Ana Borges
São tantas perguntas, questionamentos, argumentos, descobertas que levam a novas aventuras através do espaço numa infinitude inquietante, que por mais fotos e dados que nos enviem, mais confundem do que explicam... No entanto, continuamos querendo saber. Não dá nem queremos desistir de continuar sonhando, imaginando, vendo "coisas”. Quanto mais longe vamos, mais longe ainda queremos ir. E tal como o infinito, essa jornada do homem em busca de respostas é igualmente infinita. No momento, o grande acontecimento espacial foi o pouso de um robô num cometa que percorre o Universo numa velocidade de 135 mil km/h, depois de viajar (o robô) através de nossa galáxia por 10 anos. Esperam os cientistas que ele nos responda, ou pelo menos, nos dê uma pista: Afinal, de onde viemos? E para onde vamos? Bom, por enquanto, paciência, resta-nos ir divagando, olhando para o alto, seja nos momentos de aflição, de agradecimento, ou simplesmente para ver se vai chover ou fazer sol. Se existe um Deus, tal como a Bíblia o descreve, será que Ele mora mesmo lá em cima, em algum cantinho? Onde ficam os anjos? Se você, leitor, não acredita que esse tipo de indagação ainda seja feito, confira nesta entrevista o que nos conta o professor Reinaldo Kiss Ivanicska Junior, diretor do Clube de Astronomia, entidade mantenedora do Planetário de Nova Friburgo, e professor de ciências, matemática, física e astronomia.
Light – O que as crianças, jovens e adultos querem saber quando olham o céu através do telescópio?
Ivanicska – De uma maneira geral querem saber de tudo, do básico às questões mais complexas, dependendo do nível escolar. E, às vezes, temas para os quais continuamos sem respostas. Mas lembro que numa das atividades que fazemos para o público na praça, um senhor, em particular, me chamou a atenção. Ele passou o tempo todo nos observando, de longe. Quando íamos começar a desmontar nosso equipamento, ele se aproximou e pediu para dar uma olhada, queria saber o que estávamos vendo. Aí ficou direcionando os olhos, ora um, ora outro, aqui e ali, pedia para mudar a posição do telescópio, foi ficando impaciente. Até que desistiu e perguntou: "Mas não dá pra ver Deus? E os anjos? Onde eles estão?” Era nisso que ele estava interessado: Deus, anjos e santos. Não ligava a mínima para estrelas, lua, planetas. Ele buscava Deus.
O que despertou a sua curiosidade?
Desde a infância eu me interessava por ficção científica, no cinema e nas séries de TV. Ficava fascinado com filmes como Guerra nas Estrelas e Jornada nas Estrelas, e a série Cosmos (de Carl Sagan, na TV). Eu não entendia quase nada, mas ficava maravilhado com as imagens. Aos domingos, só saía de casa para jogar futebol com os amigos depois de assistir ao episódio de Cosmos.
Desta forma, foi fácil você distinguir astronomia da astrologia.
Sim. Como eu consumia tudo sobre o assunto, ainda jovem soube a diferença. Antigamente, era a astrologia que dominava o imaginário das pessoas, que acreditavam que as estrelas é que ditavam seus destinos, ou que podiam interferir neles. De qualquer forma foi positivo, porque serviu para fazer a ligação entre os seres humanos e o universo.
Houve algum fato na sua juventude ligado ao espaço que tenha marcado você?
Eu me lembro da passagem do cometa Halley, em 1986. Até pensei que seria uma aparição fantástica, como em 1910, quando o cometa deu um show, passando muito próximo da Terra e com grande visibilidade. Mas em 86 foi uma aparição bem fraquinha, não causou nenhum tipo de comoção, embora o Halley só apareça a cada 76 anos. Em 1910, pouco se sabia sobre o Universo. A imprensa fez um alarde tremendo sobre a passagem dele, muita gente achou que o mundo ia acabar, as pessoas ficaram assustadas. Hoje, sabemos que existem milhares de meteoros caindo em vários pontos da Terra, como na Rússia, este ano, cuja explosão feriu algumas pessoas. No Brasil também, recentemente caiu um no mar, em Recife-PE, provocando um clarão na linha do horizonte.
