Liberdade, disciplina e caráter
Eriberto Leão diz que sempre seguiu estes valores na vida real para se tornar um homem de verdade
Quem vê hoje Eriberto Leão com seu jeito sereno e educado não imagina que este administrador de empresas, formado pela USP, quando criança era cheio de questionamentos que o instigavam a procurar suas respostas por meio da arte e da liberdade. Nascido em São Paulo, em 1972, foi através de sua mãe – que o matriculou num curso de teatro para tentar acalmá-lo um pouco em relação à necessidade que tinha de expressar seus sentimentos e seu senso de justiça – que ele vislumbrou o universo das artes. “Logo no primeiro curso fui expulso (risos)”, conta o ator, dizendo que, como bom geminiano, sempre foi muito reflexivo e observador.
Ao lado da atriz Andréa Leal, “apaixonado” seria o melhor adjetivo para descrevê-lo neste momento. Isso porque o ator vai fundo ao falar de religião, natureza, família, trabalho e a sensação de começar o novo com a experiência de se tornar pai. Mas, antes disso, lembra com orgulho o caminho percorrido para que hoje, aos 38 anos, se tornasse um ator de sucesso. Foi em 1997 que ele fez O Amor está no Ar, na Globo, para depois alçar voos pela Band e Record. Mas seria na emissora global novamente, em Cabloca (2004), que ele despontaria para milhares de telespectadores com o personagem Tomé: “Foi a primeira vez na minha vida que senti o gostinho de ter um contrato. Antes disso, meus pais me ajudavam a pagar minhas contas”, lembra. Logo depois, em 2006, conquistou de vez o Brasil com “Sinhá Moça”, na qual protagonizou os personagens Dimas e Rafael. Em 2009 continuou chamando a atenção dos críticos com o Zeca, de Paraíso, o que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator na premiação dos “Melhores do Ano da Rede Globo em 2010”. Com louvor, este prêmio lhe rendeu uma abertura para que hoje chegasse ao horário nobre com Pedro, em Insensato Coração. No teatro, o ator também ganhou destaque com as peças Ventania e alma de todos os tempos, O Evangelho segundo Jesus Cristo e Bruxas de Salém. Já no cinema fez Onde andará Dulce?, Intruso e Um homem qualquer.
Eriberto diz que muita gente não conhece uma das suas grandes paixões: o rock´n´roll. Entre 1998 e 2000, ele esteve à frente da banda Rip Monsters, da qual Gastão Moreira, ex-VJ da MTV, também fazia parte. “Quase fizemos sucesso e chegamos a ter músicas tocando nas rádios”, relembra o artista, que é fã de Raul Seixas e adora fazer cover da banda The Doors. Mesmo sendo visto e chamado para compor personagens mais dramáticos, Eriberto revela mais uma faceta pouco conhecida: “Entre os meus amigos sou considerado um cara muito engraçado, bom humor é fundamental”, brinca. Recentemente Eriberto se tornou pai de João. “Fiquei impressionado com o nascimento do meu filho. Foi um amor muito grande, parecia que eu já o tinha pegado nos braços há muito tempo. Foi instintivo. Sempre tive muita vontade de ser pai”, revelou.
Como você define o Pedro?
Eriberto Leão - Este personagem é um homem que se assemelha muito comigo, por isso fiquei muito feliz em fazer. É um personagem carregado de valores que foram marcantes para que eu me tornasse quem eu sou hoje. O Pedro é um homem disciplinado, justo, com um bom caráter e, principalmente, um rapaz que acredita que acredita no trabalho.
Entre todos esses valores que ele carrega, qual é o principal deles que surge em sua lembrança quando você olha a sua história de vida como ator?
Eriberto Leão - Acho que é o maior de todos. Ele é um personagem que não tem pressa para alcançar seus objetivos, que vê o sucesso não como um destino, mas como uma jornada que foi trilhada diariamente.
Agora que você é pai, acha que esse personagem vai lhe dar inspiração para a forma como você educará seu filho?
Eriberto Leão - Acho sim, pois vejo e percebo que este papel ilustra bem o que eu quero pro meu filho. Que seja um homem de caráter.
E para que isso aconteça, qual será a mensagem mais importante que você transmitirá para ele?
Eriberto Leão - Quero ensinar a ele que não é fácil viver. Quero ser um pai realista e mostrar que a vida realmente é difícil. Como disse o escritor Guimarães Rosa, “viver é arriscado”. Mas quero que ele aprenda que através de muita luta, garra, honestidade e integridade, podemos vencer batalhando.
Você disse que não vê o sucesso como um destino. Pode falar mais sobre isso?
Eriberto Leão - Disse isso porque realmente não acho que o sucesso caia do céu, pelo menos pra mim não caiu, então a minha experiência de vida é o que eu posso passar para as pessoas. Penso que se a gente conseguir vencer na vida através de outra maneira, que não seja por um caminho trilhado com muito trabalho e muito garra, o seu sucesso será como uma casa construída em cima de um banco de areia que o vento pode soprar a qualquer momento, diferente de quem constrói sua casa na rocha.
E o que foi fundamental para que você percebesse isso em sua vida?
