Quem olha hoje a atriz Maria Clara Gueiros, 45, na televisão tem a impressão de que ela é uma atriz iniciante. Puro engano, pois a artista tem nada menos que 23 anos de trabalho, suor e dedicação à profissão que ama e defende com unhas e dentes. Carioca, é mãe de João, 16, e Bruno, 13, suas maiores paixões.
Maria Clara, que ficou conhecida do público brasileiro pelo bordão “Vem cá, te conheço?”, lançado em 2005 no humorístico Zorra Total, na Globo, hoje diverte o público no horário nobre, em Insensato Coração, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com a personagem Bibi, uma riquíssima perua que não segura a onda ao ver um garotão sarado. “Entretanto, o que difere Bibi das outras peruas assanhadas é que, enquanto os garotões acham que vão dar o golpe nela, ela é que passa eles para trás, pois pega os cartões de crédito deles e faz os caras pagarem as contas (risos)”, conta a atriz, que adorou dar início às gravações em Florianópolis, Santa Catarina.
A atriz conta que a surpresa deste novo desafio surgiu em janeiro de 2009, quando estava na sala de espera de um consultório médico e recebeu a ligação do autor, Gilberto Braga, convidando-a para o papel. “Fiquei surpresa ao escutar a voz do Gilberto do outro lado da linha e a única coisa que eu poderia responder era: onde é que eu assino?”, conta. E veio o sucesso, pois na festa de lançamento da novela, no Projac, onde realizamos a entrevista com a atriz, não teve uma pessoa, desde o elenco até produtores e profissionais da Rede Globo e da imprensa, que não se escangalhassem de rir com a apresentação das cenas de Bibi. E nós, claro, fomos atrás da atriz, a fim de trazer para você, leitor do caderno Light, esta divertida entrevista. Confira!
LIGHT - Qual o segredo para entrar numa trama de horário nobre do Gilberto Braga? Escutei dizer por aí que rolam algumas penelinhas...
Maria Clara Gueiros - Bom, se o Gilberto tem ou faz parte de alguma penelinha eu não sei, pois não faço parte dela. Há dois anos ele me ligou, me convidando a fazer esta personagem, dizendo que estava escrevendo pra mim. Acho que se você estiver sempre trabalhando e for bom colega as coisas acontecem.
LIGHT - Mas isso não seria um pouco clichê? A maioria dos atores diz a mesma coisa, enquanto muitos atores, que ralam pra caramba, não conseguem oportunidades na televisão...
Maria Clara - Pode acreditar que não é! Se você trabalha bem e as pessoas gostam de conviver com você, as coisas andam sim. Tenho certeza de que todos os diretores com quem eu trabalhei, bem como todos os colegas, têm prazer de trabalhar comigo. Isto está acima de qualquer talento. Acho mesmo que se você sabe trabalhar e convive bem com o próximo, isso conta pra caramba. Com certeza no próximo trabalho que pintar o diretor vai lembrar que, além de boa atriz, você é uma pessoa fácil de lidar e trabalhar.
LIGHT - Então você acha que isso é suficiente para que um ator entre para o mundo da televisão?
Maria Clara - Olha, não posso dizer pelos outros, respondo apenas por mim. Quando olho para trás, vejo uma carreira de 23 anos, na qual batalhei pra caramba. Vejo um degrau que tive que subir de cada vez. Respondo melhor a sua pergunta dizendo que, em 23 anos de carreira, só fui aparecer na televisão depois de 17 anos trabalhando como atriz. Então, quando olho pra trás fico de cabeça erguida, pois a memória que tenho quando penso que cheguei até aqui é de muita ralação, muita mesmo!
LIGHT - Você se considera uma mulher sensual?
Maria Clara - Eu acho que tenho uma sensualidade que é minha. Eu me acho uma mulher sensual dentro do padrão de 45 anos e mãe de dois filhos. Eu acho que acabei inventando uma coisa sensual, que não é o estereótipo de uma mulher sensual fatal, magérrima, linda, porque eu não sou linda. Na verdade, eu me acho simpática e minha sensualidade acaba vindo como consequência disso.
LIGHT - O que te chama atenção em um homem?
Maria Clara - Eu não ligo pra abdômen malhado, peitoral estufado, essas coisas não fazem muito a minha cabeça, mas fisicamente eu gosto de traços fortes, como maxilar definido e pescoço grosso, coisas que deixam o homem com aquela imagem de testosterona. E humor, muito humor e inteligência.
LIGHT - Vale tudo na cama?
Maria Clara - Penso que não. Eu me considero uma pessoa sexualmente extrovertida, mas tem coisas que eu não topo. Para mim, o limite vai até eu não me sentir mais à vontade com a situação. Se eu não estiver à vontade, não vai rolar mesmo. E eu acho que aí é só chegar e falar isso com o parceiro, na maior educação.
LIGHT - Você já foi traída?
Maria Clara - Em algum momento da minha vida eu devo ter sido traída sim. Nunca peguei, mas duvido que eu não tenha sido.
LIGHT - Caso tivesse dado um flagrante, você perdoaria?
Maria Clara - Acho que, se valesse a pena, se eu realmente gostasse de verdade da pessoa, sim! Eu já consenti, num certo momento, que uma pessoa que eu adorava ia encontrar uma ex-mulher. Mas eu consenti, quer dizer, não foi traição, pois eu estava sabendo.
