ENTREVISTA - Heródoto divulga entrevista e reafirma: “Estarei em breve ao lado de vocês”

segunda-feira, 14 de março de 2011
por Jornal A Voz da Serra

‘Em breve estarei ao lado de vocês’

Simone Assad

Pela primeira vez desde que sofreu um acidente em viagem oficial à Suíça, em setembro do ano passado, o prefeito Heródoto Bento de Mello concedeu entrevista na última quinta-feira, 10, para falar sobre o seu estado de saúde, a volta à Prefeitura e a situação de Nova Friburgo, duramente atingida pelas chuvas do último mês de janeiro. Em seu apartamento na Rua Ariosto Bento de Mello, onde, por recomendação médica, respeita repouso e se dedica a sessões diárias de fisioterapia, ele demonstrou otimismo com sua recuperação e lamentou não estar à frente do governo municipal no momento em que a cidade mais precisa de sua experiência. Heródoto contou ter ficado muito assustado com a devastação provocada pelas chuvas e lembrou sua insistência em planejar a cidade para o futuro: “Tudo o que aconteceu em Nova Friburgo só veio reafirmar o que nós dissemos sempre: que era preciso pensar a cidade de forma diferente”. Sem expressar mágoas, o prefeito não conseguiu, todavia, esconder sua decepção com a decisão da Câmara Municipal de recusar seu último pedido para prorrogação da licença médica. “Um atestado de um médico responsável e idôneo é inquestionável”, comentou, acrescentando: “Não estou afastado porque quero”. Heródoto confirmou ainda anúncio feito esta semana de que vai se submeter à avaliação dos médicos que formam a Comissão Especial criada pelo Legislativo. “Por que não?”, indagou. Ele garantiu que, reassumindo o cargo de prefeito, pretende aceitar a colaboração de “todas as pessoas que puderem ajudar” e deixou um recado para o povo de Nova Friburgo: ”Em breve estarei ao lado de vocês. Mas não volto para criar problemas ou instabilidades. Não há mais espaço para brigas políticas na vida da população que está sofrendo”.

Simone Assad - Por que só agora o senhor fala à população friburguense? Se não havia nada a esconder, por que o senhor permaneceu recluso por tanto tempo?

HERÓDOTO - Eu não fiquei tanto tempo, não. Eu fiquei algum tempo, por causa do meu estado de saúde. Agora meu estado de saúde está permitindo que eu volte, e eu vou voltar a assumir minhas funções na Prefeitura. É isso, simplesmente.

SIMONE - O senhor estava fora da cidade quando ela foi atingida por uma catástrofe. Quando o senhor soube do que aconteceu?

hbm- Eu não fui informado imediatamente do que aconteceu. Por causa do meu estado de saúde, os médicos acharam que eu não devia ser informado naquele momento. Agora eu estou tentando tomar conhecimento das coisas todas como estão, para tomar as providências necessárias quando reassumir a Prefeitura.

SIMONE - O senhor já visitou os locais mais devastados pelas chuvas de janeiro? Qual a sua impressão dos estragos?

HBM- Estou visitando os lugares e fico assim assustado com o que vejo. Felizmente, alguns lugares foram recuperados parcialmente, mas há muito o que fazer. Há providências importantes que precisam ser tomadas. Como o problema dos desabrigados, que precisam de uma atenção imediata da Prefeitura, e a questão das galerias, que precisam ser urgentemente revistas.

SIMONE - O seu projeto para construção da Nova Cidade na Fazenda da Laje ainda pode ser aproveitado? Além das casas inicialmente previstas, agora serão necessárias muitas unidades a mais para atender às famílias desabrigadas.

HBM - Hoje, com o que aconteceu, a Fazenda da Laje é uma evidência, uma necessidade evidente da cidade. Há muito mais gente precisando das casas, e nós temos que dar um jeito de atender a todo esse pessoal. Espero que o projeto da Fazenda da Laje seja respeitado, pois ele previa tudo do que uma cidade precisa: escolas, posto de saúde, clube, quadras de esporte. Trabalhamos muito neste projeto nos dois primeiros anos de governo.

SIMONE - E os outros projetos da sua gestão? O senhor concorda que não será mais possível, por exemplo, viabilizar o projeto do trem?

HBM- Por que não? O trem não tem nada que ver com isso. O trem é um projeto independente, que tem que ser tocado de forma independente, assim como os outros projetos do meu governo. Nós temos prioridades imediatas, mas não podemos deixar de pensar a cidade para o futuro. Sem um sistema de transporte mais eficiente, como poderemos criar novas habitações em locais seguros? O Centro da cidade não suporta novas habitações. É preciso que a cidade cresça ocupando novas áreas seguras e atendidas por um sistema de transporte rápido e eficiente. O trem integrado aos ônibus é a solução.

SIMONE - Nova Friburgo não é mais a cidade que o senhor deixou em setembro, quando viajou para a Suíça. O senhor também mudou: sofreu um acidente grave, ficou três meses internado e agora precisa se dedicar à fisioterapia. O senhor acha que tem condições físicas para reassumir seu cargo?

