Espaço de Leitura - De que falam os contos de fada? - 21 a 23 de maio 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Semana passada falamos do desejo nos contos de fada. Hoje, como prometemos, vamos falar de ciúme, este sentimento que em maior ou menor grau todos nós conhecemos e que aparece de forma avassaladora e como tema central de tantas e tantas histórias.

Tanto no mito grego Eros e Psiquê, registrado por Apuleio no século II d.C, como em um dos mais conhecidos contos de fada recolhido no século XIX pelos Irmãos Grimm, Branca de Neve, vemos as desventuras que esse sentimento pode deflagrar.

Conta o mito que Afrodite, deusa do amor e da beleza, enlouquecida de ciúmes ao ver que a beleza de uma jovem mortal chamada Psiquê ultrapassava a sua, e não suportando perder o lugar de “a mais bela entre todas as mulheres”, enviou seu filho Eros, o Cupido, para acabar com a vida da jovem fazendo-a apaixonar-se pelo mais horrível dos homens. O jovem deus, porém, apaixonou-se por Psiquê e a escondeu num palácio no alto de um grande rochedo, passando a viver com ela. Tempos depois, Afrodite descobriu o que aconteceu e passou a perseguir Psiquê, que acabou sendo salva por Eros.

Branca de Neve nos conta trama bem parecida. A pequena Branca de Neve era filha de uma rainha (mais tarde os irmãos Grimm substituíram a figura da mãe por uma madrasta), tão bonita quanto vaidosa, que todos os dias perguntava ao seu espelho mágico:

“Dize a pura verdade, dize, espelho meu

Há no mundo mulher mais bonita do que eu?”

Enquanto o espelho respondia que ela era a mais bela, tudo correu muito bem, mas um dia, quando ela repetiu a pergunta, e ele respondeu:

“Aqui neste quarto sois vós, com certeza

Mas Branca de Neve possui mais beleza”

a rainha ficou lívida de ciúmes e “desde aquele momento odiou Branca de Neve”. Não suportando a ideia de que menina fosse mais bonita do que ela, mandou um caçador levá-la para a floresta e matá-la. Mas o caçador, vendo-a tão bela e jovem teve pena e soltou-a, dizendo-lhe: “Foge, foge, linda criança!” A jovem princesa se escondeu por algum tempo na casa de sete anões, mas a rainha descobriu tudo e tentou matar a menina, que acabou sendo salva por um príncipe encantado.

Se deusas e rainhas são tomadas pelo ciúme de forma tão violenta, imagine nós, simples mortais e plebeus...

No entanto, o ciúme nem sempre é um sentimento destrutivo. Se procurarmos no Aurélio encontraremos: ciúme – do lat. “zeulem” gr. “zelus “ – receio de perder alguma coisa, zelo, cuidado...

Também assim nos advertem os contos; zele pelo que é seu. Afinal, não tivesse Cinderela guardado um dos sapatinhos de cristal, aquele que não foi perdido no baile; tivesse Ali Babá esquecido as palavras mágicas que abriam a entrada da gruta dos quarenta ladrões; tivesse João perdido o rabo de rato que o salvou da feiticeira, essas histórias teriam finais bem diferentes.

O ciúme, quando bem dosado, nos leva a cuidar daquilo que prezamos.

Talvez esteja aí a maior riqueza dos contos de fada, sua franqueza em falar de sentimentos e nos ensinar a medida certa de senti-los.

Maria Clara Cavalcanti

Quanto ao significado da palavra

Indez (que prometi dar hoje) aí vai.

Indez – ovo que se deixa ficar

no ninho para atrair as galinhas.

Sentido figurado – pessoa por demais suscetível ou delicada; criança manhosa ou chorona.

“Se deusas e rainhas são tomadas pelo ciúme de forma tão violenta, imagine nós, simples mortais e plebeus...”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade