Especial Dia do Idoso: agências de viagens se especializam

Em grupos, sem limite de idade para aproveitar a vida
segunda-feira, 02 de outubro de 2017
por Jornal A Voz da Serra
Especial Dia do Idoso: agências de viagens se especializam

Eles querem passear, se divertir, descobrir novas culturas, outros idiomas, costumes, formas de vida diferentes. Por isso, viajam. Os idosos de hoje, aposentados e/ou ainda trabalhadores, avós, bisavós ou não, querem diversão e arte, e passear. E viajar. Aproveitar todo o tempo que ainda têm pela frente. Certamente, já não se fazem mais avós como antigamente. No bom sentido, claro. “Na boa”, repetem alguns, assimilando modismos e gírias do vocabulário vigente entre jovens. Essa mudança de comportamento aponta para uma nova realidade familiar. A vovó não está mais disponível 24 horas por dia para cuidar dos pimpolhos dos filhos. Não quer dizer, em absoluto, que não amem seus netos. Amam, de paixão. E, dependendo da idade, até curtem passar uma tarde com eles, ir ao cinema, passear, tomar um sorvete, ir a eventos.

Atentas aos novos tempos, a esse nicho que aumenta a cada ano, agências de viagens se especializaram em atender esse tipo de cliente e organizam viagens dentro e fora do Brasil. Como a agente Haydee Eitler, há mais de 20 anos no ramo, e com uma carteira de clientes que não para de crescer. Profissional experiente e carismática, graduada em turismo, Haydee é apaixonada pelo que faz. “Sempre gostei de estradas”, adianta. “No início, éramos um pequeno grupo de pessoas que gostava de viajar, ia ao Rio ver peças de teatro, espetáculos, balé, shows, museus. Aos poucos a turma foi aumentando e em pouco tempo éramos um grupo de mais de 20, depois de 40 pessoas, interessadas em programas culturais, principalmente. Como eu era formada em turismo, gostava de gerenciar esse tipo de negócio e, principalmente, viajar, lidar com pessoas, vi nessa atividade a fórmula perfeita para aliar trabalho e lazer”, explicou Haydee, ela mesma recém-entrada na tal da terceira idade, que ninguém mais sabe exatamente o que significa.            

De Foz do Iguaçu a Paris

Observando os idosos que estão aí em todo lugar, ocupando espaços onde antes só se viam pessoas entre 20 e 50 anos, é difícil acertar a idade que têm. Tivemos inúmeros exemplos da vitalidade, força física e disposição no Rock in Rio 2017. As melhores e mais eletrizantes apresentações no evento foram protagonizadas pelos músicos e vocalistas das bandas formadas nos anos 1970 e 80: Aerosmith, The Who, Pet Shop Boys, Bon Jovi, Chili Peppers, Def Leppard, Tears for Fears, Guns N’Roses, Sepultura, nas faixas entre 55 e 75 anos. Um verdadeiro espetáculo de energia, alegria e longevidade. Estimulante!

Assim são os idosos do século 21. “Meus clientes de 80 anos dão um banho nos mais novos. Trabalhamos com pessoas de todas as idades, inclusive porque tem avós cujos netos também querem participar, ou os filhos. Tem gente de 85 anos, e isso não impede que se divirtam. E não raro são eles que dão uma chocoalhada na garotada durante os passeios. Trabalhar com crianças e os avós, juntos, é muito energético, adoro”, revelou Haydee. Mês passado ela estava com uma turma em Bariloche e neste fim de semana estará em São Paulo para assistir a “Les Misérables”. E tem programação agendada para a véspera do Natal em Gramado, e réveillon em Mendoza (Argentina).

“Quando saímos do Brasil, é frequente excursionar pela América do Sul para visitar o Chile e a Argentina, principalmente no inverno para curtir a neve na Cordilheira dos Andes, e a Colômbia também. Estados Unidos e Europa são também destinos bem procurados, sendo a Espanha e a França os preferidos”, acrescenta. Aliás, segundo Haydee, no momento, está mais barato ou igual viajar para fora do Brasil. “Ir a Mendoza ou a Aracaju, o custo é o mesmo, e quase o preço de Búzios. Então, dependendo da época, o brasileiro escolhe o exterior. Aqui em Friburgo também, tanto faz  ir a Foz do Iguaçu ou a Paris”, recomenda.

Os animados passeios dos “Amigos da Helena”

Pelo menos uma vez por mês, Helena Trigo Ruiz, de 78 anos, tira de dentro de casa amigos para passeios culturais em Nova Friburgo e outras cidades. Com idades até os 90 e poucos, o grupo já passou oito dias curtindo Montevidéu (Uruguai), tudo organizado pela animada pedagoga aposentada. “As famílias ficam encantadas. Os filhos dão força. Os netos, as noras estimulam os avós a participar. Durante o trajeto, reina a alegria. Conversamos uns com os outros numa animação só. Contamos histórias, compartilhamos experiências. É uma maravilha”, conta ela.

Na última semana, o passeio dos “Amigos da Helena”, como foi batizado o grupo pela colunista social da VOZ DA SERRA Elizabeth Saldanha, a Beth do Licínio, teve que ser cancelado por causa do conflito na favela da Rocinha, na Zona Sul carioca. Eles planejam assistir à nova comédia de Miguel Falabella, no Shopping Leblon. “Tive que suspender o passeio porque é muita responsabilidade transportá-los em meio a essas situações. Uma pena!”, lamentou a pedagoga.

Nos últimos quatro anos, desde que ela começou com as viagens, o grupo de até dez pessoas já foi assistir a peças de teatro, a shows de Júlio Iglesias e José Carreras, apreciar exposições no Centro Cultural Banco do Brasil e no Instituto Moreira Salles. Helena tornou-se até embaixatriz da Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, por levar os amigos sempre lá.

A pedagoga diz que não faz um trabalho profissional de viagens, mas toma todos os cuidados necessários para garantir o conforto e a segurança dos amigos. O veículo que transporta “as meninas e os meninos”, como Helena costuma chamá-los, é adaptado para as necessidades de cada um. “Um tem problema no joelho. Outro, na coluna. Temos uma caixotinho para que todos subam na van, que é alta. Fazemos paradas programadas e nossas viagens têm até seguro. Levamos lanchinhos. É bom à beça”, afirma, fazendo questão de frisar que, mais do que diversão em grupo, as relações que se desenvolvem nesses encontros são para a vida.

Convívio social afasta transtornos

“Temos carência de afetividade. Nossos filhos estão na labuta do dia a dia e nem sempre podem estar conosco. A construção dessas amizades é importante, porque percebemos que temos os mesmos anseios e podemos ajudar uns aos outros”. Segundo a neuropsicóloga Hellena Jacone, as pesquisas mostram que o convívio social é um importante fator de proteção da saúde mental e deve ser estimulado pelas famílias e entidades que abrigam idosos. As relações interpessoais saudáveis ajudam no combate à ansiedade e à depressão, transtorno responsável por 60% dos suicídios cometidos nessa faixa etária.

“Atividades como passeios e viagens são ótimas, mas é preciso avaliar a personalidade do idoso. Não são todos os idosos que têm um espírito aventureiro. Alguns são mais recolhidos. Assim como há aqueles que são resilientes em relação às mudanças repentinas, como a aposentadoria, por exemplo, e outros mais vulneráveis a isso”, completou.

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