Espaço Pró-Leitura - Sonhos e Leituras

Por Eliana Yunes
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Numa caverna fica o palácio de Hipnos, Deus do Sono. Lá, este Deus sonolento vive com seus filhos, entre eles Morfeu, Deus dos Sonhos, que percorre o mundo tocando os mortais adormecidos com uma papoula e povoando de imagens suas mentes. Os sonhos são, portanto – diz o mito –, esses toques do Deus.

Muito parecido com este mito grego é o mito tupi da Kerpimanha:

Junto a Tupã, o Deus supremo, mora uma “deusa-anciã” chamada Kerpimanha.

Descendo do céu pelo arco-íris ela traz os sonhos que sonhamos acordados e, pelos raios das estrelas, os que sonhamos dormindo. Como um sopro de vida, ela entra em nossos corações e de lá só sai ao despertamos. Assim, quando uma pessoa recorda seu sonho ou devaneio, encontra o recado de Tupã que a velha deixou gravado em seu coração.

Os sonhos sempre nos despertaram curiosidade. Os deuses falam através deles, os oráculos e psicanalistas tentam interpretá-los, e diferentes ciências os estudam. Enquanto isso o povo propaga: sonhar com cobra é sinal de gravidez; com a própria morte, de vida longa...

Mas a necessidade de sonhar não se limita aos sonhos que sonhamos à noite, tocados por Morfeu. Há também a necessidade de sonharmos de olhos abertos, o que explica o fascínio dos mitos e dos contos de fada.

Utilizando linguagem onírica, eles expressam desejos universais – uma vida melhor; encontrar um par, driblar a morte –, e nos transportam a reinos distantes cheios de magia falando, no entanto, de situações bem atuais.

Quantos Joãos e Marias perambulam pelas ruas sonhando com casas de doces? Quantas Cinderelas sonham acordadas com artistas de novelas ou jogadores de futebol? Quantas Afrodites lotam consultórios de cirurgiões plásticos em busca da juventude eterna?

Os contos e mitos nos dão o distanciamento necessário para ouvirmos falar de nossos sentimentos sem censura ou culpa.

Afinal, é Cinderela que espera um príncipe encantado; é João que sente medo ao ser largado à própria sorte; é o patinho feio que sai pelo mundo em busca de aceitação... tudo afastado de nós por um Era uma vez... no entanto, estranhamente familiar.

Seja através da figura de Kerpimanha, chegando pelo arco-íris, seja através de Morfeu, pelo suave toque da papoula, ou pelas histórias que lemos ou ouvimos, os sonhos colorem nossas vidas. Sem eles, ficaríamos paralisados diante de nossa pequenez e impotência face ao mundo que nos cerca.

Maria Clara Cavalcanti – contadora de histórias e subsecretária Pró-Leitura.

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