PAIS AVENTUREIROS
Allan Nogueira de Lima, 48 anos (por ele mesmo): “Meu filho sempre foi um companheirão das minhas aventuras”
“Desde a garupa de moto, pedaladas em bicicleta, torneios esportivos, escaladas em montanha, Rafael sempre foi um companheirão das minhas aventuras. Aventura entendida como sinônimo de proeza, façanha. Foram empreendimentos ousados, em situações incríveis, algumas fora do normal.
Das inúmeras proezas vividas junto ao Rafael, há histórias repletas de emoção que nos trouxe aprendizados, compreeensão e superação de limites.
Na Catarina Mãe, em Friburgo, vimos juntos, pela primeira vez, um tatu bola. Ele tinha 13 anos. Em 2014 fomos para a Noruega ver a aurora boreal. Tivemos a sorte de passar uma semana em Tromso, conseguindo contemplar o fenômeno durante todos os dias da nossa estada, algo muito raro de acontecer.
Situação extrema passamos subindo o Aguille de Midi, montanha situada no Maciço do Mont Blanc, com uma altitude de 3.842 metros. Estávamos em pleno inverno de 2012 e fomos explorar o acesso ao teleférico para Helbronner, que fica para o lado italiano. A temperatura pelo caminho era negativa e não estávamos em trajes apropriados. Em menos de 30 minutos nossos pés congelaram e tivemos que correr para um local aquecido.
Em 2015 fomos conhecer os desertos do norte do Chile e da Bolívia. Nosso primeiro objetivo foi, no deserto do Atacama, subir o vulcão ativo Lascar, a 5.590 metros do nível do mar, e chegar na boca da cratera. As condições extremas não foram fáceis. Nos preparamos juntos, fisicamente, para encarar o desafio. Faltava muito pouco, talvez uns 200 metros, para alcançar a caldeira quando meu filho não conseguia mais subir. Ele chorou, me pediu desculpas. Entendi que chegara ao limite e qualquer passo a mais poria em risco a vida dele. O abracei e choramos. Entretanto, nosso experiente guia regressou e disse que iríamos chegar até lá. Ele me disse que era pai e tinha um filho da minha idade e entendia o que estava acontecendo. Sacou da mochila um cilindro de oxigênio, isotônico e chocolate, e por fim Rafael, com muita vontade, conseguiu. Foi emocionante!
Allan é pai de Rafael, de 15 anos
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Marcus Almeida, 55 anos (por ele mesmo): “Hoje, quando saio com eles, eles é que tomam conta de mim”
“Tive quatro filhos e mais um sobrinho que tenho como filho. Minha declaração como pai é que, neste mundo louco em que vivemos, o mais importante de tudo é a amizade entre nós, além de amor. A frase que falo para eles desde pequenos e é sempre repetida: ‘Minha vida pela sua’.
Fizemos muitas coisas de doido juntos.
Matheus nunca fez muita confusão. Mas Larissa, por exemplo, um dia foi atropelada na porta da escola, por um carro na contramão. Com Larissa nos braços, entrei no carro de uma mulher, coloquei meu pé esquerdo em cima do pé dela e acelerei forte até chegar ao hospital.
Vivi muitas aventuras com Vinicius. Andava cavalo, corria de moto… Certa vez ele resolveu montar um touro. O bicho o jogou no chão, ele ficou todo roxo. Brincando de fogueira, ele achou uma garrafa de álcool, que explodiu na sua mão. Em todos esses momentos eu estava junto com ele, parceiro.
Em uma viagem à França, minha filha Livia estava com sete meses de gestação e decidida a não ir em função do medo. Vai que alguma coisa acontece… Mesmo assim, eu a incentivei a ir. Disse para ela: se precisarem de alguma coisa, nem que eu roube um avião para poder trazê-la de volta. E ela me disse: ‘Eu sei que você é capaz de fazer isso mesmo!’
Bernardo ganhou a primeira moto aos 5 anos. Queria correr no Ibelga. Logo no início levou um tombo, mas, mesmo assim, longe de demovê-lo da ideia de prosseguir, eu o incentivei a perder o medo.
Mas andar de moto eu só deixava quando tiravam nota boa na escola. Hoje, quando saio com eles, eles é que tomam conta de mim. Invertemos a situação: são eles que ficam preocupados quando eu fico para trás, quando tem uma subida muito forte…
No mais, tenho dizer que a vida me deu muito mais do que eu esperava. Não são somente laços de sangue que nos unem. Somos amigos, confidentes, cúmplices. Se tivesse 10 vidas, daria a eles 11.”
