao estilo de vida de cada um. Assim, o excesso de peso, o álcool, a dieta, a poluição e o tabagismo podem contribuir para uma deterioração celular mais rápida. Alguns estudos têm demonstrado que homens com problemas de fertilidade que tomam suplementos antioxidantes (vitamina E, vitamina C, ácido fólico), bem como óleos de zinco e de peixe, aumentam suas possibilidades de conceber, mas isto não está completamente comprovado. De qualquer forma, é importante dizer que estes suplementos dietéticos também precisam de supervisão médica para serem ingeridos com segurança”, observa o diretor do Projeto Alfa.
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL
Em 2009, o Vaticano publicou um relatório afirmando que a infertilidade masculina tinha aumentado por causa dos hormônios femininos sintéticos da pílula. O documento alegava que os hormônios femininos liberados nos sistemas de esgoto encontravam seu caminho para o fornecimento de água e prejudicavam vários homens. “O relatório do Vaticano é visto com ceticismo por muitos cientistas, que defendem que o sistema digestivo do corpo absorve o estrógeno, por isso, é pouco provável que o hormônio da pílula seja liberado no meio ambiente, prejudicando a fertilidade masculina”, explica Sidney Glina.
DIETA
Uma dieta saudável “ajuda a manter” os espermatozoides saudáveis. Mas há poucas evidências de que dietas vegetarianas ou dietas ricas em proteínas tenham qualquer efeito sobre a capacidade de concepção. “Não há verdade na alegação de que os consumidores de carne são mais viris. Substâncias químicas chamadas fitoestrogênios, que são encontradas em alimentos como café, soja e cerveja, têm sido associadas à uma baixa contagem de espermatozoides, mas o link não está estabelecido”, diz o urologista.
EXERCÍCIOS FÍSICOS
Homens que se exercitam tendem a ser mais saudáveis, o que se reflete na qualidade do esperma. “Mas a prática esportiva excessiva, especialmente em combinação com o uso de esteroides, anabolizantes e outras drogas ilícitas, pode diminuir a produção de testosterona e a contagem de espermatozoides”, afirma o médico.
CALOR
Há evidências de que manter os testículos aquecidos reduz a contagem de espermatozoides. “Alguns autores acreditam que o uso do laptop no colo poderia prejudicar a capacidade de conceber, não devido à transmissão de sinais Wi-Fi, mas por causa do calor gerado pelos computadores portáteis. Esta informação ainda precisa ser comprovada, pois, no passado, achava-se que cuecas justas e banhos de sauna levavam à infertilidade, fatos que nunca foram comprovados”, comenta o urologista.
INFECÇÕES
Infecções sexualmente transmissíveis não tratadas podem ser causa de infertilidade masculina. “A gonorreia pode afetar a fertilidade masculina, pois quando não tratada pode levar ao estreitamento da uretra e dos canais que conduzem os espermatozoides. Infecções virais como a caxumba também podem provocar danos permanentes aos testículos e levar à esterilidade masculina. Portanto, o uso do preservativo é algo altamente recomendável, bem como uma carteira de vacinação em dia, para proteger-se contra a caxumba”, aconselha o médico.
DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS
Inúmeros dispositivos eletrônicos, incluindo televisores, máquinas de lavar e dispositivos Wi-Fi, emitem ondas de baixa energia, a radiação não ionizante. “São muitos os estudos que investigam as possíveis ligações entre a radiação não ionizante e os problemas de fertilidade masculinos. Até agora, as evidências não conseguiram relacionar efeito e causa. Os telefones celulares também têm sido associados à uma baixa contagem de espermatozoides em alguns estudos, mas muitos cientistas permanecem céticos a este respeito”, informa o urologista.
PESTICIDAS E POLUENTES
Uma série de produtos químicos—solventes e pesticidas—tem sido associada a problemas de fertilidade masculina, mas as evidências sobre isto são poucas. “Alguns estudos têm demonstrado que a exposição regular a pesticidas pode afetar a qualidade e a quantidade de espermatozoides de trabalhadores agrícolas. Homens que trabalham na construção civil podem duplicar o risco de problemas de fertilidade devido ao contato com um solvente encontrado em tintas, adesivos e revestimentos. Assim, profissionais que trabalham diariamente expostos a produtos químicos precisam estar cientes dos riscos inerentes a esta função e usar vestuário de proteção adequado”, recomenda o médico.
RADIAÇÃO
Um baixo nível de radiação ionizante é encontrado no ambiente natural e é inofensivo. Já níveis mais altos de radiação produzidos por materiais como urânio e plutônio, raios cósmicos vindos do espaço, raios X e radioterapia podem danificar o material genético das células, representando um risco para a fertilidade masculina. “Há poucas evidências de que as viagens aéreas frequentes ou a proximidade a uma estação de energia nuclear possa ter qualquer efeito sobre o esperma. Mas, se o seu trabalho significa que você está em risco de exposição à radiação, proteção adequada deve ser observada”, afirma Sidnei Glina.
USO RECRATIVO DE DROGAS
Alguns estudos sugerem que o consumo regular de drogas como maconha e cocaína pode prejudicar a fertilidade masculina. A maconha parece ter um efeito dramático sobre os espermatozoides, dificultando sua locomoção e sua chegada ao óvulo. “Alguns medicamentos prescritos regularmente também podem afetar negativamente a fertilidade masculina. É importante conversar com seu médico sobre os efeitos da medicação que você toma regularmente”, informa o urologista.
TABAGISMO
Homens que fumam—entre um ou dois maços por dia—são mais propensos a apresentar anormalidades no esperma, mas o efeito sobre a fertilidade não é clara. “Os efeitos do tabagismo são controversos, mas há efeitos irrefutáveis do ato de fumar sobre a qualidade do esperma. Há também alguma evidência de que crianças, cujos pais eram fumantes inveterados, possam ser mais suscetíveis à leucemia”, conta o urologista.
ESTRESSE
O estresse pode causar alterações hormonais que podem afetar a fertilidade, mas esta relação ainda está longe de ser comprovada. “Não conheço nenhum estudo mostrando que o estresse está diretamente relacionado à produção de espermatozoides. O estresse pode afetar a forma como você se relaciona sexualmente”, informa Sidney Glina.
PROBLEMAS DE PESO
O sobrepeso e a obesidade têm sido associados, em alguns estudos, com a baixa qualidade do esperma. “Os cientistas acreditam que isso acontece porque o estrogênio, geralmente presente em níveis baixos nos homens, pode ser liberado a partir de células de gordura, afetando a fertilidade masculina. Homens obesos também apresentam um aumento da temperatura testicular, o que também pode afetar a fertilidade masculina”, diz o urologista.
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