Espaço de Leitura - Histórias de medo - 27 a 29 de novembro.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

“A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido”.

Assim começa H. P. Lovecraft seu famoso ensaio sobre O Horror Sobrenatural na Literatura. Se ele tem razão e o medo é um dos sentimentos mais antigos e profundos que habitam o coração do homem, então existe uma infinidade de motivos e situações que podem provocá-lo.

Quem não sentiu pelo menos um tremor ou um leve calafrio assistindo aos filmes O Exorcista ou o Sexto Sentido?

Existe uma modificação ao longo do tempo e os contos portadores desse medo ganharam novas roupagens. Mas é importante entender que todos surgem na oralidade. Mesmo os personagens literários, que agora fazem parte do cotidiano, foram história oral e parte do folclore de algum povo.

O sinistro que floresce nesses contos é vivenciável no momento da narração. São aqueles suores, tremores, arrepios, calafrios, sensações tantas que são suscitadas pelas histórias de medo. Podemos abrir aqui um parênteses para dizer que as histórias eróticas também são muito sensoriais e que junto com as histórias de medo formam uma bela combinação de Tanatos e Eros. É só lembrar das danças dos mortos, retratada na iconografia da Idade Média, que estão carregadas de erotismo ou do beijo da morte tão utilizado no teatro, cinema e literatura.

É preciso tomar cuidado e diferenciar o medo com o qual podemos lidar daquele que é patológico. Uma coisa é se deixar envolver pelo prazer que o medo dá quando escutamos uma história e outra é acreditar que o personagem nos está perseguindo enquanto caminhamos pela rua, embora muitos estudiosos digam que o que se plasma no pensamento realmente passa a existir. Como exemplo temos um relato muito interessante do folclorista brasileiro Fernando Lébeis. Ele conta que na sua infância rural houve uma cozinheira que estava numa determinada noite recolhendo a louça após o jantar, enquanto em volta da mesa da cozinha as pessoas discutiam sobre a existência, ou não, do lobisomem. Num determinado momento, ela, que permanecia calada ouvindo tudo, colocou com força a bandeja cheia de pratos com a qual recolhia a louça sobre a mesa e disse: “Se tem nome, existe”. Esse é um belo exemplo da força da oralidade como prova inconteste da existência das coisas. Na boca de uma pessoa simples vem algo superior que é a força da palavra que se transforma em imagem e que se transforma em palavra... infinitamente.

Benita Prieto, contadora de histórias do grupo Morandubetá, atriz e escritora.

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