Marcus é pai de Livia, Larissa, Vinicius e Bernardo, e tio de Matheus, que considera como filho
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PAI VIÚVO
Edison Santiago Duarte, 47 anos (pelos filhos): "Ele é muito presente, nosso amigo lindo"
“Nossos pais nos tiveram muito cedo e, por serem jovens, passaram por muitas dificuldades. Sempre foi uma luta. Todo o dia faltava algo, mas a verdadeira batalha ainda estava por vir. Próximo ao aniversário de 15 anos da nossa irmã mais velha (Ingrid), nossa mãe ficou doente. Foram várias internações e explicações incompletas.
Nosso pai nunca foi um homem de rezar muito, mas, nessa fase, orávamos todo dia, pedindo por um milagre. Papai sempre fumou bastante, mas, a nosso pedido, resolveu parar. Por conta da doença da nossa mãe, ele voltou a fumar. Estava muito estressado, tenso e exausto. Trabalhava de noite e ficava no hospital com a mamãe durante o dia. Nesse período ficamos na casa da nossa avó e, por sermos crianças, ainda ninguém nos dava informação do que realmente estava acontecendo. Nossa mãe entrou em estado vegetativo, não reconhecia absolutamente ninguém.
Às duas da manhã, ouvimos o telefone do meu pai tocar. Quando ele atendeu, ouvimos o choro: nossa mãe havia falecido. Foi tão difícil vê-lo chorar sem ter muito para dizer, foi difícil se despedir e aceitar que seríamos só nós.
Desde então, nós quatro tivemos que nos adaptar. Papai trabalhava de noite e de dia descansava. Não nos conhecíamos totalmente. Então tínhamos que nos conhecer novamente. Foi difícil porque era só ele para sustentar a gente. As contas sempre chegavam e, para fechar, era complicado. Nunca nos faltou nada. Sempre teve muita luta, e com a luta vinham as vitórias. Ele, mesmo ausente, continuou a ser exigente, cobrar, se mostrar presente. Era nosso pai, mas também nosso amigo.
Papai é um cara tão tranquilo, raramente perde a cabeça. Ele é racional, inteligente, prestativo, imensamente honesto, e isso é a sua qualidade mais linda, porque é o tipo de honestidade que existe até quando ninguém está olhando.
Papai é pai e mãe quando o assunto é namorado ou, no caso das meninas, menstruação. Apesar de não saber como dizer, fazia seu papel e era lindo. Hoje ele é pai e avô também. O mais lindo, o mais amoroso do mundo, tão presente e preocupado. Mesmo Ingrid tendo 20 anos e descobrindo uma gravidez repentina, em vez de brigar, foi atencioso, deu dicas. Ele passou pela mesma situação. Aprendemos juntos que brigar não leva a lugar nenhum.
Ele é muito presente, nosso amigo lindo que nos permite ser quem somos. Ele assumiu um papel difícil e hoje somos gratos por tudo o que nos ensinou. Todos os agradecimentos são poucos. Ele não conhece a palavra impossível. Fez de tudo por nós.”
Ingrid, de 21 anos, Yuri, 20, e Bruna, 18, são filhos de Edison
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PAI DO LAR
Juliano Rodrigues de Jesus, 35 anos (por ele mesmo): "Não queremos babás nem creches"
“Quando Antonia nasceu estávamos resolvidos em relação à forma como seria a nossa vida doméstica. Como a minha área de atividade (construção) tem um mercado muito restrito em Friburgo, e a da Julia (médica) é o oposto. Então, quando nos mudamos do Rio pra cá, decidimos que eu cuidaria da casa e dos filhos. Engravidamos e nos apaixonamos pela criaturinha que estava por vir, desde o início. O nascimento da Antonia foi uma revelação de amor, de um amor como não tem igual no mundo. Descobri isso com a minha filha. A gente só descobre o que é amor, quando nasce um filho.
Cumpro o papel de pai com muita tranquilidade, sem inseguranças ou sustos. É como se eu estivesse preparado para ser pai toda a vida. Acho que essa força vem do amor que temos uns pelos outros aqui em casa. Eu sempre quis ter exatamente o que tenho hoje, e ter essa disponibilidade para desempenhar todas as funções que um lar precisa. Não tenho nenhum problema com isso e estamos plenamente satisfeitos em dividir as tarefas dessa maneira.
O mais relevante em nossa relação é a parceria. Nosso foco é a Antonia e estamos prontos para atender todas as necessidades dela. Não queremos babás, nem creches. Nós a colocamos no mundo, ela é um ser especial e queremos que ela tenha as melhores oportunidades de se desenvolver como um ser humano que veio ao mundo para ser feliz e dar aos outros, felicidade.”
