Através das narrativas, vários povos puderam perpetuar suas tradições por gerações. O contador de histórias trazia consigo a memória de seu povo e a possibilidade de se pensar o mundo e a vida.
Atualmente, acontece na nossa sociedade, uma massificação de idéias e de conceitos. Todos pensam igual, pois recebem as informações de maneira mastigada. O contador de histórias é um elemento importante na reconstrução do imaginário. As pessoas de todas as idades ao ouvir histórias, mesmo num mundo tão voltado para a tecnologia, resgatam e ampliam a consciência sobre o ser e o estar no mundo. Além disso, acredita-se que quando uma pessoa ouve uma história, e com ela se identifica, procura ter acesso ao livro que a registra ou outras narrativas do mesmo gênero ou do mesmo autor.
Para que tudo isso aconteça, é fundamental que o contador escolha textos que o cativem. Dessa maneira, ele pode expressar com verdade toda a emoção que sentiu ao descobrir o texto, compartilhando-o com a platéia.
Diferente do ator que representa uma personagem, o contador narra uma história. Ele pode até dar uma “voz” ou criar uma expressão gestual para as personagens do conto narrado.
No ato de contar histórias a utilização de imagens e objetos podem tornar o trabalho mais rico. Mas devemos tomar o cuidado de não utilizar esses mesmos elementos para facilitar a compreensão da narrativa. Eles podem servir para dar mais brilho a uma apresentação e não devem ser considerados fundamentais. O que tem que ser importante é o texto, a palavra. Cada ouvinte deve construir a sua própria imagem, ou ter a possibilidade de “viajar” nas imagens e objetos apresentados.
Não existe um momento certo para contar histórias. É necessário apenas a vontade do contador e o interesse dos ouvintes. Mas o ato de contar histórias é uma prática intimista. Necessita de um espaço adequado para realização do trabalho. Que pode ser criado pelo contador e seus ouvintes: na sala de aula, na praia, numa varanda, enfim, qualquer lugar que haja silêncio e interesse das pessoas envolvidas.
Para quem tem ouvintes constantes (na escola, por exemplo) usar várias formas de narrar as histórias – contando, lendo, utilizando imagens ou outros elementos – criará um leque de opções para formação de um senso crítico. O contador de histórias, assim como o educador, deve formar cidadãos pensantes – pessoas sensíveis que tem a possibilidade de pensar melhor sobre o país e o mundo.
Augusto Pessôa é contador de histórias, ator, escritor, ilustrador e teatrólogo, tendo escrito e dirigido entre outras peças “Maria Borralheira”, O Rei doente de mal de amores” e “Pedro Malasarte”
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