ENTREVISTA - Nova Friburgo contra o congestionamento: plano de mobilidade urbana é tido como essencial para desenvolvimento da cidade

segunda-feira, 07 de outubro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
ENTREVISTA - Nova Friburgo contra o congestionamento: plano de mobilidade urbana é tido como essencial para desenvolvimento da cidade
ENTREVISTA - Nova Friburgo contra o congestionamento: plano de mobilidade urbana é tido como essencial para desenvolvimento da cidade

Na última terça-feira, 1º, foi realizada na Câmara de Vereadores reunião específica sobre trânsito. Na ocasião, além de serem repassadas mais de mil sugestões da população colhidas pelo vereador requerente da reunião, Wanderson Nogueira, também foram firmados alguns compromissos — entre os quais, o pacto para a confecção do Plano de Mobilidade Urbana de Nova Friburgo.

A Voz da Serra entrevistou o vereador sobre as principais questões do debate em torno da situação notadamente caótica do trânsito e que ganhou repercussão em toda a cidade nessa semana.

 

 

A VOZ DA SERRA – Qual a sua avaliação da reunião sobre o trânsito ocorrida na Câmara?

WANDERSON NOGUEIRA - O trânsito hoje está entre os três maiores problemas do município. Além dele estão saúde e educação. E o trânsito é questão de saúde pública e também de educação. É inconcebível que as pessoas percam horas das suas vidas todos os dias presas a congestionamentos. A discussão que sempre esteve nas ruas agora se oficializa para que mudanças ocorram. A reunião foi um sucesso do ponto de vista do rico debate com a participação popular e a perspectiva de resultados práticos a curto e longo prazos.


A VOZ DA SERRA – E quais seriam esses resultados práticos?

WANDERSON NOGUEIRA - Já temos um diagnóstico que foi apresentado pela Autran. Ainda que não represente nenhuma novidade, já que o trânsito está caótico por conta de muitos carros, os números sustentam que o aumento de veículos nos últimos dez anos foi assustador. O município não se preparou minimamente para isso. Todas as sugestões da população foram encaminhadas à Autran e também entreguei em mãos ao prefeito Rogério Cabral. Firmamos dois importantes pactos: a viabilização do Conselho Municipal de Trânsito, que já está todo formatado pelo vereador Professor Pierre e, inclusive, aprovado como indicação pelo Legislativo, e o pacto para confecção do Plano de Mobilidade Urbana. Esses são os caminhos para o planejamento a curto, médio e longo prazos. Agora há sinalizações de mudanças que podem ocorrer para já. O trânsito precisa ser gerenciado com mais inteligência.


A VOZ DA SERRA - As sugestões da população são possíveis de serem viabilizadas?

WANDERSON NOGUEIRA - Elas têm que ser respeitadas e estudadas. As vozes de quem está no trânsito todos os dias são importantes, e essas pessoas podem ter as soluções. Daí a importância do Conselho Municipal de Trânsito. Essas sugestões devem passar por uma análise técnica, mas o técnico tem que absorver com sensibilidade o que as pessoas querem. Há sugestões que demandam grandes obras, outras médias obras e ainda aquelas que sequer precisam de obras e, portanto, não têm custo. O mais interessante é que todos afirmam que o trânsito está horrível. Hoje a população, com essas sugestões que colhi nas ruas e nas redes sociais, apresenta soluções e sai do comodismo só da crítica. Isto é de uma grande riqueza! Aí está a mudança da forma de uma política meramente representativa para uma política participativa. É a divisão de responsabilidades e a população quer falar, tem que ser ouvida e o que se ouve tem que virar ação efetiva e imediata. 


A VOZ DA SERRA - Quais foram as principais sugestões da população?

WANDERSON NOGUEIRA - Teve sugestão de todo tipo. Foram mais de mil, de cerca de 300 autores, mas as que mais se repetiram foram: mão dupla na Avenida Euterpe Friburguense para fluidez dos veículos que vêm da Chácara; abertura da Ponte Branca em frente ao Clube dos 50, com muitas propostas de que seja fechada apenas nos horários de rush; inversão de mão ou mão dupla na General Osório, com ressalvas de que a inversão deve ir até o Suspiro; melhor transporte público, passarelas e ciclovias. Teve defesa e crítica à questão da circulação de  caminhões. Houve até defesa do rodízio de placas. Muito dividida a questão da rodoviária urbana. Ouvi também os usuários de ônibus que são contra a desativação da rodoviária. Os motoristas são a favor. Teve sugestão de proibir o estacionamento próximo à rodoviária até o cruzamento com a Luiz Spinelli. A Estrada do Contorno foi citada, mas sem grande apelo, na sei se por descrença ou se porque existe a consciência de que só ela não resolverá o problema.


A VOZ DA SERRA - A questão da carga e descarga também vem tendo destaque...

WANDERSON NOGUEIRA - O que percebi é que a população não vê grandes benefícios na redução do horário colocada em prática pela Prefeitura. A Alberto Braune, onde mais acontece a carga e descarga, não tem congestionamento. O grande problema está em Conselheiro, de Duas Pedras à Rua Sete de Setembro, e no Paissandu. E isso não é por conta da carga e descarga. Há uma questão de logística e também econômica aí! O diálogo entre comerciantes, transportadoras e Prefeitura tem que existir para chegar ao melhor para todas as partes. Eu e todos os vereadores consideramos que o melhor é como estava (das 6h às 13h) ou a proposta das 6h às 11h. Espero que isto seja levado em consideração pelo prefeito que sempre se mostrou um homem de diálogo.


A VOZ DA SERRA – Quanto ao pacto pelo Plano de Mobilidade Urbana, qual a importância e como fazê-lo?

