Antonio Fernando
Bons filmes não precisam de prêmios para se tornarem imortais. Muitos filmes marcantes, cultuados por cinéfilos e procurados frequentemente nas locadoras ficaram fora do tapete vermelho do Oscar norte-americano em suas 87 edições, mas até hoje são vistos e admirados, seja na tela grande ou em aparelhos de DVD, inclusive colecionados domesticamente por admiradores do cinema.
Com todo o frisson do espetáculo, até o mais bem informado dos cinéfilos tende a achar que o Oscar é a maior e melhor coisa que poderia acontecer a qualquer filme: garantia de fama eterna, respeito, uma obra a ser estudada por futuros especialistas... Mas, não. Na verdade, o prêmio da Academia passa bem longe disso.
Alguns filmes que acabaram por se consagrar ao longo do tempo jamais ganharam um Oscar (pelo menos, não na categoria principal). Outros, nem mesmo foram indicados. Do outro lado, alguns vencedores caíram no esquecimento rapidamente, como tantos blockbusters que passam pelos nossos olhos anualmente.
Injustiça dos críticos, preconceito, machismo e ideologias são alguns motivos pelos quais obras primas não alcançaram a glória de uma premiação. Mas o público não costuma andar na mesma direção dos julgadores e termina por consagrar quem eles menos esperavam. Ao lado, uma lista destas obras que confirmam a frase de Milton Nascimento: "Todo artista tem de ir onde o povo está”. Para surpresa dos críticos e alegria geral dos cinéfilos.
O Grande Ditador (Charlie Chaplin, 1941)
Quem venceu: Rebecca (Alfred Hitchcock)
Estamos falando de Hitchcock e Chaplin, dois gênios do cinema. Mas, enquanto Rebecca ganhou dois Oscars naquela noite, O Grande Ditador (indicado a cinco) não levou nenhum. O filme foi o primeiro de Chaplin inteiramente falado e fez uma sátira sobre a Segunda Guerra, com um discurso imitando Hitler que se tornou um dos mais famosos da História. Quem se lembra de "Rebecca”?
Cidadão Kane (Orson Welles, 1942)
Quem venceu: Como era Verde o Meu Vale (John Ford)
Durante 50 anos, Cidadão Kane foi considerado o "melhor filme do mundo” pelos críticos internacionais. Era de se esperar que o filme, que narra a trajetória de um magnata da comunicação, seria eleito o melhor do ano, certo? Errado. "Kane” foi indicado a nove Oscars e venceu apenas o de Melhor Roteiro. Quem se lembra de "Como era verde...”?
Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock, 1959)
Quem venceu: Gigi (Vincente Minnelli)
Depois dos 50 anos de hegemonia de Orson Welles, quem assumiu o posto de "melhor filme do mundo” para os críticos (em 2012) foi Um Corpo que Cai, de Hitchcock. O suspense abusa de tramas falsas para entorpecer o espectador a um estado de "vertigem”, como o nome original sugere. O filme foi indicado a duas categorias técnicas e saiu de mãos abanando. Quem se lembra de "Gigi”?
2001 – Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick, 1969)
Quem venceu: Oliver! (Carol Reed)
Stanley Kubrick é um dos exemplos mais evidentes de que, às vezes, a Academia erra feio. O diretor, que lançou poucos filmes, mas todos extremamente cultuados, ganhou um único Oscar em vida: o de Efeitos Especiais por 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Efeitos especiais, mesmo? O filme se arriscou numa aventura espacial enquanto a Nasa ainda tentava levar o homem à lua, previu tecnologias reais como o iPad e lançou a questão que se tornaria o cerne de toda uma geração: e se o computador se voltasse contra o homem? (Nota: o filme não foi nem indicado à categoria principal). "Oliver!”?...
O Exorcista (William Friedkin, 1974)
Quem venceu: Golpe de Mestre (George Roy Hill)
Não tivessem os jurados sido tão apressados, Friedkin teria seu Oscar no momento certo (e não por Operação França, de 1971). O Exorcista, 9ª maior bilheteria de todos os tempos, se tornou um ícone para o cinema de horror, explorando também o suspense e um profundo drama pessoal do protagonista, que tenta ser imitado até hoje, sem sucesso. O filme levou o Oscar por Melhor Roteiro Adaptado e Som. Bem, "Golpe de Mestre” pelo menos dá para lembrar.
Guerra nas Estrelas (George Lucas, 1978)
Quem venceu: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen)
Olhe à sua volta. Quantos Darth Vaders, C3POs, sabres de luz e Yodas você vê? A febre por Star Wars (ou Guerra nas Estrelas, como preferir) já dura mais de 30 anos e deve se renovar por mais algumas décadas, se a Disney fizer um bom trabalho com a marca. O filme que deu origem a tudo isso, lançado em 77, foi o rei das categorias técnicas, mas perdeu para Woody Allen nos prêmios principais. "Noivo Neurótico...” já deu.
O Iluminado (Stanley Kubrick, 1981)
Quem venceu: Gente Como a Gente (Robert Redford)
O Iluminado, um dos filmes de terror mais lembrados de todos os tempos, com uma das melhores (senão a melhor) atuação da carreira de Jack Nicholson, nunca foi indicado a um Oscar. Em nenhuma categoria — nem mesmo a de Melhor Ator. Precisa dizer mais? O filme conta a história de uma família que vai morar num hotel isolado, onde estranhas aparições vão enlouquecendo o pai e o filho pequeno. Inspirado num livro de Stephen King. "Gente...”, não vale reprise.
E.T – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1983)
Quem venceu: Gandhi (Richard Attenborough)
Sejamos justos: E.T. ganhou, sim, quatro Oscars. Mas todos foram em categorias técnicas, e não nas badaladas estatuetas de Melhor Filme e Diretor, nem mesmo Roteiro. Isso para um dos mais populares filmes de Spielberg. É curioso, mas, aparentemente, a Academia prefere sua versão "séria”, mostrada em O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler (ambos premiados). Gandhi, por sua vez, ganhou oito estatuetas. Um belo filme, mas oito estatuetas?
Se7en: Os Sete Pecados Capitais (David Fincher, 1996)
Quem venceu: Coração Valente (Mel Gibson)
Coração Valente é um bom filme, mas ganhar em cinco categorias, incluindo Melhor Filme e Direção, quando David Fincher estava em jogo? Fincher, aliás, jamais ganhou um Oscar, nem mesmo por Clube da Luta (indicado apenas por efeitos de som). Se7en, inspiração para os suspenses que analisariam a mente de serial killers pelas próximas décadas, acabou indicado apenas na categoria de edição e não levou nada. Já "Coração Valente” passa nas sessões da tarde. Tem público?
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