Sempre contei histórias para as minhas turmas, mesmo antes de trabalhar em Sala de Leitura, mas o porquê de contá-las mudou ao longo do processo de me fazer professora.
No início, eu contava histórias somente no final da aula, para acalmar as crianças e prepará-las para ir para casa.
Conforme foi passando o tempo, fui pensando junto com outras professoras. Se queríamos que nossos alunos se tornassem bons leitores e escritores, as histórias não poderiam ser simplesmente usadas para “acalmá-las” e deveriam ser escolhidas com mais critério. Se queríamos que eles entendessem a importância da leitura, deveríamos elevar este momento ao seu devido patamar de relevância em nossas aulas.
Então, mudamos tudo. O “momento da historinha” passou a ser “Leitura compartilhada” e deixou de acontecer no final da aula. Só começávamos o dia depois da leitura. Os textos não eram mais daqueles livrinhos que adquirimos por um real a dúzia, cujas histórias são mutiladas para caberem ali. Passamos a usar os contos de Andersen, Perrault, dos Grimm, Monteiro Lobato, e outros.
Dessas leituras a que mais me marcou foi a leitura em capítulos do livro O irmão que veio de longe, de Moacyr Scliar. Sempre que eu parava a leitura e deixava “as cenas do próximo capítulo” para o dia seguinte, eu escutava um estrondoso “Ah! Conta mais um pouquinho!” Esse som era música para os meus ouvidos! Eu os ouvia na hora do recreio imaginando o que iria acontecer, defendendo e odiando este ou aquele personagem. Uma delícia!
Desta história também analisamos alguns fragmentos para vermos como Moacyr construiu bem determinadas imagens e emoções. Numa parte do texto ele escreve: “Preciso dizer que foi um choque? Foi um choque. Um choque para nós, e pior, um choque para mamãe”. Quando perguntei o que chamava atenção neste fragmento, uma aluna indicou o fato da palavra choque aparecer quatro vezes, uma tão perto da outra e que isso ia contra ao que aprendiam sobre evitar repetições nas produções escritas. Aí, um outro aluno falou:“eu acho que ele fez isso porque foi muito chocante!” Risada geral da classe e uma professora pisando em nuvens.
Os anos se passaram e eu me tornei professora de Matérias Pedagógicas no curso Normal do C.E. Mª Zulmira Torres, em Cantagalo. Ainda começo minhas aulas com leitura compartilhada. Não consigo pensar numa formação de professores onde a leitura não seja privilegiada.
Recentemente, também li para elas O irmão que veio de longe em capítulos e, cada vez que eu fechava o livro, ouvia: “Ah, professora! Conta mais um! Só vamos nos ver na semana que vem!” Bem, por serem mais velhas que meus alunos do 2º ano, elas tinham mais argumentos... Lia sempre mais de um por dia...
Ivânia Barbosa Gomes, moradora de Nova Friburgo, professora em Caxias e Cantagalo, participou da Oficina de Contadores de Histórias promovida pela Secretaria Pró-Leitura.
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