Somos aquilo que vamos adquirindo ao longo da vida. Os primeiros jogos, as brincadeiras, as cantigas, os cantos vão imprimindo em nós um pouco daquilo que vamos ser quando adultos. A cada lição aprendida, incorporamos informações, transformamos, acrescentamos parte de nossa própria ‘herança’ e vamos construindo nosso jeito de nos olhar e olhar o mundo. Produzimos saber, saberes. Criando um processo para desnaturalizar o olhar.
As histórias ouvidas na infância constituem pequenos acervos que, interagindo com nossas vivências, nos conduzem para o exercício da crítica acerca das coisas que presenciamos, permitindo-nos apurar nosso papel de cidadão. Não se trata de entender a ‘moral da história’, mas de perceber que o contar e o ouvir histórias podem ser fortes componentes para formar o sentido da responsabilidade social de cada um de nós, possibilitando-nos assim a gestação de um mundo que desejamos justo.
Mesmo antes da escrita, o homem lia. Lia o mundo com seu olhar, com suas experiências sensoriais e, utilizando-se da linguagem oral e das imagens, trocava ideias, refletindo sobre tudo que o cercava. E, mesmo com a escrita, continua se utilizando da palavra oral e das imagens para fazer suas observações e, principalmente, argumentar.
Não só falando ou contando histórias, mas ouvindo o outro contar suas histórias; ouvindo a voz do outro, o homem partilha suas impressões sobre a vida e discute as questões que ocorrem a sua volta.
Ouvi muitas histórias contadas por meu avô, minha avó, meu pai e minha mãe. Isso em casa. Na comunidade, ouvi histórias contadas pelo vigia do mercado popular, o leiteiro, o botequeiro e ainda por meu tio Manezinho. Fui ler os folcloristas – Luis da Câmara Cascudo, Alberto Figueiredo Pimentel e tantos outros – por sugestão de meus avós.
Minha paixão pelos contos populares surgiu daí, dessas escutas e dessas leituras. Outra paixão é incentivar as pessoas a contarem suas histórias, ou melhor, as narrativas que guardam em seus acervos. Por isso meu trabalho com as oficinas de contadores de histórias que desenvolvo desde 1992. Gosto muito de promover essas ambiências de histórias (ouvir, contar e contar) com profissionais das diversas áreas. E é assim que, como um ser ‘aprendente’, descobri-me leitor e escritor, e daí... as oficinas de multiplicação do que sei e do que preciso aprender.
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Francisco Gregório Filho – contador de histórias, escritor e secretário de Pró-Leitura de Nova Friburgo
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