Escombros, pedras e terra ameaçam descer na Vilage

segunda-feira, 05 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Escombros, pedras e terra ameaçam descer na Vilage
Escombros, pedras e terra ameaçam descer na Vilage

Vilage: moradores temem nova tragédia

Eloir Perdigão

A pior área da cidade em termos de consequências da tragédia de janeiro. Esta é a opinião do secretário municipal de Obras, Hélio Gonçalves Corrêa (Helinho). As barreiras não podem ser mexidas sob pena de provocar o deslocamento do resto das encostas. O secretário chega a afirmar que não há como recuperar o alto do bairro Vilage. Do meio do escadão para cima, o jeito, segundo Helinho, é evacuar todos os moradores e reflorestar. O presidente da associação de moradores local, José Carlos Rodrigues Benedito (Roxinho), concorda em parte com o secretário. Ele diz que, pelo menos, a limpeza do bairro poderia ser feita.

OBRAS CARÍSSIMAS - Lembrando que as contenções de encostas da cidade estão entregues ao governo estadual, Helinho afirma que essas obras no Vilage são caríssimas. As encostas são parte integrante de todo o barranco que começa próximo ao Tingly, passa pelas ruas Cristina Ziede e Carlos Éboli e segue até o final da Avenida Euterpe Friburguense. “Isto é uma encosta só e uma obra muito cara”, reafirma.

O local mais perigoso do bairro, no entanto, é na parte alta, do meio do escadão para cima, que é muito íngreme e com uma casa apoiada na outra. “Se descer uma, descem todas”, alerta. Para o secretário, o governo estadual deveria dar atenção especial ao Vilage e iniciar logo uma contenção no local. E grande parte dos moradores deve ser removida o quanto antes. “Eu não vejo tanto perigo na Rua General Osório, como se tem falado tanto. Mas no Vilage é diferente, o perigo é enorme. Aquele povo está correndo risco, sim”, garante.

Helinho também lembrou o perigo que correm os moradores da parte baixa. Em caso de escorregamento da parte alta, todos da parte baixa serão atingidos. O secretário crê que fica mais barato para o governo estadual remover parte dos moradores para outro local. “Mas esta é uma questão que tem que ser analisada com mais profundidade”, pondera.

CANALIZAÇÃO DAS ÁGUAS – Enquanto as obras não chegam ao Vilage, Helinho afirma que é urgente a canalização das águas pluviais no bairro. A drenagem não tem local específico e deve ser feita contornando toda a encosta, desde a Rua Carlos Éboli, passando pelo Vilage, até a Haga. “Aquilo tudo ali é uma encosta só. Agora, o local mais perigoso é onde tem mais casas, o escadão, onde há várias barreiras que não puderam ser retiradas ainda, sob o risco de novos deslizamentos”.

Helinho comenta que é comum receber moradores do Vilage apelando para a retirada das barreiras, e ele sempre responde que não é possível realizar o serviço sob o risco de provocar a descida do restante da encosta. “Eu estou preocupado, o prefeito Dermeval Neto também está e creio que as autoridades estaduais já devem estar voltadas para isto”.

Depois do início da contenção de oito encostas, Helinho espera que o governo estadual tome uma decisão sobre como começar a resolver os problemas do bairro. “Eu acho que o Vilage é a prioridade número um”, enfatiza o secretário, argumentando que, enquanto as obras de contenções não chegam, pelo menos a drenagem das águas pluviais deveriam ser feitas em caráter emergencial.

Helinho cita que não sabe, no momento, que recursos dispõe a Prefeitura (que enfrenta dificuldades por obrigação de cuidar de todas as áreas afetadas no município) para atender aos moradores do Vilage. Ele pretende, já na próxima semana, providenciar a limpeza dos bueiros e das redes de águas pluviais “que sobraram”, observa. “A maior parte está danificada, mas já a partir da semana que vem vamos fazer uma busca e tirar a sujeira. Isto nós podemos fazer. Mas, na verdade, é preciso construir galerias, saindo do Rio Bengalas, atravessando o asfalto e seguir até o alto do Vilage. Ou até onde puder, quer dizer, obra cara”. E finaliza, preocupado: “A situação do Vilage é grave”.

Associação de moradores reivindica

pelo menos a limpeza do bairro

O presidente da associação de Moradores do Bairro Vilage concorda que a situação é muito complicada e merece pelo menos atenção básica que poderia começar com a limpeza das ruas, que estão com muita terra. “Se chover essa terra vai descer para as ruas de baixo”, preocupa-se.

Roxinho adverte que os moradores não estão pleiteando retirada de barreiras ou obras de contenções agora. “Isto fica para depois, mas, por exemplo, a limpeza dos bueiros, que estão todos entupidos, é um serviço que tem que ser feito com urgência. É o mais necessário e nem isto foi feito até agora”.

Roxinho teve sua casa atingida pela avalanche, que está interditada e marcada para demolição, como tantas outras no bairro. Ele está morando em casa alugada (sem aluguel social) em Duas Pedras e trabalha à noite na Faol. Visita regularmente a Vilage e mantém constantemente contatos com outros diretores da associação de moradores, que continuam morando no bairro, como o vice-presidente Renato Reis, e os diretores Fabrício Rodrigues e Maurício Schuabb, para se inteirar do que está acontecendo.

Segundo Roxinho, todos concordam que a limpeza é prioridade: “Se a limpeza não for feita, vai dar problema. Tem muita terra nas beiradas das ruas e se chover vai descer”, prevê. Essa situação já foi levada por ele a reuniões na Câmara Municipal e à Empresa de Obras Públicas (Emop), do governo estadual. Na Emop alegaram que precisam de autorização da Prefeitura para retirar as barreiras. “Eles ficam empurrando um para o outro e ninguém resolve a situação”, lamenta Roxinho, lembrando que a única providência tomada no Vilage até agora foi a marcação das casas para demolição. Entretanto, algumas dessas casas continuam habitadas, porque as pessoas não conseguem aluguel social e não têm para onde ir. “Essas pessoas são as que correm maiores riscos”, frisa.

Diante desse quadro, Roxinho não sabe mais o que fazer. Ele ouviu de um geólogo que há muita pedra e terra sem firmeza na área do escadão e na Rua Zair Pires Pirazzo, entre outras. De acordo com o geólogo, todo o morro está condenado.

AGRADECIMENTO – Roxinho só tem um agradecimento a fazer: ao ex-coordenador da Defesa Civil friburguense, Roberto Robadey, e sua equipe. Graças ao contato feito por telefone na noite do dia 11 de janeiro, Roxinho saiu de casa, de guarda-chuva em meio à chuvarada, e avisou os moradores do perigo, que saíram de suas casas. “Se eles não tivessem me avisado até eu teria morrido, porque minha casa foi destruída”.

De acordo com Roxinho, graças ao aviso da Defesa Civil ninguém morreu no alto do Vilage. No entanto, sete pessoas morreram no bairro na tragédia de janeiro.

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