Espaço de Leitura - O sobrenatural na literatura - 19 a 21 de fevereiro 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

É sobrenatural tudo aquilo que contraria as leis naturais do mundo em que vivemos e paira acima das possibilidades humanas tal como a existência de mortos vivos, de duplos e de lobisomens. Entram nesta lista os pactos com o diabo e os objetos inanimados que ganham vida. Estão excluídos dela todos os fenômenos paranormais (materialização, telepatia, vidência, etc.). Também não fazem parte do imaginário sobrenatural guerras interplanetárias e viagens para o futuro, que são assuntos da Ficção Científica.

Na literatura, o sobrenatural é o tema do chamado Conto Fantástico, no qual, a ordem natural das coisas é posta de lado para o aparecimento de situações inadmissíveis, que irrompem no dia a dia de pessoas comuns, causando horror e perplexidade. Os personagens envolvidos oscilam entre crer e descrer nessas ocorrências impensáveis. Será um sonho? Uma ilusão? Um acesso de loucura? Inicia-se uma trágica ciranda de dúvidas que envolvem também o leitor. O gênero, instigante e, por vezes, mórbido, sempre atraiu grandes escritores, que por ele transitaram com muito sucesso.

Às vezes, os relatos fantásticos nos são apresentadas por alguém que diz ter sabido do fato sobrenatural através de uma fonte acima de qualquer suspeita (um moribundo que não mentiria na hora da morte ou uma testemunha de sua inteira confiança). Isso dá credibilidade à história e isenta o contador de qualquer responsabilidade, tornando-o um mero repetidor inocente. Outras vezes, o narrador é um dos participantes do episódio sobrenatural e principia o seu relato mostrando todo o horror que sentiu.

Foi a partir do século XVIII que o sobrenatural surgiu, na literatura, de forma consistente, com histórias ambientadas em castelos sombrios e misteriosos, onde se ouvia o ranger de correntes, gritos, lamentos e ruídos inexplicáveis. Portas abriam-se e fechavam-se sozinhas, enquanto vultos fantasmagóricos pairavam por infindáveis corredores.

No século XIX, esses clichês foram abandonados quando Mary Shelley escreveu o seu imortal Frankenstein. Daí em diante, os contos fantásticos ganharam fôlego e rumo novos como se comprova nas seguintes obras clássicas que bem merecem uma leitura: Ligeia, de Allan Poe; A Volta do Parafuso, de Henry James; O Horla, de Maupassant; O Nariz, de Gogol; A Venus de Ille, de Mermée; O Médico e o Monstro, de R L Stevenson; A Outra Morte, de Borges; O Sinaleiro, de Dickens; e Bugio Mosqueado, de Monteiro Lobato.

Lia Neiva, escritora de livros para jovens.

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