Francisco Gregório Filho
Nathalia. Merecedora de minha mais profunda admiração. Nasceu aqui em Friburgo, desfrutou do convívio de sua família em todo seu processo de crescimento e desenvolvimento na infância e juventude. Seus avós paternos e maternos exerceram intensa presença afetiva. Festejada por seus pais, irmãs, tios, primos e ainda os amigos da escola.
Com 29 anos, bem próximo de completar 30, Nathalia nasceu e cresceu testemunhando os bons momentos de uma Friburgo acolhedora e espaçosa para a plena efervescência dos jovens. Formou, na adolescência, em sintonia com as amigas, um grupo de leitura. Dez mulheres que hoje, mesmo longe uma da outra, com suas vidas encaminhadas, ainda se encontram vez por outra para falar da vida e colocar a conversa em dia. Nathalia, Raquel, Manola, Natalie, Luciana, Lilian, Amanda, Liliane, Leila e Mariana formam esse grupo de meninas mulheres.
Estudaram muito, brincaram, namoraram, dançaram, viajaram e fizeram longas caminhadas pelas trilhas de Friburgo, sempre a lhes propor ensinamentos e aprendizagens para vida em um mundo tão cheio de transformações.
Amigos e fraternos leitores desta coluna, não me deixem exagerar na afirmação, mas podem conferir comigo que os últimos 30 anos foram de mudanças radicais na comunicação, afetando nossas relações pessoais. Novas ferramentas tecnológicas surgiram capazes de alterar o comportamento social muito rapidamente: internet, celulares, iPads, iPhones, entre tantos.
Pois bem, uma geração que aprendeu a unir elementos tradicionais das famílias e lincá-los aos novos e contemporâneos tempos; de forma muito sábia já detém pleno conhecimento do manuseio para operar essas geringonças tecnológicas de modo a melhorar a qualidade de vida e agilizar as questões postas no cotidiano de nossas cidades e a superá-las. Uma geração que está sempre conectada!
Fato é que Nathalia e suas amigas continuam se encontrando e reforçando suas amizades, compartilhando suas experiências de amar, constituir família, enfim, de viver. Continuam estudando muito, conquistando novos espaços e vencendo novos desafios. Belas mulheres de garra e inteligência que representam nossa época e a posição que exercem hoje em sociedade. Mulheres valentes e corajosas que já derrubaram grandes barreiras e estão todos os dias a nos oferecer bons exemplos de bravura em todos os setores profissionais, políticos, sociais e culturais.
Bom, minhas amigas leitoras e meus fraternos leitores, permitam-me que neste sábado, em que homenageamos as mulheres, destacar aqui a Nathalia que acaba de receber o título de doutora em biomedicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e já parte para França com uma bolsa onde fará seu pós-doutorado.
Quanto à tese defendida, caros leitores, adivinho aqui que estão curiosos para saber. Atrevo-me apenas a repetir o título sem muito poder explicar a vocês: “Resistência, agressividade e diferenciação celular: uma tríade dissonante em células de leucemia mieloide crônica”. Para os interessados a tese poderá ser lida em breve no Banco de Teses da UFRJ.
Certo que vocês perguntarão “Onde entra o Gregório nessa história?”. Respondo logo que entro fazendo uma ponta e bem pequena. É que Nathalia, minha sobrinha, é leitora, e de quando em quando, trocamos sugestões de títulos de romances para lermos e comentarmos. Já estou com um pacote de livros pronto e embalado para ela levar e apreciar em Lion.
Sei que fui um privilegiado na vida com essa oportunidade de poder acompanhar as vitórias de Nathalia e também de intercambiar boas leituras de poemas, crônicas e contos, e claro, ter ainda lhe contado muitas histórias.
Parabéns a Nathalia e às novas gerações de mulheres por suas lutas e vitórias para tornar o mundo melhor para se viver e sonhar.
Bem em cima do pacote de livros que vai para Nathalia, coloquei um em especial, o Poesia Reunida*, de Adélia Prado, do qual extraio um poema:
Um Sonho
Eu tive um sonho esta noite que não quero esquecer / por isso o escrevo tal qual se deu: / era que me arrumava pra uma festa onde eu ia falar. / O meu cabelo limpo refletia vermelhos, / o meu vestido era num tom de azul, cheio de panos, lindo, / o meu corpo era jovem, as minhas pernas gostavam / do contato com a seda. Falava-se, ria-se, preparava-se. / Todo movimento era de espera e aguardos, sendo / que depois de vestida, vesti por cima um casaco / e colhi do próprio sonho, pois de parte alguma / eu a vira brotar, uma sempre-viva amarela, / que me encantou por seu miolo azul, um azul / de céu limpo sem as reverberações, de um azul / sem o z, que o z nessa palavra tisna. / Não digo azul, digo bleu, a idéia exata / de sua seca maciez. Pus a flor no casaco / que só para isto existiu, assim como o sonho inteiro. / Eu sonhei uma cor. / Agora sei.
*Poesia Reunida. Adélia Prado. São Paulo, Siciliano, 1991.
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