Os sons Ko, Kamby Bolongo e Kin-Tay eram familiares aos ouvidos do pequeno Alex, e lhe pareciam sonoramente mágicos na boca de sua avó, quando ela lhe contava a história de seu mais antigo ascendente a pisar o solo americano, o Africano.
O Africano, dizia ela, fora capturado perto de sua aldeia, por tobogs, caçadores escravos, enquanto procurava madeira para fazer um tambor. Levado como escravo para a América, com ele levou a memória de sua tribo e de sua linhagem, que tratou para passar para sua filha Kizzy para que ela, consciente da importância de sua história, não a deixasse morrer.
Assim foi que, por sete gerações, foram repetidos esses sons e estes fragmentos de história até chegar a Alex. Mas que língua era aquela? Quem seriam as pessoas de quem este homem falava?
Impulsionado por essas perguntas, Alex Haley iniciou uma busca por arquivos e bibliotecas, procurou pesquisadores, consultou etnógrafos, e finalmente partiu para o continente africano onde o quebra-cabeça começou a ser montado.
Os sons são reconhecidos como palavras da língua mandiga: Ko, na verdade Kora, era um instrumento similar ao violão, Kin-Tay, na realidade Kinte, era o nome de uma das mais antigas e respeitadas linhagens do povo da Gâmbia, oriunda da aldeia Kinte Kundah e, finalmente, Kamby Bolongo era o rio Gâmbia.
Em Kinte Kundah, Alex Haley encontra os griots, e, cercado de nativos, inicia sua busca.
Assim ele descreve seu primeiro encontro com um griot:
De sua cabeça transbordava a complexa linhagem do clã Kinte por muitas gerações: quem casou com quem, quem teve qual criança, que crianças se casaram com quem... Era simplesmente inacreditável. (HALEY, 1977 p.41)
Após ter sido colocado a par de todas as intrincadas ramificações do clã de seus antepassados, o griot lhe diz: ... o filho mais velho dos quatro filhos de Omuru, Kunta, saiu da aldeia para pegar madeira para fazer um tambor, e nunca mais foi visto.
E Alex continua:
Eu fiquei lá sentado como entalhado em pedra. Este homem, que toda a vida tinha sido passada nesta longínqua aldeia africana, não tinha como saber que havia simplesmente repetido o que eu ouvira toda a minha infância na varanda da casa de minha avó em Henning, Tenesee.
Como resultado dessa experiência, Alex Haley escreveu o livro Negras Raízes, cuja leitura vem sendo adotada em mais de 300 escolas e universidades americanas, como prova viva e palpável da importância da oralidade enquanto veículo confiável de preservação da história de um povo.
Vale aqui refletirmos sobre a importância de conhecermos nossas raízes. Ouvir histórias familiares nos dá a certeza de pertencermos a uma linhagem, de ser a continuidade, a soma de vários saberes, vivências e histórias de vida.
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