De onde eles vêm?
A maior parte dos asteroides orbita num cinturão que fica entre Marte e Júpiter. Já o cometa vem dos confins do sistema solar, em direção ao Sol. Quando não cai no Sol, ele consegue dar a volta e ir embora. O Sol é incrivelmente grande e sua força de gravidade acompanha essa proporção, o que faz dele um "perigoso predador espacial”.
E essa novidade do robô Philae?
Realmente, o assunto virou tema de conversas nas famílias, entre amigos e nas escolas, desde que, há 10 dias, o robô Philae separou-se da sonda espacial Rosetta, para tornar-se a primeira nave espacial a pousar em um cometa. Embora não tenha pousado exatamente no lugar planejado, a porta aberta por esse projeto é uma grande façanha, uma vitória sem precedentes. Agora é aguardar a evolução dos acontecimentos e o quanto esse equipamento vai corresponder às expectativas dos cientistas envolvidos. Em resumo, o fantástico é que, através de estudos e pesquisas, conseguimos enviar uma nave que pousa uma sonda num cometa que está se movimentando a 135 mil quilômetros por hora.
O que é um pulsar? É verdade que emite som?
É um tipo de estrela que no fim da vida explode deixando em seu lugar um núcleo muito denso, altamente energético, que gira muito rapidamente sobre o próprio eixo e que emite ondas de rádio como se fosse um farol. A cada volta, ela espalha no Universo poderosos feixes eletromagnéticos que são registrados aqui na Terra como uma verdadeira percussão estelar. Esse evento é chamado de supernova, uma explosão tão brilhante que mesmo ocorrendo a centenas de anos-luz de distância pode ser vista da Terra até mesmo durante o dia. As antenas de radiotelescópio aqui na Terra também captam o som emitido pelas ondas do rádio daquela explosão, que chega aqui na forma de uma batida ritmada.
Você já ouviu esse som?
Quando fazia o curso de astrofísica, um professor nos mostrou o que havia captado num simples gravador, do tipo bem comum. Era o som de um pulsar e foi a primeira vez que ouvi. Foi surpreendente, inesquecível. Naquele tempo, as pessoas achavam que a origem daquele som era artificial, algo inventado aqui mesmo na Terra. Por outro lado, teve gente achando que era som de extraterrestres.
Então, existe som no espaço.
Sim, hoje sabemos que até Júpiter emite sons que qualquer rádio AM consegue captar em determinadas frequências. Sons perturbadores, alguns até assustadores. Muitas conquistas nesta área foram alcançadas através da ciência. A física e a matemática nos revelam, de forma exata, como o Universo é.
Há quem prefira a tradução dos poetas...
Bem, no que diz respeito a estrelas, lua, cometas, realmente a poesia é uma boa forma de descrever o Universo. Aliás, o astrofísico Carl Sagan comentou uma vez que "seria interessante mandar um poeta junto com um astronauta ao espaço, porque talvez ele soubesse melhor que ninguém captar a essência do universo”. Acho que isso faz muito sentido. Afinal, além dos cientistas, quem, mais do que os poetas, falou de estrelas? "Ora, direis... ouvir estrelas...” Não é mesmo?
Você acredita em vida em outros planetas?
Olha, sou como o Sagan. Ele também disse que às vezes acreditava que há vida em outros planetas, às vezes, que não. "Em qualquer dos casos, a conclusão é assombrosa. Mas, se não houver outro tipo de vida além da nossa, toda essa imensidão significa, na mesma proporção, um imenso desperdício”, ele escreveu. Concordo com ele.
Deixe o seu comentário