HBM- Sem dúvida nenhuma que eu terei condições, no momento certo. Tudo o que aconteceu em Nova Friburgo só veio reafirmar o que nós dissemos sempre: que era preciso pensar a cidade de forma diferente. A forma como estava sendo pensada a cidade era uma forma irresponsável, ninguém tinha responsabilidade sobre o que poderia acontecer, ninguém imaginava o que poderia acontecer. Hoje já se sabe o que pode acontecer, o que pode se repetir. É necessário repensar, recriar a cidade de uma forma objetiva. É preciso modificar a visão que nós temos da cidade.

SIMONE - E quanto à questão política? Como o senhor vê o atual quadro político de Nova Friburgo?

HBM- Eu acho que os políticos vão se tornando cada vez mais responsáveis, cada vez mais conscientes do que tem que ser feito realmente. Não é possível mais que existam vereadores que queiram fazer política por fazer política. Não. Nós temos que fazer política como ela deve ser feita, com objetivos práticos que atendam aos anseios da população. Sob o aspecto político, a gente pode mudar políticos e continuar trabalhando.

SIMONE - A Câmara Municipal recusou seu último pedido de licença médica porque não recebeu resposta para o questionário sobre seu estado de saúde que enviou para o Hospital Samaritano, no Rio, onde o senhor estava internado. Por que o questionário não foi respondido?

HBM - Quem tinha que responder o questionário eram os médicos. Se eles não responderam, é porque acharam que não deviam. Um atestado de um médico responsável e idôneo é inquestionável. Quando um trabalhador é colocado em licença médica, só cabe ao patrão aguardar sua recuperação. O mesmo vale para o meu caso. Não estou afastado porque quero, estou seguindo orientação médica e, pelo que eles dizem, próximo de estar apto a voltar ao meu trabalho.

SIMONE - Depois de recusar seu pedido de licença médica, a Câmara criou uma Comissão Especial, formada por três especialistas, para avaliar seu estado de saúde. O senhor pretende se submeter a essa avaliação?

HBM- Por que não? Estou à disposição dos médicos.

SIMONE - O presidente da Câmara disse que o senhor não é mais prefeito licenciado, que o senhor agora é prefeito afastado.

HBM - Eu não sou prefeito por acaso. Eu sou prefeito de fato. Esta é a realidade. A Câmara recebeu o pedido de licença com o atestado do meu médico, que é um profissional reconhecidamente competente e honesto. Eu estaria agindo errado se tentasse reassumir o cargo sem as condições ideais de saúde. Não estou fazendo isso. Quero me recuperar para corresponder às necessidades da população, ainda mais num momento como este.

SIMONE - Como será sua relação com os vereadores a partir de agora?

HBM - Não há razão para modificar relação nenhuma. De minha parte, eu vou continuar a ter com eles a mesma relação que tinha antes. Acredito que a ansiedade criada pela situação possa ter levado alguns a avaliações equivocadas. Mas tudo vai se esclarecer na medida em que voltarmos ao diálogo pessoal.

SIMONE - Atualmente, há adversários políticos do senhor ocupando cargos importantes na administração municipal. O que o senhor pensa sobre isso?

HBM - Todas as pessoas que puderem ajudar Nova Friburgo vão ajudar. Nas circunstâncias atuais, eles assumiram funções que não vão exercer no meu governo. As funções no meu governo serão outras. Se houver lugar para eles no meu governo, vão atuar; se não houver, não vão atuar. Lamento que o meu vice, eleito pelas mesmas propostas que eu, esteja se afastando delas. O povo votou em projetos, e caberia a ele dar prosseguimento aos projetos. Mas não volto para criar problemas ou instabilidades, volto para colaborar com a minha experiência de prefeito e engenheiro que conhece os quatro cantos de Nova Friburgo. Quem estiver disposto a contribuir com a recriação do nosso município será bem-vindo, independentemente de partido ou posições políticas. Não há mais espaço para brigas políticas na vida da população que está sofrendo.

SIMONE - Qual mensagem o senhor quer deixar para a população de Nova Friburgo?

HBM - A cada dia que passa, descubro que a tragédia de Nova Friburgo é muito maior do que qualquer pessoa que não estivesse aqui poderia imaginar. Eu me sinto profundamente triste por ainda não estar em condições de liderar a Prefeitura no momento em que os friburguenses mais precisaram. Nos meus mais de 60 anos de trabalho público, nunca vi nada parecido. Mas peço ao povo de Nova Friburgo que não perca a fé, e que dela tire a força e a coragem para enfrentar tudo o que aconteceu e os problemas que ainda virão. Estou me esforçando ao máximo para me juntar a todos que estão trabalhando pela cidade. Em breve estarei ao lado de vocês. Não se esqueçam nunca de que Deus está conosco e nós estamos com ele.

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