Ana Borges
A página 3 do caderno Light é, tradicionalmente, reservada para entrevistas. Como esta edição é dedicada às crianças, pensamos numa delas — menina ou menino — para entrevistar. Depois de algumas consultas, optamos pela indicação de uma garota de oito anos, falante e engraçada, típica de sua geração. Ela chegou à redação do jornal acompanhada da mãe, Inahiara, já totalmente descontraída. Seu jeito prenunciava um encontro no mínimo agradável. Não demorou nada para ficarmos completamente apaixonados por essa garotinha linda, batizada Maria Eduarda, mas que todos chamam de Duda.
Inteligente e graciosa, ela vive plenamente a sua infância. Aqui, vamos conhecer um pouco dessa garota, saber o que a faz feliz, como ela se diverte, do que sente falta, o que gostaria de fazer, mas não pode. Aos oito anos, essa fofura está no 3º ano do ensino fundamental do Colégio Nossa Senhora das Graças, onde a mãe é professora. O pai é artesão. Então, Duda, conta para nós como é ser criança na 2ª década do século 21.
Light – Maria Eduarda, sua infância é legal?
Maria Eduarda – Claaaro!
Nossa! Você tem certeza mesmo, hein?
Ué, porque é verdade! A minha mãe costuma dizer assim: "Duda, aproveita enquanto você pode, minha filha, seja criança. Porque, depois, quando você ficar adulta, a vida complica.” Então, como eu sou muito obediente (risos), eu vivo como criança.
Você acha que tem criança que não vive como criança?
Acho. Eu mesmo, uma vez quis passar batom, pintar a unha, fazer o cabelo, me arrumar como se fosse a minha mãe. Aí ela disse não, que aquilo era coisa de adulto, que eu ia ficar esquisita. Não gostei nada de não poder ser como eu queria, mas..., fazer o quê, me arrumei como uma criança. Mas assim, quer dizer... com vaidade, entende? Quando vi que fiquei bonita, descobri que não precisava me vestir como adulta pra ficar legal.
E no colégio, você é assim também desinibida, falante?
É, eu sou assim, desse jeito, em casa, no colégio. Eu gosto de estudar, de estar com minhas colegas, de brincar com as minhas bonecas, de ver desenho na televisão, de jogar no computador, de fazer comidinha na cozinha de brinquedo. Até de ajudar na faxina da casa.
Você ajuda na faxina? Como é isso?
Ajudo, a gente faz faxina juntos. No sábado, eu, minha mãe e meu pai dividimos as tarefas, cada um fica com a parte que gosta de fazer, então a gente se diverte. Fica melhor ainda quando a gente faz churrasco pro almoço.
Como é sua convivência com as outras crianças no colégio?
Muito boa, mas às vezes eu tenho que conversar umas coisas com uma ou outra colega.
Que coisas e por quê?
É que de vez em quando uma amiga briga com a mãe, chega triste, eu fico com pena. Então, vou conversar com ela, saber o que aconteceu. Como eu escuto o que a minha mãe fala, eu faço a mesma coisa e aí consigo acalmar minha amiga. Outras vezes tem aquela coisa de alguém falar uma maldade sobre mim, aí eu não gosto, fico brava. Antes que vire uma confusão, uma fofocada, eu me defendo. Também não gosto de injustiça.
Você já teve que desfazer uma injustiça?
Pois é, uma vez eu soube que uma menina tava achando que alguém dizia bobagens sobre ela. E eu sabia que não era verdade, que tinha sido um mal entendido, sabe como é? As coisas vão se espalhando e dá uma confusão danada. Então, a melhor coisa é a gente falar e acabar com aquela coisa ruim, não é?
Você é sempre assim, digamos, diplomática?
O que é isso, diplomática? (Explico e Duda conclui): Ah, então, talvez eu seja um pouco isso aí, porque sempre acho que a gente pode resolver as coisas, explicando, conversando.
Você usa celular, computador?
Não. Minha mãe diz que é muito cedo. Quando eu reclamei que minhas amigas tinham celular, facebook, essas coisas, ela disse que eu podia usar o dela quando ela estivesse junto. Então, quando uma amiga quer conversar comigo eu escrevo naquela caixinha que abre no face e minha mãe acompanha. E celular eu tenho um bem antiguinho que é pra ser usado em uma ou outra situação.
Quando volta do colégio, o que você mais gosta de fazer?
Dar aula. Dou aula pras minhas alunas, que são minhas duas bonecas. Aproveito o dever de casa e enquanto dou aula, tô estudando, né? E também faço comidinha pra elas, na cozinha delas. Adoro essa parte.
Você acha que vai ser professora? Ou pensa em ter outra profissão?
Acho que vou ser professora mesmo, eu gosto, acho que tenho muito jeito pra ensinar, gosto de estudar, de ler, de aprender, de saber as coisas. Eu me meto em tudo. Eu até disse pra minha avó em quem ela devia votar. Ela ia votar errado, mas ela acabou me atendendo. (Obs.: Duda fala essas coisas com convicção, mas a gente acaba rindo juntas do jeito mandão dela. Até porque, ela mantém a doçura. Sempre).
Você pensa no futuro?
Acho que não. Prefiro curtir as coisas agora, a minha vida de agora. Acho que é porque sou criança. E criança não pensa muito em futuro. Ou pensa?... (Duda fica pensativa. Mas só um pouquinho, porque logo ela abre aquele sorriso irresistível e recomeça o papo).
Você gosta de praia, do mar?
Gosto de praia, mas não sei nadar. Nem faço questão de aprender. Na verdade, eu não curto esse negócio de flutuar, tirar os pés do chão.
Tirar os pés do chão? Qual o problema? Como assim?
É que eu prefiro pisar no chão duro, gosto de sentir meus pés grudados no chão. E na água, o chão é mole, afunda, não gosto.
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