LIGHT - Nesta novela temos a história de uma personagem (Paola Oliveira) que acaba gostando de um homem (Eriberto Leão) que está de casamento marcado. Você também já gostou de alguém que tinha outra pessoa?
Maria Clara - Já sim, mas tenho um temperamento que não me deixa ser competitiva. Não fico na batalha, pois acho que temos que chamar atenção pelo prazer, e não pela disputa. Se não for para ficar junto por simpatia, não fico, muito menos com o pensamento do tipo ‘Eu vou pegar esse cara de qualquer maneira’. Definitivamente, isso não é a minha praia.
LIGHT - Quando falo a palavra “tesão”, o que vem à sua cabeça?
Maria Clara - Nossa, vem tanta coisa (risos)! Vem coisas sexuais, como beijar na boca, transar, como também surge o tesão pelas coisas, como o meu trabalho, por exemplo. Vem também pessoas que eu gosto, meus amigos. Acho que, no final das contas, o tesão é um impulso de vida que passa por tudo.
LIGHT - Você tem algum fetiche?
Maria Clara - Que saia do normal, não! Eu tenho um amigo, que estava saindo com uma aeromoça, inclusive ele a conheceu enquanto estava comigo num vôo, e tempos depois ele acabou indo transar com ela e pediu para que ela se vestisse de aeromoça (risos). Isso não passa pela minha cabeça, pois eu acho que iria começar a rir se alguém me pedisse pra me fantasiar de alguma coisa.
LIGHT - O sexo ideal para você então é...
Maria Clara - Nada fora do normal (risos). Sou um pouco comodista. Acho que o tesão, para mim, está puramente na união dos corpos, de preferência na cama, que é mais confortável e aconchegante (risos).
LIGHT - Peças de sex shop então nem pensar?
Maria Clara - Não consigo achar sensual, porque acho tudo muito engraçado, eu começo a rir (risos). Se na hora do rala e rola colocarem alguma coisa no meio vou achar que virou brincadeira de criança (risos).
LIGHT - Você acha que sexo casual vale a pena?
Maria Clara - Não acho legal fazer sexo apenas por sexo, para mim, claro! Não condeno quem gosta, mas nunca fiz. Não fiz porque sempre quis encontrar alguém depois. Para mim, se não for assim, não tem graça, pois eu sofro e me apego. Sou muito carente (risos).
LIGHT – Fidelidade, então, é fundamental num relacionamento?
Maria Clara - Acho que é fundamental sim. Acho que é tão bom ser fiel e ter uma pessoa que também seja, pois o mundo já nos oferece tantas alternativas, não é mesmo? O mundo acena pra você com tantas possibilidades. É tão bom você optar por estar com uma pessoa que você goste e que também goste de você. Porque, senão, vira um inferno. O que tem de bom saber que a pessoa que você gosta está olhando pra outras mil pessoas, enquanto outras mil pessoas vão olhar para ela também? Eu prefiro optar por ficar com uma pessoa só, que seja minha e eu dela.
LIGHT - Nota-se que você é uma mulher de personalidade forte. Isso já atrapalhou em algum momento?
Maria Clara - Sim, atrapalha. Isto porque, nós, mulheres, por mais que tenhamos conquistado o espaço ao longo dos anos, desde os anos 60, como o mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, e considerando que também passamos a ganhar mais dinheiro nos dias de hoje, ainda vivemos numa sociedade muito machista.
LIGHT – Mas em que sentido isso chegou a atrapalhar sua vida? Não seriam pontos positivos essa mudança?
Maria Clara - Atrapalhou-me no sentido de que todos sabem que é desconfortável para certos homens ter uma mulher que conquiste e que faça as coisas. Uma mulher que tome iniciativas. Mas não tenho como ser diferente, o que conquistei eu conquistei, e ninguém me tira isso.
LIGHT - Dentro dessa sua personalidade forte, o que a faz deixar de falar o que pensa?
Maria Clara - Desde pequena eu sempre quis estar em conformidade com todo mundo. Então, o que me freia é quando eu escuto, dentro de um grupo, alguém falando uma coisa que é radicalmente contra o que eu penso. Acho que nestes casos, onde você vê uma pessoa falando de forma radical algo que vai contra os seus pensamentos, não vale a pena você levantar e dizer sua opinião. O que você pode fazer, talvez, é chamar aquela pessoa no cantinho depois e falar seu ponto de vista.
LIGHT - E o que lhe faz perder a calma?
Maria Clara - Gente mal educada. Odeio gente sem educação! Odeio mesmo!
LIGHT - Enquanto estamos fazendo esta entrevista, estamos vendo o Rio de Janeiro numa guerra contra o tráfico. Tivemos agora a saída do Fábio Assunção da novela, em função da luta contra a dependência química, por exemplo. O que você pensa disso tudo?
Maria Clara - Eu acho que qualquer coisa que tire o foco da pessoa não é legal. Eu, por exemplo, sou geminiana, muito focada. Enquanto estou aqui conversando com você, estou prestando atenção também em tudo ao nosso redor. Então eu penso que qualquer coisa que tira a nossa lucidez, nossa concentração, nosso foco, não pode ser legal.
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