Francisco Gregório Filho
O importante é que um cronista ou alguém que escreve para uma coluna de jornal mantenha diálogo permanente com seu público leitor. Assim, compreendendo dessa forma, tenho tentado conversar com os leitores aqui do Espaço de Leitura de nosso querido jornal A Voz da Serra que me procuram para aprofundar algumas das questões abordadas nos textos que aqui escrevi.
Seja pessoalmente, seja por meio de correspondências enviadas pelo correio ou e-mail, cuidadosamente as acolho para saber quais os interesses desses leitores. Algumas vezes recebo também puxões de orelha por deixar passar erros de ortografia e gramaticais e em outras, as observações são de conteúdo. A todas as questões meu acolhimento é verdadeiro e respeitoso.
Pensei em compartilhar com os leitores de hoje alguns desses questionamentos que são na verdade reflexões de educadores e mediadores de leitura aqui de nossa região.
Assim uma leitora/mediadora me escreveu: faz de conta que roda de leitura é igual a bolo de fubá. Algo saboroso. Minha avó faz um bolo delicioso de fubá. Mas sei que existem muitas maneiras diferentes de fazer bolos de fubá. Igualmente gostosos. Mas sei também que alguns ingredientes não podem faltar. Queria que o Gregório falasse um pouco sobre os temperos e ingredientes especiais que ele usa para fazer o seu bolo de fubá (principalmente os “ingredientes internos”).
Gosto dessas trocas, desses intercâmbios, porque me fazem refletir sobre o que escrevo e ainda experienciar grande satisfação ao constatar que esses leitores são muito atentos e críticos perspicazes. Uma professora me indagou sobre a roda de leitura com os jovens e apontou: ao mediar leituras com o público jovem percebi que ao imprimir um ritmo mais linear de leitura, próximo da linguagem escrita, eles se sentiram mais à vontade para expor opiniões, interpretações e, até mesmo, para ler o texto aos demais participantes. Assim, passei a propor aos grupos a continuidade da “leitura em voz alta”: quem gostaria de ler agora? Essa participação dos jovens é adequada ou é melhor que a leitura seja feita apenas pelo mediador que já tem conhecimento do texto?
E essa outra questão então apontada por um leitor-guia que trabalha voluntariamente numa instituição para menores: ao propor uma roda de leitura para grupos à margem da sociedade, seja por dependência química ou violência, é mais indicado optar por textos que dialoguem com essa realidade, pela suposta facilidade de interação, ou escolher textos com temáticas que explorem o imaginário e possibilitem o afastamento do cotidiano?
Uma bibliotecária me fez recentemente indagação bem interessante sobre o diálogo do público com o texto e com o mediador. Vejam se não é interessante seu questionamento: muitas vezes a resposta do público em uma roda de leitura é o silêncio, por mais que o mediador lance questões, o público prefere não se colocar. Como dar continuidade ao movimento da roda de leitura, onde a proposta além de ler é conversar sobre os textos, sem invadir o silêncio como resposta a uma obra de arte?
Às vezes são perguntas recorrentes na prática de quem cuida de um espaço de leitura e em outras vezes, mais voltadas para a seleção de acervos de uma biblioteca, ou sobre o que escolher como repertório para as rodas de leitura ou ainda para contar uma história: sobre política de seleção de acervo, como sua concepção de literatura influenciou na escolha dos exemplares das casas de leitura que você ajudou a construir? Ou ainda: dos livros tidos como “literatura”, quais você não colocaria de forma alguma dentro de um acervo de casa de leitura e por que motivo?
São questões cujo nível de complexidade na verdade não podem ter uma resposta pronta e acabada, mas enquanto perguntas me têm ajudado muito a pensar o conceito de mediação, a prática da leitura e, especialmente, o exercício da crítica ao que lemos ou ouvimos.
Mesmo no contar histórias sempre há sempre incertezas sobre essa prática e muitas vezes perguntas do tipo Que importância o livro enquanto objeto físico possui dentro de uma contação de histórias? Perguntas assim colaboram para que no meu trabalho eu não perca de vista a importância do livro e o que de fato é o ato de contar histórias.
Peço então aos amigos leitores que me ajudem a pensar essas e outras perguntas/reflexões para em outras oportunidades podermos desenvolvê-las aqui neste espaço. Ajudam-me? As contribuições serão bem-vindas e já de pronto agradeço.
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