Todos os dias nos falamos. Um “bom dia” beeeem cedinho, lá pelas seis da manhã; uma foto no meio da tarde; e o obrigatório, mas totalmente espontâneo, “eu te amo” antes de dormir. Há pelo menos um ano e meio vivemos na saga: um fim de semana eu vou, no outro ele vem. Convivemos diariamente com a expectativa da chegada do sábado, não só pela folga do trabalho ou dos afazeres de rotina, mas pelo desejo de matar aquilo que nos consome cinco dias por semana: a saudade. Entre nós há pouco mais de 53 quilômetros, quatro pedágios (considerando ida e volta), três municípios e dois distritos. Há também os compromissos da vida adulta que a gente não pode faltar e que tornam a distância ainda maior. O meu emprego e o trabalho dele. Rafael mora em Cantagalo. Eu, a repórter, em Nova Friburgo. Assim que nos conhecemos ele achou que a distância seria um problema. Sem segundas intenções, eu não titubeei: “Longe é o Japão!”
A distância e a saudade são uma realidade para muitos casais. Enquanto muita gente acredita que namorar de longe é sinônimo de dificuldade, há quem afirme que esse tipo relacionamento pode dar certo se ambos estiverem dispostos a fazer o romance acontecer. Prova disso é o casal Marcelo Santos Leal, 47, e Débora Schausse de Paula, 34. Eles se conheceram em 27 de dezembro de 2003, em uma noite atípica, como destaca Débora.
“Eu tinha acabado de sair de um relacionamento (havia 3 meses) e estava literalmente com o coração fechado. Tinha combinado de passar o fim do ano com minha irmã, em Rio das Ostras, e por pouco não desisti. Fui porque minha mãe insistiu muito para eu fazer algo para me distrair”, conta. “Uma noite, passeando com minhas duas sobrinhas pequenas, ele (Marcelo) veio até mim com um jeitão marrento, de badboy, playboy. Estavamos as três sentadas num banquinho na beira da praia. Ele me perguntou se eram minhas filhas e uma delas, brincando, respondeu que sim. Ele fez muito elogios e nos perguntou se poderia nos acompanhar até em casa. Fiz que sim com a cabeça, sem imaginar o quanto minha vida mudaria a partir dali”.
Marcelo voltou para São Paulo, onde mora, e Débora, para Nova Friburgo. O namoro à distância começou pouco depois. “Ele ia na minha casa a cada 15 dias, às vezes eu na dele. Nos falávamos muito por telefone e a primeira conta veio mais de R$ 800. Um susto e tanto (risos). Por conta dos gastos com viagens e a comunicação, com seis meses de namoro ele comentou: “Sai mais barato a gente casar”. E assim foi.
Em fevereiro de 2006, após um ano de namoro à distância, com poucos encontros, eles se casaram. O registro civil da união foi feito em São Paulo e a cerimônia religiosa, em Friburgo. “Completamos 11 anos de casados e temos uma filha, chamada Esther, de 6 anos. O que podemos dizer é que, quando se ama, dá sim para namorar à distância, ser fiel e viver uma linda história de amor”. Débora e Marcelo moram atualmente em São Caetano, em São Paulo.
Morando no 1001
João Gabriel Abrunhosa Pessoa, 29, e Nicole D'Halvor Sollberg, 28, conheceram-se em maio de 2015, pelo Facebook. Trocaram mensagens todos os dias, durante quase dois meses, até ele decidir subir a Serra e embarcar numa história de amor. João é carioca, estudante de Educação Física e Nicole, empresária friburguense. “Nos falávamos muito. Mas, comportados. Nada de nudes!”, conta ela, enquanto ele explica: “A gente falava mesmo é sobre comida”.