Juliano é pai de Antonia e está grávido do 2º filho
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PAIS GRÁVIDOS
Matheus Marchon, 28 anos (por Vanusa Heringer Marchon): “Um marido e um paizão para nenhuma Fernanda Lima colocar defeito”
“O pai do Bento sempre foi um lorde como marido. Como pai, sabia que não seria diferente.
Desde que soube da gravidez, passou a abrir mão da comida japonesa, começou a mudar seu horário de almoço para acompanhar as ultras, conferir se já renovei o repelente, assumir vários serviços domésticos que exigem força (peraí, isso ele já fazia...), participar de cursos de gestante... Já marcou até uma sessão de tattoo (ele é fã) para homenagear o pequeno.
É tão parceiro que o único episódio de enjoo que tivemos durante a gravidez foi ele quem sentiu. Cismou de implicar com o cheiro da carne moída que refoguei para o jantar. Pode isso?
Conversa com minha barriga, corre pra sentir o filho mexer... e diz que sou a mãe mais linda do mundo!
Curte cada presente, lembrancinha ou mimo que o nosso filho recebe. Chega junto nas compras, opina, escolhe e se encanta com berços, sapatinhos, cueiros e mantas... Aprendendo, com gosto, cada detalhe desse universo!
Matheus é um marido e um paizão para nenhuma Fernanda Lima colocar defeito! Bento e eu o amamos muito!”
Vanusa é mulher de Matheus e mãe de Bento
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Diego Pernanchini, 34 (por ele mesmo): “Não vejo a hora de conhecer esse serzinho”
“Estou a dois meses do nascimento da Duda e não vejo a hora de conhecer esse serzinho. Anseio por ver o seu rostinho, conhecer quais são as minhas características nela e quais são as da mãe.
Com a alegria de ser pai vem o peso da responsabilidade. Agora, mais do que meus afazeres naturais e dos cuidados com a minha esposa, tenho que zelar pela construção de uma pessoa. Não chega a ser um peso de aflição, mas de atenção.
Já pude sentir a alegria de montar o seu quartinho. Chorei e glorifiquei a Deus por cada item comprado. Acho que já estou me transformando num pai. É uma sensação maravilhosa. Cada detalhe de sua formação é comemorado.
Quando vimos o corpinho e ouvimos o seu coração batendo na ultrassonografia, nosso coração se encheu de alegria. É intenso, e o melhor: é para a vida toda.
Durante a gravidez, eu e Thais viajamos por nossa infância, pelas memórias, cheiros e sabores. Tem sido um tempo muito gostoso. Não vejo a hora. Baby Duda vem para completar a alegria do papai, da mamãe e dos avós. Esta é a sensação: um amor inenarrável.”
Diego é marido de Thais Tavares Pernanchini e pai da Duda.
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Bruno Milhorance, 32 (por ele mesmo): “Quando chega o momento, você vê que, ainda sim, não está preparado”
“Para mim, tem sido um misto de emoções, alegria, ansiedade e amor. Vejo que a minha responsabilidade aumenta. O filho pertence a Deus, mas nós temos o dever e privilégio de cuidar, educar e mostrar o caminho, e Anninha será uma pérola que, como pai, precisarei lapidar.
Já temos nove anos de casamento e, mesmo com todo esse tempo de preparação, quando chega o momento, você vê que, ainda sim, não está preparado. Quando descobri que Dani estava grávida, fiquei completamente sem palavras durante alguns segundos e depois comecei a chorar. Ela preparou uma caixa, como se fosse um presente qualquer, mas quando abri lá estava um sapatinho, dois testes de gravidez e um bilhetinho dizendo que nosso bebê estava a caminho. O momento do chá de revelação também foi emocionante demais para nós.
Cada momento tem sido muito precioso, na verdade: a escolha do nome, o quartinho, as roupinhas, cada detalhe. O primeiro chute... Estamos curtindo muito e preparando tudo com muito amor e carinho para a chegada da nossa princesa. Anninha vem aí!”.
Bruno é marido de Danielle Milhorance e pai da Anna.
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Raphael Oliveira dos Santos, 32 anos (por ele mesmo): “Percebi que nunca estaremos preparados para uma gestação”
“Nosso bebê está com 3 meses e ainda estamos na expectativa de saber o sexo. Quando fomos fazer a primeira ultrassonografia foi emocionante e engraçado. Quando você vê aquele ser sendo gerado e seus pés e mãos mexendo, o som do seu coração batendo... Você para e pensa: ‘Caramba! Meu filho(a) está ali’.
