Francisco Gregório Filho
Certo dia apanhei um ônibus e fui passear em São Pedro da Serra. Região de uma beleza de me deixar mudo de encantamento. Lá em São Pedro tenho uma amiga querida dona de uma loja muito simpática e de uma arrumação muito cuidadosa.
O lugar oferece um espaço aconchegante com um café expresso especial, bem quentinho, acompanhado de uns biscoitos caseiros, preparados com a nata do leite produzido por um pequeno rebanho de cabras. Hum... hum... que delícia!
Pois bem, amigos meus leitores queridos, sentado ali, saboreando esse cafezinho com biscoitos, entre os livros expostos e a venda nas estantes do recinto, um me chamou atenção. O exemplar de “A descoberta do mundo” de Clarice Lispector, em nova edição, da Editora Rocco.
Abri aleatoriamente uma das páginas e passei a ler o texto Em busca do outro:
“Não é a toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa; meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada”.
Pedi outro café. Veio quente e perfumado, gostoso. Pensei, é isso, é isso que me faz vir sempre aqui, neste local, nesta cidadela, distrito de Nova Friburgo, buscar algo em mim. E visitar essa loja que vende sabedorias humanas, entre artesanatos, livros, cds, dvds e esse café com biscoitos de nata.
Boa leitura, boa escuta, melodias, boa alegria para os olhos e os bons sabores. Claro que incluo a sabedoria divina com aquelas paisagens e aquele relevo sublimando os contornos, a luz, os verdes e a agradável temperatura.
Fico aqui pensando se a Clarice Lispector não fez muitos passeios por São Pedro da Serra, tantas as inquietações, as buscas que o lugar provoca, instiga. Bom, pelo menos a mim, que sempre que lá estou, me renovo na minha escrita e na vida.
E você, faz visitas frequentes àquele paraíso? Já foi buscar seus caminhos? Ou melhor, conhecê-los?
Clarice ainda nos esclarece e continua:
“O processo de escrever é feito de erros – a maioria essenciais – de coragem e preguiça, desespero e esperança, de vegetativa atenção, de sentimento constante (não pensamento) que não conduz a nada e de repente aquilo que se pensou que era “nada” era o próprio assustador contato com a tessitura de viver – e esse instante de reconhecimento, esse mergulhar anônimo, esse instante de reconhecimento (igual a uma revelação) precisa ser recebido com a maior inocência, com a inocência de que se é feito”.
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