Francisco Gregório Filho
“O Leitor Fingido”, de Flávio Carneiro, professor da Uerj, publicado pela editora Rocco, é seu 12º livro. Em seu exercício constante de leitor atento e como crítico literário, roteirista, contista, romancista e cronista, Flávio continua a nos surpreender com suas leituras argutas e inventivas. São suas recordações e impressões como leitor que servem de ponto de partida para tratar dessa espécie de mistério que envolve o instante em que, alcançado pelo olhar pelo olhar do outro, o texto se faz completo. A primeira parte do livro reúne ensaios sobre o tema, entremeados de fragmentos que remetem à formação do leitor-escritor. Na segunda parte, Flávio ilustra, com exemplos pinçados em sua biblioteca pessoal, os diferentes tipos de leitor e suas ligações com o texto.
Goiano de nascimento e morador da Região Serrana do Rio de Janeiro, Flávio vem merecendo elogios e prêmios de destacadas instituições e entidades literárias do Brasil e do exterior onde algumas de suas obras foram traduzidas e circulam nos principais redes de livrarias.
Recebi um exemplar de o Leitor Fingido com uma rápida dedicatória: “Para o querido Gregório, conhecedor dessas leituras, com os abraços do Flávio”.
Já no início do livro podemos conhecer a força da escrita desse jovem professor, dedicado formador de novos leitores:
“Num filme de que já não me lembro (a memória tem seus truques) há uma cena em que um grupo de arqueólogos ingleses caminha pelo México, numa expedição em busca de resquícios da civilização asteca. Alguns nativos servem de guia aos exploradores e num ponto qualquer da longa caminhada os guias interrompem a marcha, sem nenhum motivo aparente. À surpresa dos arqueólogos segue-se a irritação com a brusca interrupção da viagem, que sem dúvida iria afetar o rígido cronograma dos pesquisadores.
“Um deles, em nome do grupo, decide tomar satisfações com o líder dos guias, que simplesmente não lhe dá atenção. Os arqueólogos não sabem o que fazer diante daquele silêncio. Só lhes resta esperar. A espera dura horas.
Já é final do dia quando os nativos, também sem explicação alguma, resolvem retomar a caminhada. Diante da insistência dos ingleses, o líder dos guias esclarece: antes da parada, estavam caminhando depressa demais e as almas tinham ficado para trás. Por isso pararam, esperando que suas almas os alcançassem”.
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