WANDERSON NOGUEIRA - É válido dizer que isto está previsto no Plano Diretor de 2007 e que até hoje não foi feito. O próprio Codenf (Conselho de Desenvolvimento de Nova Friburgo) vem fazendo boa pressão para agilizar o plano, que tem que ser entregue ao governo federal até abril de 2015, sob pena de o município perder verbas. A prerrogativa de fazê-lo é da Prefeitura, mas a Câmara pode e deve ajudar muito na sua confecção. Defendo que o Plano seja feito de forma participativa, com audiências públicas e tal. É preciso reforçar para a população como primeiro passo o que é mobilidade urbana. Mobilidade urbana é o deslocamento das pessoas e bens na cidade, utilizando, para isto, diferentes meios, vias e toda a infraestrutura urbana. Uma cidade com boa mobilidade urbana é a que proporciona às pessoas deslocamentos seguros, confortáveis e em tempo razoável, por modos que atendam a esses critérios e sejam bons para a sociedade e para o meio ambiente.


A VOZ DA SERRA - Que defesas você faz para a construção desse plano?

WANDERSON NOGUEIRA - Tem que ser feito de forma participativa. Perguntar as pessoas que cidade elas querem. Coloco para discussão de cara a questão do transporte público de qualidade para que as pessoas usem menos carro. Transporte coletivo que vai além de ônibus. Precisamos encontrar soluções, como o VLT. Dentro de uma realidade menos ousada, pensemos no ônibus: com a tecnologia de hoje, aplicativos de celular para saber onde, através do GPS, o ônibus está e não perder tempo. Corredores de ônibus, para que valha mais a pena pegar ônibus do que vir de carro, porque o ônibus chegará mais rápido. Inibição de estacionamento na parte central, para que as pessoas deixem o carro em casa. Agora, para desinibir o uso do carro as pessoas têm que ter à disposição um mínimo de estrutura. Ciclovias são fundamentais e com elas bicicletários e todos os equipamentos e estrutura que motivem a cultura da bicicleta. Isso leva tempo! Também é preciso passarelas, estrutura básica nos bairros, reduzindo grandes deslocamentos e permitindo que as pessoas façam tarefas cotidianas a pé ou de bicicleta. Isso tudo tem que estar no Plano de Mobilidade Urbana, que pode captar grandes recursos federais para o município. Agora caberá à cidade escolher se quer um futuro ousado e ambientalmente correto, ou se quer um futuro mais melindroso. A confecção desse plano é que vai nos dar a direção. O objetivo agora é estipular prazos e metas para que avancemos nesse processo.


A VOZ DA SERRA - Nova Friburgo fará 200 anos e este tipo de tema tem que ser pensado com medidas de curto, médio e longo prazos. Como o senhor vislumbra o município no tangente à mobilidade urbana no segundo centenário?

WANDERSON NOGUEIRA - Nova Friburgo tem na sua história o conceito de cidade de vanguarda, pioneira em vários aspectos. Infelizmente perdemos esse papel de protagonista em níveis estadual e federal. Vejo no Plano de Mobilidade Urbana a grande oportunidade de recuperar isso. Defendo um plano ousado. Precisamos sonhar alto. E a base que considero mais importante para os próximos 200 são as pessoas. O plano tem que ter foco na qualidade de vida das pessoas. Que elas percam menos tempo no trânsito para ter mais tempo para a família, os amigos e para si mesmas. O município tem que encontrar meios para fortalecer a qualidade do transporte coletivo, este é o primeiro passo. Temos as dificuldades por ser uma cidade no meio de um vale, com um rio no meio. Mas, ao mesmo tempo, essa característica pode ser a nossa grande aliada se imprimirmos a cultura de cidade corretamente ambiental e turística. O plano pode se utilizar disso para as pequenas, médias e grandes obras. É a resposta para a pertinente pergunta: que cidade queremos ser? Que os 200 que nos trouxeram até aqui sirvam de aprendizado para que a partir de 2018 sejam outros 200.          

 

A VOZ DA SERRA - As opções definitivas parecem girar em torno de "sonhos”, como a Estrada do Contorno e a instalação de transporte de massa de modo mais efetivo, como o Veículo Leve sobre Trilho (VLT). Você vislumbra outra saída?

WANDERSON NOGUEIRA - Há saídas de curto prazo. Nas grandes cidades, o monitoramento tecnológico permite, por exemplo, inverter sentidos de ruas, fechar ou abrir outros pontos. A tecnologia como inteligência é fundamental para o dinamismo que a questão exige. Hoje já haveria grande melhoria se houvesse a inversão de uma via ou outra como a própria população sugere na Euterpe, por exemplo. Vislumbro que há possibilidades de aberturas de vias e construção de pontes (como uma em frente à UPA, em Conselheiro), que já facilitariam a fluidez do trânsito. Agora, dizer que obras pequenas ou grandes são opções definitivas isso não existe. É tudo muito dinâmico! A grande qualidade que Nova Friburgo perdeu foi a de se antecipar aos problemas e ver além do seu próprio tempo. Não acredito que a Estrada do Contorno seja a grande solução. Inclusive tenho a preocupação de se criar uma nova cidade em torno dessa estrada e esvaziar Nova Friburgo. Isso tem que ser amplamente discutido. Só há uma opção definitiva clara para mim: tudo tem que girar em torno das pessoas! O foco são as pessoas! E o que é melhor para elas a longo prazo? É melhor qualidade de ar, é mais tempo para o lazer e assim por diante. Elas precisam ser ouvidas e a opinião delas é a resposta para encontrar as saídas. Construir isso coletivamente. 


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