Realmente palavras me faltam para expressar esta experiência incomparável. Ao mesmo tempo que o desejo de tê-lo em meus braços aumenta, percebi que minha falta de informação é enorme. Quando as pessoas começaram a me perguntar como o bebê estava, eu logo respondia: ‘Está bem e enorme’, sinalizando com as mãos que ele estava mais ou menos com uns 30cm (risos)… Até que uma amiga nossa disse: ‘Amigo, com dois meses de gestação, o bebê ainda é um feto de no máximo 10cm’.
Comecei a rir muito e percebi que nunca estaremos preparados para uma gestação. Mas podemos aprender a fazer o melhor para os nossos filhos, pois, a partir desse momento, descobrimos que temos um tesouro sendo gerado e precisamos aprender tudo o que pudermos para que, quando o bebê nascer, tenha todo o suporte necessário. Não conseguimos parar de sonhar com o momento exato de sua vinda ao mundo. Ser pai é uma honra!”
Raphael Oliveira dos Santos é marido de Aline da Cunha Tuntes Oliveira e pai de Noahn ou Sophia
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PAI SOLTEIRO
Alessando Lo-Bianco, 34 anos (por ele mesmo): “Às vezes nem durmo pensando como a vida vai machucá-la”
“Ser pai é padecer de prazer na simplicidade. Um exemplo é a cena da Valentina experimentando o sabor de uma melancia pela primeira vez. A primeira vez que sentiu o gosto de uma água de côco e fez a cara de estranhamento. A primeira vez que parou numa fila do supermercado e disse: eu te amo papai.
Coisas ainda poucas perto do sorriso que vi quando experimentou pela primeira vez uma batata frita do Mc Donald’s (até então era o nosso primeiro segredo, selado quando tinha 1 ano de idade), e, melhor ainda, aquela gargalhada inesquecível que ela deu quando escutou o primeiro "creque” ao morder um biscoitinho de polvilho.
Depois que a Valentina nasceu, a vida mudou completamente. Passei a dar valor realmente paro o que importa, para o que é real, e as futilidades perderam totalmente o sentido. Não lembro a última vez que comprei uma calça ou um tênis para mim. É tudo para ela, e isso me completa.
O maior desafio para mim na paternidade é ser alguém para ensinar. Ensinar sobre o que é certo e errado, ensiná-la sobre as ilusões da vida. Às vezes nem durmo pensando como a vida vai machucá-la para que ela aprenda a ser alguém de verdade. Nós, pais, projetamos sempre o melhor para os nossos filhos, e acho que um grande desafio é dar a liberdade para que eles se desenvolvam sem nossos desejos e frustrações, que possam fazer seu caminho sem interferências e, pelo contrário, com o respaldo do nosso apoio.
Muitas vezes o que eu falo com Valentina ela não faz, mas aí entendo que, na paternidade, não basta falar para ensinar, e sim dar o exemplo. A Valentina observa muita as minhas atitudes, muitas vezes absorve mais me observando do que me escutando, e isso é algo que deve ser um exercício diário na vida de um pai: ser exemplo.
Ser pai não se aprende nos livros, é experiência prática. É aprender com os filhos como ser.
Ser pai é um desafio nos tempos de hoje. Eu procuro sempre estar o mais próximo dela. A partir do momento em que seu filho entende que você estará sempre presente, você abre a porta da vida para que ele caminhe em segurança rumo à sua independência.
Quando assumi a guarda da Valentina, muita gente perguntava: será que esse rapaz vai dar conta? Eu também me perguntava. É um caminho que você vai construindo com seu filho e ele também vai te mostrando de forma natural como fazê-lo.
Eu e a Valentina conversamos muito, indagamos juntos a vida, descobrimos coisas, somos hoje mais do que um pai e uma filha: somos amigos, fieis escudeiros.
Ser pai é mais do que somente cumprir um papel dentro da família e da sociedade. Ser pai é uma missão divina, que coloca o ser humano próximo de seu criador, pois, assim como o Ser Supremo que nos guia, o pai deve ser o farol dentro da vida de seus filhos, encaminhando-os no difícil trilhar dessa existência.
Ser pai é aceitar as responsabilidades que ultrapassem o limite de suas forças, mesmo arqueado pelo peso que o sufoca. Ser pai é ter um motivo maior pra buscar forças na dificuldade.
Ser pai é vencer o cansaço de um dia de trabalho e sentar com o filho para ver um desenho animado, uma prosinha maneira, ouvi-lo falar de seus aprendizados de vida, tal como eu escuto todos os dias minha filha, com 4 anos, falar: “Pai, toalha de novo em cima da cama?”
Alessando é jornalista e pai de Valentina, 4 anos
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