Texto: Ana Borges / Fotos: Lúcio Cesar Pereira
O professor de yoga e pilates Igor Fonseca — que acrescenta alongamento em suas aulas — é formado em educação física e se dedica a promover bem-estar e vida saudável aos frequentadores do Samsara Estúdio de Yoga. Dedicado ao estudo da meditação e da filosofia oriental, ele participa de cursos, palestras e retiros para ampliar seus conhecimentos e transmiti-los da maneira mais eficiente aos seus alunos. Em suas aulas de yoga, pilates ou alongamento, ou quando combina as técnicas destas modalidades, o objetivo é sempre o mesmo: equilibrar corpo e mente. De todos os problemas que lhe são relatados, um dos mais recorrentes é a insônia, juntamente com as dores, geralmente resultantes de um único motivo, o estresse, esse mal que nos aflige e parece impossível nos livrarmos dele. No entanto, somos nós os responsáveis por ele, seja por ignorância, negligência ou incapacidade de atacar suas causas: se fizermos um levantamento honesto de nosso estilo de vida, não será nada difícil listar inúmeros hábitos que cultivamos sistematicamente .Aliás, com extrema dedicação, como: péssima alimentação; vida sedentária; bebida em excesso, cigarro, só para citar os mais comuns. Excesso, inclusive, é o nome que acompanha todos os hábitos citados acima. E esse excesso faz toda a diferença. Complicado viver sem estresse nesse planeta conturbado de hoje, então, como conseguir dormir bem, ter uma vida sem dor e doenças? Se você quiser, mas quiser mesmo, dá para reverter esse quadro e até ser feliz neste mundo de Deus. É disso tudo que Igor fala nesta entrevista. E depois de ouvi-lo fiquei com uma gratificante sensação de que a vida pode ser bela. De verdade. Confira.
Light – Qual a finalidade da prática da yoga?
Igor Fonseca – A tarefa do yoga e do estado meditativo é capacitar a mente para que esta consiga buscar uma análise própria e coerente sobre os eventos da vida. Caso contrário, como dizem os hindus, não seremos diferentes de uma colher, que transporta a sopa, mas nunca consegue experimentar seu sabor. À medida que caminhamos em direção ao autoconhecimento e nos damos conta da fragilidade da mente humana, desenvolvemos maior tolerância pela diferença e abrimos um espaço na mente para entender que essa fragilidade é compartilhada por todo mundo. Este é o princípio para desenvolvermos a verdadeira compaixão. E isso se reflete na forma como nos saudamos: "Como yogue, eu reverencio em você a mesma divindade que habita em mim”.
Como adaptar essa prática para o nosso universo?
Por mais popular que o yoga tenha se tornado no Ocidente, não se pode negligenciar que esta prática foi concebida nos moldes orientais, e que a forma de pensamento hindu e a sua relação com a história, a filosofia, a organização social e a religião são bem diferentes do nosso tipo de construção desses conceitos. O historiador da arte e indólogo Heinrich Zimmer diz em seus livros sobre as filosofias da Índia que não devemos "pegar Deus emprestado” dos indianos, mas construir essa visão baseada na nossa história e nas nossas referências. Esta seria, a seu ver, a maneira autêntica de usufruir desse conhecimento oriental.
O que está errado no nosso estilo de vida? Vivemos com pressa, reclamando da falta de tempo, com dores pelo corpo e com uma sensação angustiante de sufocamento...
Bem, primeiramente, mal conhecemos nosso corpo. Não nos cuidamos como deveríamos. Tiramos tudo dele sem colocar nada de volta. Isso tem um preço e o corpo cobra. A resposta está na própria pergunta. Só para ilustrar nosso principal problema, segundo os tibetanos, nascemos com um número certo de respirações. Não sei se os monges falam isso de modo metafórico ou na forma literal mesmo. Eles dizem que quem respira rápido usa e gasta oxigênio mais rapidamente e acaba por deixar este mundo mais cedo também (risos). Realmente, quem respira assim, da maneira "curta”, forma um volume de ar pequeno. Em consequência, não vai conseguir nutrir o corpo com o oxigênio necessário. Assim, vai afetando todo o funcionamento de seu corpo. Isso é apenas uma peça desse mosaico de dificuldades que criamos para "não” cuidar do nosso corpo e mente como devemos fazer para viver com equilíbrio.
É complicado buscar o autoconhecimento?
É o ego que nos impede de reconhecer que toda a felicidade está dentro de nós. Não é necessário buscar fora algo que já possuímos internamente. É tudo uma questão de autoconhecimento, de reflexão, de se permitir um tempo para si mesmo, e apenas para si. Custa tão pouco, não é possível que uma pessoa não consiga parar meia hora que seja por dia para ir ao encontro de si mesma, respirar fundo, com calma, organizar os pensamentos para descansar a mente, relaxar o corpo, dar um tempo nas emoções. Parar é o primeiro passo.
Como alcançamos o equilíbrio?
As técnicas do yoga equilibram o corpo e a mente, para que possamos nos reconhecer como um ser completo. Precisamos entrar em um estado de auto-observação para sentir nosso próprio corpo e, a partir desse contato mais profundo, recuperar a saúde. O condicionamento físico coloca a mente em um estado meditativo e de atenção diferenciada, que por si só vai diluir essa agitação emocional e permitir uma exploração da mente de um modo mais claro e consciente.
Assim sendo, não é difícil concluir porque uma grande maioria das pessoas dorme mal...
E também porque não se prepara para dormir. O indivíduo chega em casa carregando o universo nas costas, com o cérebro "fritando”, pensando no trabalho e nas metas do dia seguinte. Aí, faz uma alimentação completamente equivocada, se irrita com questões domésticas, com a mulher/marido e/ou filhos, esquece ou não sabe que dormir é um período sagrado. Acha que é simplesmente se jogar na cama e fechar os olhos, isso depois de tomar um comprimido. Você não vai dormir, vai apagar, o que é completamente diferente. Veja bem, não estamos falando aqui de casos médicos, de tratamentos com indicação medicamentosa. Isso é outra história. Estamos falando de qualidade de vida.
Como devemos nos preparar para dormir?
O quarto deve ser o local mais tranquilo da casa. Se a pessoa vai dormir, pra quê ligar a televisão? Se deseja assistir um programa ou filme, deve escolher um tema leve, para se distrair, e, de preferência, em outro ambiente. Outra coisa, nada de levar comida pra cama, fumar, nem ouvir música barulhenta. O colchão e os travesseiros têm que ser adequados ao seu peso e altura, e a temperatura ambiente agradável.
Sob essa perspectiva, temos muito o quê mudar. Tenho a impressão que a maioria das pessoas nem pensa ou sabe desses detalhes.
É possível, embora a mídia escrita e televisiva abordem esse tema com muita frequência. Portanto, se queremos melhorar nossa qualidade de vida, é bom começar logo. Quanto mais deixarmos pra depois, mas difícil vai ficar. E esse começo pode ser através de atitudes simples, como ir para casa caminhando, sem pressa, relaxando. Ao chegar, é bom tomar um banho morno, consumir uma refeição leve, e até ajuda ouvir uma música relaxante enquanto se prepara para deitar ou mesmo já deitado. Outra coisa: esquecer os problemas é fundamental. Deixe tudo lá fora. Viva aquele presente, esqueça passado e não pense no futuro, que não adianta mesmo. Aí você vai vivenciar uma sensação única, de prazer e paz, como nunca experimentou antes. Permita-se esse momento, você merece.
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