Espaço de Leitura - Contar histórias: uma experiência fantástica - 3 a 5 de dezembro 2011

sexta-feira, 02 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Évora Giffoni

Contar histórias é uma arte sem idade, para quem conta e para quem ouve.

A primeira oficina que fiz foi com Francisco Gregório Filho e Eliana Yunes. Um dia, Gregório chegou dizendo que trazia um presente para cada um. Fiquei curiosa e emocionada: um presente? O que seria?

Ele deu a cada participante um limão e pediu que contássemos histórias sobre o limão. Poderia ser uma cantiga, uma receita... Procurei saber sobre essas histórias, mas todas já tinham sido escolhidas. A pesquisa foi em vão. O que fazer? Coloquei o limão sobre a minha mesa de cabeceira para não esquecer a tarefa. Saiu esse texto:

Sensações

Ele chegou de repente. Confesso a minha felicidade ao primeiro contato. Parecia uma criança quando ganha um presente de surpresa.

Invadiu o meu ser, a minha privacidade. Foi tomando conta dos meus pensamentos. Agora, vejo-o como um monstro. É um gigante diante da minha fragilidade. Preciso saber o que contam a seu respeito, suas histórias. Procuro informações. Nada.

Quero afastá-lo, mantê-lo à distância. Não consigo. Algo forte me atrai.

A um leve toque, parece dócil. Afago-o. Deslizo minha mão com intimidade pelo seu corpo. Seu umbigo provocador me fascina. Ele já faz parte da minha vida. Todo ar que respiro está impregnado pela sua presença. O banho torna-se mais agradável ainda. Sinto o cheiro forte de seu corpo em meus lençóis. Seu perfume perpassa essas noites de primavera.

Com o passar do tempo, conheço-o melhor. Normalmente, é ácido. Às vezes, doce. Se tocado por uma dose de álcool, torna-se inebriante. Tudo depende de como é tratado. Com ele descobri um novo gosto da vida. Um prazer único diante de tudo que já experimentei.

Uma sensação estranha, um sentimento antitético se apodera de mim. Não posso perdê-lo e sinto necessidade de compartilhá-lo com outras pessoas.

Uma faca afiada? Que horror! Só em pensar-me arrepio. Terei coragem?

Jogo a cabeça para trás. Fecho os olhos. Pronto. Tudo volta ao normal.

Com as mãos em concha vou oferecer suas sementes à terra fértil para que outras pessoas possam desfrutar o prazer de ter um limão.

Évora Giffoni é professora e contadora de histórias.

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