É difícil dar uma ideia da desolação das regiões mais expostas aos estragos causados pelas torrentes e inundações. Atravessando semelhantes paisagens é difícil resistir ao sentimento de que a natureza lançou qualquer maldição sobre essas florestas sublimes mas assustadoras, condenando-as a uma esterilidade e a uma ruína perpétua. É difícil pensar que foram um dia, e seriam ainda, sem a loucura dos homens, abençoadas com todas as vantagens naturais que a natureza concedeu.
O problema da erosão acelerada está intimamente ligado ao regime das águas, profundamente modificado nas terras degradadas pelo homem. A água é, em valor absoluto, inesgotável na superfície do globo terrestre. Dentro de certos limites, porém não é tanto a sua abundância quanto a regularidade do seu ciclo que condiciona a fertilidade de uma região.
As civilizações nascem e prosperam em certas medidas em função de uma feliz administração da capital hídrica.
Se considerarmos os exemplos das grandes civilizações do Oriente próximo, constataremos que nasceram na orla dos desertos tornados férteis pelo homem que soube aproveitar as águas vindas das montanhas vizinhas. A ruína dessas civilizações foi, em parte, determinada pela erosão das montanhas que deixaram de funcionar como coletores e acumuladores hídricos.
Os vestígios das grandes cidades da Ásia Ocidental e do norte da África sugerem-no de forma peremptória. Existem exemplos similares na Ásia Oriental e na América do Sul.
Esses dramas da época histórica estão se repetindo hoje em dia em certas regiões do planeta, em consequência da erosão acelerada e devido à transformação irracional dos biomas, ao desflorestamento e a práticas de cultivo pernicioso.
A ação humana teve repercussões particularmente graves no equilíbrio hídrico das regiões desgastadas pela erosão. Essas repercussões podem ser classificadas em três tipos diferentes. Se bem que intimamente ligados...Dessecamento progressivo, por vezes desertificação das zonas afetadas pela erosão; inundações; acúmulo desordenado e incontrolável de materiais arrancados nas partes superiores das bacias hidrográficas.
Modalidades da Erosão Acelerada
Sem entrar no pormenor dos diferentes tipos de erosão, relembro que esse fenômeno é de origem eólica; os ventos provocam a remoção das partículas soltas, cujo diâmetro se situa entre 0,1 e 0,5mm, e a suspensão dos elementos de diâmetro inferior a 0,1mm. As partículas arrastadas são sempre relativamente finas, pois o vento efetua uma seleção local, abandonando rapidamente as partes mais grosseiras, por evidentes razões mecânicas. As poeiras mais tênues podem ser levadas a grandes altitudes, e transportadas, desse modo, a distâncias consideráveis antes de tornarem a cair sobre o solo, por vezes sob forma de precipitações de lama.
O agente de destruição dos solos mais poderosos é, no entanto, constituído pelas chuvas violentas que provocam a ruptura dos agregados e a dispersão dos cimentos. A erosão pluvial reveste formas diversas.
A erosão que se faz por camadas descama uniformemente, sobretudo nas vertentes suaves e regulares, a camada superficial, rica em húmus, sem modificar o aspecto geral ou relevo, durante os primeiros estágios.
Em geral pouco visível no início, portanto particularmente perigosa, traduz-se apenas por imperceptíveis modificações na cor dos solos e pelo aparecimento de pedras que permanecem no local, enquanto que os materiais mais finos em que elas estavam imersas vão desaparecendo. O elemento que estabelece a ligação entre os vários constituintes do solo, assim como as partículas finas, são retiradas, provocando um rápido empobrecimento das terras em elementos nutritivos e uma baixa da capacidade de retenção da água, com todas as consequências previsíveis sobre a vegetação, cujo desaparecimento progressivo agrava os efeitos da defradação.
Essa forma de erosão, por vezes lenta e insidiosa, assume em certos casos proporções consideráveis. Frequentemente as chuvas agem dessa forma, ainda mais em Nova Friburgo e região, devido aos efeitos do escoamento das águas visíveis, essencialmente, no caso de terrenos acidentados. A água que não penetra no solo reparte-se em filetes que escoam seguindo as linhas de maior declive, determinando uma rede de pequenas ranhuras paralelas, por onde descem minúsculas torrentes formando a jusante, cones de dejeção em escala proporcional. Essas torrentes, rápidas e impetuosas, arrastam partículas cada vez maiores. Dá-se a esse fenômeno o nome de erosão em sulcos.
Um agravamento desse fenômeno significaria, sem dúvida, o que aconteceu em 2011 em Nova Friburgo, e em outras regiões da Serra dos Órgãos.
Jorge Natureza é conservacionista e ambientalista
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