Espaço de Leitura - CHICO LEITE - 3 a 5 de setembro 2011

sexta-feira, 02 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Algumas memórias bem mineiras...

CHICO LEITE

CHICO viveu toda sua vida em Belo Horizonte, de onde nunca se afastou. Conhecido por todos como uma figura folclórica, fazia parte das atrações turísticas da cidade.

Todos na cidade sabiam quem era CHICO LEITE, e quem não o conhecia pessoalmente, já tinha ouvido falar de suas histórias. Era uma lenda.

Certa vez quando caminhava pela Avenida Afonso Pena, Chico passou embaixo de um edifício em construção. Nesse exato momento uma parte do reboco desprendeu-se e feriu-lhe a testa. Correria para o hospital. Nada grave.

CHICO, medicado, cabeça enfaixada, retornou às ruas.

No primeiro dia depois do acidente, foi parado inúmeras vezes por conhecidos que perguntavam o que lhe havia ocorrido.

Chico pacientemente contava toda a desventura que se passara na véspera.

No segundo dia repetiu-se a dose. A todo minuto alguém perguntava:

— O que aconteceu?

E ele era obrigado a contar novamente sua desdita.

Cansado de repetir o ocorrido, Chico teve uma brilhante ideia. Mandou imprimir na tipografia de um amigo toda a história do acidente.

Daí em diante, toda a vez que perguntavam :

— O que houve, CHICO?

Ele, com ar vitorioso, enfiava a mão no bolso, tirava um panfleto e entregava a seu interlocutor dizendo:

— Que saber? Então leia.

Mas a melhor do CHICO aconteceu entre ele e um funcionário dos correios seu amigo de longa data — O ZECA carteiro.

Já tarde da noite, quase amanhecendo, CHICO bebia solitário em um bar da rua da Bahia.

(diga-se de passagem que ele detestava beber sozinho). Quando viu o amigo aproximar-se, lhe disse:

— Sente-se, ZECA, e tome uma cerveja comigo.

— Não posso, seu CHICO, estou trabalhando — respondeu o carteiro.

— Só uma — insistiu o boêmio.

Tomaram a primeira, a segunda, e muitas outras tantas.

Quando já amanhecia, cheio de cartas para entregar, ZECA ponderou :

— Agora chega.

Chico continuou insistindo:

— Só mais uma.

— Não posso — respondeu o carteiro. — Já são quase 7 horas, seu Chico. Não posso mesmo.

E ameaçou levantar-se. Chico agarrou-o pelo braço.

— Seja compreensivo — insistiu ele. — Posso perder o emprego pois tenho toda essa correspondência para entregar. Se eu ficar aqui bebendo, o que eu vou fazer com toda essa mala cheia de cartas ?

Ao que CHICO, com toda a sua verve boêmia, sugeriu :

— Ora ZECA, não chateia, bota tudo no Correio.

Pano rápido.

João Marcos Cavalcanti de Albuquerque, carioca, de família mineira, ex-boêmio, e cheio de histórias para contar.

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