Nova Friburgo e o bolão. Uma relação ainda pouco divulgada, porém, íntima ao ponto de fazer parte da história do município. Paralelo à Copa do Mundo de futebol, uma outra bola, de 3,3 kg, vai rolar pelas pistas em Luxemburgo e a equipe feminina do Nova Friburgo Country Clube, vice-campeã do mundo em 2012, tentará chegar ao título inédito este ano. A delegação com 16 atletas viaja amanhã para o Campeonato Mundial Adulto, realizado entre os dias 20 e 22 de junho. O time masculino da Sociedade Esportiva Friburguense também participará do torneio, que reunirá clubes de países tradicionais como França, Alemanha e Bélgica. Para custear as despesas com o deslocamento, cada jogador recebeu uma ajuda da Prefeitura no valor de R$ 1.500,00.
"Esses recursos nos permitem viajar e continuar treinando. O bolonista paga para se divertir, e até mesmo para ser campeão. A gente costuma pagar as viagens nacionais e internacionais, e sustentamos o amor ao esporte do nosso próprio bolso. Existem as ajudas de patrocinadores e colaboradores, mas nunca o suficiente para pagar todas as despesas. Vamos continuar pagando porque amamos esse esporte”, comenta Juliana Ieker, presidente da Federação do Estado do Rio de Janeiro e atleta do Nova Friburgo Country Clube.
Desde 2011, através das conquistas internacionais, algumas atletas recebem o incentivo financeiro do programa Bolsa Atleta, do governo federal. Entretanto, para mantê-lo é necessário estar entre os três primeiros no campeonato mundial. Nem sempre o dinheiro é depositado, e mesmo com ele, ainda é necessário pagar parte das despesas de viagens do próprio bolso. Ainda assim, o valor ajuda na melhor preparação dos atletas e os resultados aparecem. Patrícia (moradora de Petrópolis, que treina em Nova Friburgo) e Beatriz Sorrentino conquistaram a medalha de ouro defendendo o Brasil nas duplas. No masculino, a SEF acumula o maior número de títulos estaduais. Feitos inéditos que colocam o país e o município no topo da modalidade. "Temos a obrigação de repetir o desempenho e tentar chegar ao topo do mundo.”
Luta pela popularização
O bolão é uma herança das colonizações suíça e alemã, difundida pelas pistas do Nova Friburgo Country Clube e da Sociedade Esportiva Friburguense desde a década de 50 e eternizada pelas gerações subsequentes. A história do esporte no Brasil pode ser dividida em antes e depois de 1995. Naquele ano, o atleta paulista Rogério Arc conquistou a medalha de ouro em um campeonato mundial. No ano seguinte, o terceiro lugar na categoria juvenil e a quarta colocação no feminino, através de Juliana e Adriana, de Curitiba, consolidaram o país no cenário internacional e proporcionaram um novo olhar sobre a modalidade. "O Brasil era visto como um país sem técnica. Essas conquistas mudaram a concepção da modalidade e mostraram que o país aprendeu a jogar. Hoje somos respeitados”, ressalta Juliana.
Apesar de amador, o bolão exige uma dedicação profissional. Os atletas utilizam outras modalidades, como caminhada, natação e corrida, para manter a forma e desenvolver resistência. O desgaste durante o campeonato é grande: os jogadores chegam a arremessar 40 bolas em competições nacionais, divididas em dez jogadas por cada pista. No mundial, são 120 arremessos por atleta, sendo cinco de aquecimento por pista (totalizando 140 bolas). "O desgaste, tanto físico como mental, é muito grande. Exige muita preparação e concentração, pois a repetição de movimentos é intensa. É um esporte que não proporciona o ganho físico e o atleta precisa praticar outra atividade para estar em forma para o bolão.”
A estrutura de pistas e equipamentos exige um alto investimento, reforçado pelos custos elevados de manutenção. O fato atrapalha a popularização do bolão, mas não impede a cidade de ser uma das poucas no Brasil a ter duas pistas em condições de receber eventos oficiais. A Federação do Estado do Rio de Janeiro conta com quatro clubes filiados: o Germânia, Nova Friburgo Country Clube, SEF e Coral, de Petrópolis. Ao todo, são cinco federações — Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul —, pertencentes a uma Confederação dividida em bocha e bolão (o boliche já possui uma confederação própria). No Rio de Janeiro, existem apenas dois clubes com ginásios, sendo que o CGB está desativado e o Germânia não possui atletas. Portanto, o trabalho de renovação torna-se parte importante no processo de expansão. Na SEF, as escolinhas são coordenadas por Diego às sextas-feiras, e no Country, por Juliana às terças e quintas-feiras, às 19h. Os sócios do clube não pagam, enquanto os não-sócios contribuem com uma mensalidade.
"Precisamos divulgar mais esse esporte e, quem sabe, voltar a colocá-lo no Intercolegial. A renovação é muito difícil e precisamos desse incentivo. Até para que esse retorno aconteça é preciso que a gente encontre pessoas que tenham disponibilidade para coordenar as competições.”
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