Escorpiões estão tirando o sono de moradores dos bairros Cônego, Olaria e Tingly e também do distrito de Lumiar. O animal peçonhento tem invadido casas e apartamentos e assustado quem não está acostumado a vê-lo. Só este ano, seis pessoas foram picadas por escorpiões em Nova Friburgo, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Com aproximação do verão e o aumento da umidade, a tendência é que o aracnídeo continue a dar as caras na área urbana.
No Tingly, a vendedora Gennuzia Chermont levou um susto quando viu o animal atrás de uma caixa na varanda de sua casa na última quarta-feira, 5. “Estava limpando a varanda com uma amiga, quando ela viu o escorpião. Ficamos assustadas porque nunca tínhamos visto esse bicho aqui no bairro”, disse ela que vive há 26 anos no Tingly. “Soube também que um vizinho da mesma rua encontrou um ainda maior na casa dele. Tenho uma criança de 3 anos e estou preocupada”, disse a mulher.
Moradores de um condomínio de apartamentos no Cônego começaram a criar galinhas depois que escorpiões aparecem no bairro (foto). A galinha é um predador natural do bicho. “No ano passado, tivemos problemas com escorpiões. Este mês, voltaram a aparecer, na área de uso comum e nos apartamentos”, contou um morador que pediu para não ser identificado. “Fico ainda mais preocupado porque tenhos dois filhos pequenos”, completou ele.
Escorpiões representam 60% dos acidentes com animais peçonhentos
Presentes na natureza há mais de 400 milhões de anos, os escorpiões são os animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de casos de intoxicação humana no Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, da Fundação Oswaldo Cruz (Sinitox/Fiocruz). As picadas de escorpiões correspondem a aproximadamente 60% dos acidentes com animais peçonhentos no país.
“Desse total, 97% são classificados como leves, porque os animais não inoculam veneno ou, quando o fazem, apenas uma fração do veneno é injetada, causando apenas dor. Mas entre os acidentes graves envolvendo crianças e idosos a letalidade é considerada alta devido à toxicidade desse veneno. O escorpião é uma praga urbana e em 2015 o número de óbitos por picadas de escorpião, nas áreas rurais e urbanas no país, superou o de mortes por picadas de serpente”, disse biólogo e pesquisador da Fiocruz, Claudio Maurício Vieira de Souza.
No Estado do Rio, são conhecidas nove espécies de escorpiões. Três aparecem com mais frequência próximas ao homem: Thestylus aurantiurus, Tityus costatus (consideradas causadoras de acidentes que não agravam) e Tityus serrulatus, o escorpião-amarelo, responsável por provocar acidentes graves, sobretudo, em crianças e idosos. “Essa é uma das espécies mais venenosas que existem e vem se espalhando em áreas urbanas porque, entre outras coisas, prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos”, disse o biólogo.
Para Cláudio, as cidades não estão sendo invadidas por escorpiões. O que ocorre é que os modelos de alterações ambientais e de ocupação do espaço pelo homem promovem a criação de condições que favorecem várias espécies de animais que passam a viver em uma situação chamada de sinantropia, quando animais colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e água.
“Entre essas espécies estão algumas de escorpiões perigosos, que como vivem junto com o homem, causam os acidentes e são dispersadas pelas nossas atividades, aumentando o problema ou introduzindo-o em novas áreas. Não há uma migração espontânea de escorpiões para as cidades”.
Verão é a época mais propícia para infestações
Cláudio explica que o escorpião não costuma atacar sua presa e usa o veneno como instrumento de defesa. O animal é atraído por locais habitados por baratas, que são uma fonte de alimento e costumam aparecer com mais frequência durante o verão. Há uma correlação direta entre a ocorrência de acidentes e os meses mais quentes e úmidos do ano. Os escorpiões se adaptam muito bem à vida no subterrâneo das cidades e quando buscam um abrigo provisório, acabam subindo pelas tubulações, ocasiões em que podem terminar escondendo-se dentro de residências.
Segundo o especialista, há regiões onde os escorpiões perigosos são endêmicos, ou seja, fazem parte da fauna natural do lugar e devido às condições explicadas anteriormente, aumentam suas populações e, consequentemente, o número de acidentes. No estado, as regiões mais atingidas pelos escorpiões são o Sul fluminense, Médio Paraíba, Norte e Noroeste do estado, mas também, segundo o especialista, cidades na Região Serrana e em áreas da Região Metropolitana, onde o problema também é importante.
Como se proteger
O biólogo orienta que para a prevenção de acidentes com escorpiões são necessárias medidas que eliminem os abrigos úmidos onde vivem (entulhos, frestas, materiais de condução, forros, panos deixados no chão, encanamentos, entre outros); cuidados com as aberturas por onde possam ter acesso às casas (ralos, frestas de portas, janelas, vasos de plantas, materiais em geral que entram na residência) e; eliminação dos insetos domésticos (limpeza frequente, cuidados com o lixo, etc.).
“Existem inseticidas que são registrados nos órgãos competentes para controle de escorpiões, mas, embora testados em laboratório, ainda não foram avaliados com métodos científicos de campo no Brasil. Há também empresas de controle de pragas registradas que oferecem esse serviço com garantia”, disse.
- Encontrei um escorpião em casa. O que fazer?
Cláudio destaca que mesmo perigosos, os escorpiões são protegidos pela Lei de Fauna Silvestre e somente podem ser controlados por órgãos públicos ou entes privados quando em sinantropia e oferecendo risco à saúde humana. A população deve, sem se expor a risco de acidente, tentar aprisionar o animal e informar ao órgão público municipal de saúde. Em Friburgo, deve-se ligar para Vigilância em Saúde Ambiental, telefone (22) 2543-6293.
- Fui picado, e agora?
No caso de picada de escorpião a pessoa deve lavar o local com água e sabão e procurar socorro médico imediatamente, informa o especialista. “A pessoa picada pode procurar o primeiro atendimento em qualquer serviço de saúde, mas o tratamento específico, para aqueles acidentes classificados como moderados e graves, deve ser feito em centros de referência onde há soro específico para o tratamento”, afirmou o biólogo. Em Friburgo, o atendimento é feito no Hospital Municipal Raul Sertã, informou a Secretaria Municipal de Saúde. (Com informações da Agência Fiocruz)
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