Nos idos tempos do Brasil Império, aqui pelas bandas do Morro Queimado, muito antes dos colonos se embrenharem pelas florestas, uma tribo de índios vivia pacificamente do plantio, da caça e da pesca. E, como dia Pero Vaz de Caminha, “aqui neste Brasil em se plantando, tudo dá...”.
Aí vivia uma índia chamada Inouê. Inouê era uma índia diferente: pele clara, olhos esverdeados e cabelos tão pretos que chegavam a ser azuis.
Morava com seus pais que tinham verdadeira veneração por ela e não viam com bons olhos o seu namoro com um jovem forte, musculoso e trabalhador chamado Porangá. Porangá, mal acabava sua lida diária, procurava Inouê para conversar. Ela, então, se esgueirava por entre o mato fechado para que seus pais não a viessem e não brigassem com ela por ir atrás do seu amor.
Os pais de Inouê sempre lhe chamavam atenção, pois ela era muito nova para um possível casamento.
Uma ocasião, quase noite, eis que aparece um jaguar que sempre andara por aquelas trilhas enfeitiçando e transformando em pedras todos que via por seu caminho ou que o incomodavam.
Porém, quando ele viu Inouê indo ao encontro de seu amor, apaixonou-se perdidamente e quis logo conversar com ela.
A índia ficou tão espantada quando viu o jaguar falando que parou para prestar atenção ao que ele dizia. Ele, então, implorou logo seu amor roubando-lhe um beijo.
Mal seus lábios tocaram a boca do animal, Inouê viu o jaguar transformar num belo índio que disse se chamar Moguque—Pajé de outra tribo errante.
Nisso chega Porangá que, vendo o acontecido, dá uma flechada nos dois que tombaram inertes.
Eis que o ciúme de Porangá uniu-se ao seu amor por ela e à saudade imensa que já começava a brotar no seu peito.
Assim, o jaguar e a índia, mortos, transformaram-se em pedra da qual pôs-se a jorrar as lágrimas do choro de Porangá.
Dizem que nas brenhas do Morro Queimado, no local que mais tarde foi chamado Suspiro, existe ainda hoje uma fonte da qual jorram três filões de água: a Saudade, o Ciúme e o Amor.
Dizem também, que quem bebe desta água encontrará seu verdadeiro amor e algum dia voltará a Nova Friburgo.
Liseth Francis Bechara Saleme é professora de educação artística, mãe, avó e grande contadora de histórias
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