No dia dos pais, João Marcos Cavalcanti de Albuquerque compartilha conosco uma de suas lembranças.
Orlando, meu pai
Orlando Cavalcanti de Albuquerque era meu pai. Nasceu em Formiga, Minas Gerais, em 1910. Foi poeta, ensaísta e jornalista. Formado em Direito pela UFMG, colaborou nos jornais Estado de Minas e O Diário de Minas, ambos da capital mineira. Funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, foi Diretor-Geral daquela casa, cargo em que se aposentou. Entre seus livros de poesia destaca-se ROSA NOTURNA.
Quando eu tinha 11 anos separou-se de minha mãe e passou a viver em Belo Horizonte, onde veio a falecer. Fomos, eu e meus irmãos, morar com nossa mãe, na casa de meus avós maternos. Um velho casarão da rua Ministro Viveiros de Castro. Pouco íamos a BH para visitá-lo e ele pouquíssimas vezes vinha ao Rio nos ver. Já no fim da vida, porém, escreveu uma carta aos quatro filhos, terminando-a com esse soneto (inédito), que passo a dividir com vocês:
Vida em Crepúsculo.
“A gente morre um pouco todo dia.
A vida vai matando devagar.
Os sonhos, um por um, a fantasia
e essa ilusão ingênua de sonhar.
A vida é como o sol. Nasce. Irradia.
Depois vem vindo a luz crepuscular.
Esquecem-se os prazeres, a alegria,
e só resta um consolo: recordar.
O corpo cansa de viver. A estrada
fica deserta, triste. A caminhada
é mais penosa pelo anoitecer.
Fica-se abandonado ao léu da sorte
e quando chega finalmente a morte
a gente já tem pouco que morrer”
Esse foi meu pai.
João Marcos Cavalcanti de Albuquerque é carioca,advogado, ex-boêmio e avô orgulhoso de quatro netos.
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