Francisco Gregório Filho
“A memória está guardada com as pessoas e pode desaparecer com elas. Por isso justificam-se ações de registro de memória, buscando a construção de uma história mais ligada à verdade, ou melhor, povoada de diferentes verdades.”
Até onde consigo me lembrar, uma das minhas leituras preferidas desde criança é a de textos que revelam os preparos dos bons pratos. Textos que misturam culinária e memória sempre me seduziram. Sou um leitor assíduo da coluna Gastronomia, conduzida pelo Chiquinho aqui neste jornal, no caderno Light.
Tenho imensa admiração pelo modo como Chiquinho organiza sua coluna – entrevistando as pessoas com suas memórias e gostos e ainda repassando as receitas dos pratos preferidos. Muito bom!
No último fim de semana estive em Juiz De Fora participando de um dos encontros que acontecem todos os sábados pela manhã no Auditório da Biblioteca Infantil Municipal Murilo Mendes, da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – Funalfa e que têm como tema “Encantando com Histórias”. Esses encontros são de leitura e contação de histórias, com dinâmicas de reflexão e de práxis narrativas – verdadeiros encantadores de histórias – para um auditório repleto de educadores sociais. Contei umas histórias e ouvi outras tantas em uma atmosfera muito harmoniosa e alegre.
Pois bem, lá ganhei de presente um livro que me conquistou pelo formato, pelas belíssimas ilustrações, e, é claro, pelas muitas receitas seguidas de comentários. O livro me fez lembrar a coluna do Chiquinho. Explico melhor, amigos leitores, e cito aqui outro trecho do livro para continuar nossa conversa do dia:
“Uma história pode ser contada de várias formas, assim como a história pode ser revelada a partir de vários olhares. Para muitos, felizmente, longe está o tempo em que se perseguia uma verdade absoluta. Mas muito ainda terá que se caminhar para diminuir os espaços em branco na construção da memória e da história de uma cidade. A memória se oficializa a partir dos registros escritos ou de imagens, do discurso dos que têm voz. Embora às vezes fora do eixo central da cidade, ou longe dos grupos que dominam a sofisticação dos processos da escrita culta, do contato com os livros e dos recursos financeiros para registrar e esquecer se estabelecem. Há outras memórias a ser desvendadas. Memórias que necessitam de cuidados muito especiais, devido à fragilidade ou inexistência de registros materiais.”
Aqui no caderno Light provavelmente a coluna do Chiquinho é uma das mais lidas e festejadas pelos leitores da Região Serrana. As questões abordadas perpassam interesses culturais, educativos, turísticos, sociais, políticos e claro, gastronômicos, dos seus apreciadores. No entanto também revelam, para todos nós, uma grande empatia do Chiquinho com as memórias das pessoas que de alguma forma criam laços com a cidade e desenvolvem vínculos afetivos com a Região Serrana. Chiquinho contribui com A Voz da Serra nesse processo de registrar as memórias, os sonhos e desejos, além de boas críticas aos serviços prestados aos moradores e visitantes da cidade. Bom ler ainda suas sugestões sempre positivas. Gosto de cozinhar e me delicio com as receitas trazidas por esse moço que, tenho certeza, ama a cidade em que vive e valoriza os esforços dos empreendedores locais que investem na qualidade do atendimento de seus estabelecimentos comerciais aos que buscam a arte da convivência nesses espaços.
Lá em Juiz de Fora, a Funalfa também promove uma boa acolhida aos visitantes, divulgando as qualidades da cidade. O livro que ganhei registra as práticas e os sabores da culinária local. E só para dar água na boca aí vai uma receita das memórias árabes de Juiz de Fora:
Ensopado de músculo e grão de bico: 300 gramas de grão de bico, meio quilo de músculo cortado em cubos, quatro cebolas medias, cortadas em tiras e uma colher de sopa de manteiga para refogar as cebolas. Sal a gosto. Modo de preparo: Lave o grão-de-bico e deixe-o de molho na véspera. Coloque-o na panela de pressão, e ao formar uma espuma quando começa a fervura, retire-a e depois tampe a panela e deixe cozinhar por cerca de quarenta minutos. Reserve. Cozinhe o músculo temperado com sal. Refogue na manteiga as cebolas grandes. Depois junte o músculo e o grão-de-bico com a água. Deixe ferver mais um pouco, cerca de 5 a 10 minutos. Se quiser sirva com pimenta.
Livro: De todos os cheiros e sabores que fizeram Juiz de Fora: culinária e memória. Organização Toninho Dutra. Juiz de Fora: Funalfa, 2011.
Funalfa: Av. Barão do Rio Branco, 2234 - Centro - Juiz de Fora
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