João veio para São Pedro da Serra, em 17 de julho daquele ano, e marcou um encontro com Nicole para o dia seguinte. O ponto de encontro seria a antiga rodoviária urbana, onde hoje funciona a Estação Livre. Nicole conta que estava em Mury e pegou um ônibus para o Centro. Durante o trajeto trocou mensagens com João, dizendo onde havia passado e em quanto tempo chegaria. “Quando o ônibus parou na rodoviária, fui andando até a porta e vi um rapaz perguntando algo a outro homem. Era o João. Estávamos no mesmo ônibus, sem saber! Cheguei perto deles e interrompi a conversa, explicando que a ajuda não seria mais necessária. Foi ali, no ônibus, o nosso primeiro encontro”. Desse dia em diante, os dois tentaram se encontrar todos os fins de semana. Na maior parte das vezes, quem vinha era João, que brinca: “Fiquei morando, mais de um ano, no 1001. Conheço o cheiro daquele desinfetante como ninguém!”, ri.
Nicole revela que no início do relacionamento os dois lidavam bem com a distância e a saudade. Isso até João passar 30 dias de férias na casa dela. “Foi aí que percebemos que não dava mais para continuar. Percebemos que precisávamos estar próximos e nos ver com mais frequência”, diz ela. Por isso, um ano e quatro meses depois de muitas idas e vindas, João transferiu algumas matérias da faculdade para Friburgo. Passava quinta, sexta, sábado e domingo na Serra, e os outros dias no Rio. Ainda sim, não era o suficiente. “Conversei com meus pais, disse o quanto a cidade aqui é bacana e os convenci a se mudar, junto comigo, para cá. E, por conta de um grande amor, a família inteira veio morar em Nova Friburgo no início deste ano”, afirma João, aliviado de não precisar passar mais tantas horas na poltrona do ônibus e ter Nicole sempre pertinho.
Separados pelas curvas e montanhas
Os estudantes Carolina dos Santos Bianchini, 23, e Gabriel Alencar Santos de Amorim, 25, também são protagonistas de uma história de amor à distância. O relacionamento, que já dura cinco anos, teve início em uma mesa de um bar no Suspiro. “Por causa de amigos em comum, sentamos juntos, trocamos contato e ele me adicionou no Facebook. Conversamos e nos aproximamos muito rápido, pisquei e estava na casa dele, sendo apresentada aos seus pais. Dois meses depois, ele me pediu em namoro, aceitei, e ele foi à minha casa pedir, oficial e formalmente, aos meus pais”, diz ela.
Os dois são friburguenses. A distância não seria problema. Certo? Errado. Naquele ano, Carol havia passado para o curso de Psicologia da UFF em Rio das Ostras e Gabriel já cursava Engenharia na Uerj, em Nova Friburgo. “Era tudo muito novo, nenhum de nós sabia como era namorar à distância. A gente foi construindo isso juntos. Por causa dos gastos com passagem e também os trabalhos e provas da faculdade, já chegamos a ficar um mês sem nos ver. Seria hipocrisia dizer que foi fácil porque a saudade era grande. Já começamos a namorar com a distância de 2 horas e 30 minutos de curvas e montanhas”, conta ela, acrescentando: “Após cinco anos juntos, estou terminando a faculdade e a distância ainda existe, mas o amor e a vontade de estar juntos são ainda maior. Só tenho a agradecer pelo companheirismo e o carinho nesses anos e não teria melhor jeito de homenagear nossa trajetória do que uma matéria no jornal, ele vai ficar bobo”, diz ela.
Amor de verão também sobe a Serra
Embalados pelos encontros e despedidas, Joana Schuenck, 22, formada em Relações Internacionais, e Gabriel Moreira, 21, estudante de Engenharia Civil, também vão construindo sua história. Ela mora em Friburgo e ele, em Niteroí. Conheceram-se lá, na Praia de Icaraí, no último réveillon, auge do verão. Passaram três dias juntos e tiveram que dizer o primeiro, de tantos, “até breve”.
O reencontro aconteceu quase dois meses depois, no carnaval, quando Gabriel pediu Joana em namoro. “No início não sabíamos como seria a construção desse relacionamento à distância e com que frequência nos veríamos. Combinamos de nos ver de 15 em 15 dias, mas, logo no primeiro fim de semana longe, descobrimos que não dava para esperar tanto assim. Quinze dias pareciam a eternidade!”
Joana comenta ainda: “Algumas pessoas perguntam como aguentamos uma relação assim ou por que não namoramos alguém da nossa cidade, pois seria bem mais fácil. Mas amor não se escolhe e, como diz aquela famosa frase, distância não significa nada quando alguém significa tudo”.
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