Espaço de Leitura - Passeio entre livros e livrarias de Nova Friburgo

sexta-feira, 02 de março de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Francisco Gregório Filho

Passeando pelas livrarias da cidade quase sempre nos surpreendemos com títulos de obras que até então desconhecíamos. Recentemente bisbilhotando algumas estantes, descobri um livro que, ao folheá-lo, tive certeza de que o iria adquirir.

“Na verdade, todo leitor, enquanto está lendo, é o leitor do seu próprio eu. O trabalho do escritor é simplesmente uma espécie de instrumento ótico oferecido ao leitor para lhe permitir distinguir o que, sem o livro, ele talvez nunca fosse vivenciar em si mesmo. E o reconhecimento em si próprio, por parte do leitor, daquilo que o livro diz é a prova da sua veracidade.”¹

Por que será que os leitores buscariam ser os leitores de seu próprio eu? Por que Proust privilegia a conexão entre nós mesmos e as obras de arte tanto em seu romance, quanto em seus hábitos museológicos? Uma resposta é ser esse o único modo pelo qual a arte pode nos afetar adequadamente em vez de apenas nos distrair da nossa própria vida. E há uma série de benefícios extraordinários.

“O valor de um romance não se limita à representação de emoções e de pessoas parecidas com aquelas de nossa vida, mas também se estende à capacidade que adquirimos de descrevê-las muito melhor do que antes e de identificar percepções que reconhecemos como nossos, embora não fôssemos capazes de formulá-los sozinhos.”²

Ao lermos a nova obra-prima de um homem brilhante, ficamos felizes em descobrir reflexões nossas que havíamos menosprezado, alegrias e tristezas que havíamos reprimido, todo um mundo de sentimentos que havíamos desdenhado e cujo valor nos é repentinamente ensinado por aquele livro...

Curioso, com o exemplar em mãos, desejei aquele livro para ler e incluir nas estantes de minha biblioteca pessoal. O livro “Como Proust pode mudar sua vida”, escrito por Alain de Botton, suíço, nascido na cidade de Zurich em 1969, foi publicado pela editora Intrínseca.

O autor explora em nove lições a sabedoria existente nas páginas de “Em busca do tempo perdido”. Com humor e erudição, ele revela como o escritor Marcel Proust pode ser um bom conselheiro sobre a vida, as relações sociais, o amor e o sofrimento. Assim celebra a força atemporal de um grande romance.

Um livro sobre a obra de um autor ícone da literatura universal. Um de meus favoritos e inspiradores. Como meus amigos leitores não me falaram desse livro? Como os livreiros não sinalizaram sobre a existência dele? E os resenhistas e críticos literários, como não publicaram nada nos periódicos da cidade? E por que o encontro aqui, em meio a um monte de livros mal-arrumados na estante dessa livraria?

Pois bem, isso acontece muito com quem faz esses passeios despretensiosos pelas livrarias de Nova Friburgo, assim sem necessidade de comprar certo título de livro recomendado pelos amigos ou pela mídia.

¹ “Em busca do tempo perdido”—Marcel Proust

² “Como Proust pode mudar sua vida”—Alain de Botton

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