Francisco Gregório Filho
Recentemente, participei de um encontro com educadores sociais que estão com “a mão na massa” em programas de promoção de leitura. Fui convidado para desenvolver umas boas conversas sobre as diversas “Práticas Leitoras e as Narrativas”. Uma festa para mim, essas oportunidades em que posso trocar ideias, ler alguns textos de reflexão, contar e ouvir muitas histórias e conversar sobre literatura, especialmente com interlocutores empenhados em compreender e direcionar suas práxis na perspectiva de uma função humanizadora. E aqui, peço licença aos amigos leitores, para trazer alguns aspectos dessa compreensão, recorrendo a um pensador brasileiro que é pesquisador e estudioso da matéria por quem devotamos grande admiração: professor Antônio Candido.
“Entendo aqui por humanização o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.” *
Chamou-me a atenção, durante o encontro, o interesse e a concentração de três moças vindas do Pará. O evento foi realizado no Rio de Janeiro, mas recebeu educadores vindos de diversas regiões do País. Pois bem, fraternos leitores desta coluna, as moças do Pará estão morando em Altamira, município paraense em cujo território o Governo Brasileiro constrói uma usina hidrelétrica que será considerada a terceira maior do mundo – A Usina de Belo Monte.
Essas três profissionais, junto às suas equipes, participam do Programa Qualidade de Vida que está sendo desenvolvido em três canteiros das obras da usina onde estão alojados pouco mais de doze mil homens e algumas centenas de mulheres. Todos operários das empresas responsáveis em construir esse complexo empreendimento.
Leila, Fabiana e Tatiane desenvolvem suas atividades nos canteiros Canais e Diques, Belo Monte e Perimetral respectivamente e atuam nos espaços dedicados à educação, ao entretenimento e nas salas de leituras. Segundo informações passadas por elas, todas as ações de alfabetização e o pós-alfabetização dos operários estão encaminhadas sob a coordenação do Sesi e Senai.
As salas de leituras já receberam dois mil títulos de literatura cada uma. Então, o grande desafio dessas moças é o de dinamizar e aproximar esse acervo junto aos trabalhadores. Criar e executar atividades de práticas leitoras que seduzam esse conjunto de operários para o bem querer da leitura e da literatura.
“Antonio Candido entende o literatura como um leque de criações de toque poético, ficcional ou dramático, uma manifestação universal de todos os homens. Não haveria homens que poderiam viver sem literatura. Candido inclui nesse leque literário o folclore, as lendas, os chistes. Os homens necessitariam fantasiar para sobreviver, ninguém poderia passar um dia sem se desligar por alguns momentos e embarcar nos sonhos acordados”.** (Ilan Brenman)
Desejo, neste espaço de leitura, homenagear essas três mulheres educadoras que, com muita coragem e determinação, aceitaram a difícil tarefa de promover a leitura e a literatura em circunstâncias tão adversas e complexas. A Leila, Fabiana e Tatiane, brasileiras de fibra, minha mais profunda admiração e a torcida para grandes conquistas, reunidas com esses outros tantos brasileiros valentes que trabalham na Usina.
Acredito e tenho fé, como creio que os amigos leitores também acreditam, que essas guerreiras armadas com as ferramentas dos livros, da leitura e da literatura farão a diferença e terão respostas positivas e solidárias.
Concluindo este artigo, gostaria de sugerir aos leitores o livro do professor Ilan Brenman que nos ajuda a encerrar a coluna deste sábado:
“Outro fator humanizador da literatura é a sua capacidade organizadora das palavras que, no psiquismo, se encontram em dispersão, em estado caótico para expressar as emoções. A literatura ordena, articula e dá sentido, possibilitando ao leitor elementos para uma organização interior.”
* Vários Escritos – São Paulo, Editora Duas Cidades, 1995.
**Através da vidraça da escola: formando novos leitores. Belo Horizonte, Editora Aletria, 2012.
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