Espaço de Leitura - Um filme, um livro, boas diversões

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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Francisco Gregório Filho

Cresce o interesse de jovens em frequentar os cineclubes—alguns estão formando clubes de cinema em suas casas para reunir os amigos em torno dessa mágica linguagem de contar histórias com imagens em movimento. Com os recursos técnicos mais acessíveis, essas iniciativas são possíveis. Os pais desses jovens me contam que incentivam esses movimentos de seus filhos porque também quando jovens participaram da criação de inúmeros cineclubes espalhados pela cidade com o objetivo de reunir as suas turmas e desenvolverem o gosto pela chamada “sétima arte”: “Procurávamos promover uma programação que não encontrávamos nos circuitos dos cinemas comercias. Porém o gostoso mesmo eram os debates após as sessões”. A alegria de argumentar sobre os roteiros e ouvir os argumentos dos outros.    
Outro dia fui assistir a um filme que há muito tinha interesse em conhecer, em um cineclube em Lumiar. Ótimo ambiente e boas conversas. E lá encontrei moças e rapazes que tinham atravessado a cidade de Nova Friburgo para participar daquela sessão do filme. O grupo tinha vindo de Campo do Coelho. Disseram-me os jovens que estavam pensando em também criar um cineclube em algum espaço mais acessível por lá, na outra ponta da cidade, que pudesse atender aos interessados daquela região. Fico na torcida para que o intento se realize.
Anima-me dialogar com esses moços e saber mais sobre a produção de filmes de longas e curtas-metragens contemporâneos comentados por eles. Nesse encontro em Lumiar, o grupo de Campo do Coelho me revelou que está também produzindo pequenos documentários por lá, falando dos moradores, dos produtores de morangos e ainda sobre os que trabalham com as hortaliças e o plantio de legumes. 
Com equipamentos digitais, esses jovens desenvolvem o registro dos fazeres e saberes daquela comunidade tão próxima do centro da cidade, mas, segundo eles, ao mesmo tempo tão distante culturalmente. A mobilização desses jovens já me comove e ainda mais depois que me informaram sobre os encontros que acontecem entre eles para falar sobre as leituras e os livros que estão lendo. De fato, pude confirmar que todos eles carregavam algum livro que, depois fiquei sabendo, eram títulos de autores que, por questões, as mais diversas, tiveram ou tem algum vínculo com Campo do Coelho.
Foi aí que vi nas mãos de uma das moças o livro “Caderno de Exercícios”, de Sérgio Garcia, publicado pela Edições Loyola, em 2004. A moça leitora comentou que o livro é uma preciosidade. O autor, Sérgio Garcia, é um dos moradores da Rua Quissamã, belíssima rua em um lugar que poderíamos chamar de paraíso, por causa da paisagem e do barulhinho das águas do riacho que correm por entre pedras e árvores por detrás dos quintais das casas abençoadas. 
Do livro, a tal moça leu em voz alta, suave e docemente um poema: 

“Lá vem o seu Faria!
Marido de Dona Filhinha!
Arrastando sempre seus tamancos ‘de português’.
Eu olhava pros pés dele e 
sempre via navios...
por mares nunca dantes navegados...
Tinham sotaque seus passos!
Seu Faria era o meu relógio de ponto:
Evém seu Faria... feijão com farinha!
Depois eu fui embora e não soube o que foi feito do seu Faria,
que morreu antes até de eu saber o que ele fazia na vida.
Hoje, acho que já não sabia fazer mais nada na vida. Se soubesse... 
Faria?”

Disse-me a moça leitora que o texto lido sugeria um documentário bem inspirado e que qualquer dia iria procurar o Sr. Sérgio para entrevistá-lo. Peguei o “Caderno de Exercícios” emprestado, já li e devolvi ao acervo do clube de leitura dos jovens do Campo do Coelho. Avisaram-me aqueles jovens que também iriam procurar por mim para participar de uma de suas rodas de leitura. Claro que irei com o maior prazer assistir a um filme com o grupo e ouvir a moça lendo outros textos do livro do Seu Sérgio Lopes Garcia:

“Tomar o coração,
espremê-lo, sem torcer,
virar pelo avesso,
estender à sombra para não desbotar.
(Não se recomenda o uso de amaciantes)”

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