Eriberto Leão - Aprendi esses valores com meu pai, que recebeu esta educação do meu avô, que com certeza eu passarei para o meu filho. Por isso fico feliz que essa personagem tenha caído nesta hora, quando inicio a responsabilidade de ser pai, a hora em que preciso cuidar, educar e amar um filho.
Nossa, você ficou muito feliz mesmo com este personagem, não é?
Eriberto Leão - Não vou dizer que não, pois este personagem, o Pedro, com o passar do tempo percebi que ele defende tudo que eu, o Eriberto Leão, defendo. A honestidade e o caráter. Acho que foi por isso que me identifiquei tanto com ele. Estou adorando mesmo fazer.
O que mais te chamou atenção nele em relação à profissão de piloto de avião?
Eriberto Leão - Tem uma frase do Renato Russo que é muito legal! Ela diz que “disciplina é liberdade”. Não se dá liberdade há quem não tem disciplina, mas, para os que têm, toda liberdade do mundo deve ser concedia, é assim que eu penso. O que me chamou atenção então na profissão do Pedro é isso, que para atingir a liberdade de voar, de ser um piloto, você precisa ser muito disciplinado, como ele é.
E o que você tem aprendido?
Eriberto Leão - Aprendi que quando voamos como passageiros, nós nem imaginamos o que há por trás daquilo tudo. É algo muito maior. Para você levantar um voo precisa estudar muito e estar atento a cada detalhe. A cada voo você faz um check-list gigantesco, que sempre deve ser repetido. Agora imagina sendo piloto com um avião cheio de passageiros... Então você precisa ter uma vida muito saudável, justamente porque você é responsável por outras vidas. Acho que em qualquer profissão, principalmente aquelas que envolvem a vida de outras pessoas.
Já que você tem muito do Pedro em sua vida, você daria um bom piloto?
Eriberto Leão – Será? (risos) Olha, se eu seria um bom piloto ou um desastre, não sei, mas aprendi estudando para esta novela que não há nada mais livre do que você voar. Por isso insisto em passar esta mensagem: disciplina é liberdade.
Falando em liberdade, você teve espaço em sua vida para decidir o que queria ser? Como foi a escolha de ser ator?
Eriberto Leão - Eu começo respondendo que sempre fui um homem que busquei a liberdade em minha vida. De todas as artes possíveis que permitissem que eu fosse livre para criar, sabia que dentro da dramaturgia e da interpretação estava o que me alimenta. Sempre soube que eu tinha nascido pra isso.
E o que fez você perceber tão cedo que era isso que você seria pelo resto da vida?
Eriberto Leão - Eu sabia que eu seria um artista porque sempre questionei tudo, sempre li muito. Só não sabia ao certo no início, que tipo de artista eu seria. Um escritor? Um pintor? Um Jornalista? Digo também jornalista porque considero que informar e levar conhecimento ao público como vocês levam também é uma forma de arte. A arte da comunicação, de informar, mostrar o que está acontecendo, levar notícia ao público.
Pela maneira que você fala, percebo que você é uma pessoa que busca sempre superar seus limites. O que você já fez de mais radical em sua vida antes de viver um piloto de avião?
Eriberto Leão - Já voei de asa-delta, pulei de paraqueda e agora pilotei simuladores e participei de horas de voos com pilotos profissionais. Só não pude levantar do chão um avião de verdade porque não tenho brevê para voar, que é uma autorização que só se obtém através de muita capacitação e dedicação.
Fale mais um pouco como foi essa preparação...
Eriberto Leão - Tive aulas práticas de pilotagem e cheguei a pilotar em simuladores, porque, senão, eu sou preso (risos), já que não tenho essa autorização. Mas cheguei a voar muito com o comandante Caetano Araújo, que me deu várias aulas particulares. Também fiz um curso bom de pilotagem, mas para tirar o brevê tem que ter muitas horas de voo além disso tudo.
Quer dizer então que você saiu da novela Paraíso, onde era considerado um homem da terra, para ser um homem do céu em Insensato Coração...
Eriberto Leão - Ótima observação (risos). Em Paraíso eu me apaixonei por cavalos, pela natureza do solo, da terra. Agora estou fascinado pelo céu. Ainda mais porque sempre fui muito interessado por astronomia, sempre estou olhando pra cima e observando as estrelas e constelações, acho lindo.
O que você tentará tirar do Pedro que você poderá levar para o resto de sua vida?
Eriberto Leão - Tenho certeza de que o Pedro ainda vai me surpreender muito, assim como todo o público, porque a novela está apenas começando. Mas, quando penso nele, lembro de um livro que li ao me preparar para este personagem, que deixou mensagens em mim que eu levarei pra toda vida. Este livro conta a história de uma gaivota que queria voar além do que era permitido pela sociedade das gaivotas. Ela não se contentava em ficar com os pés no chão e ser como as gaivotas normais. Ela queria voar planos mais altos.
Essa história, no caso, faz uma alusão aos nossos objetivos?
Eriberto Leão - Levei por este lado, pois acho que o ato de voar é ultrapassar os seus limites, mas com muita humildade, muito disciplina, muito estudo e, principalmente, muita atenção, senão você cai.
E você acha que o maior medo de um piloto é cair, assim como o de alguém que busca um sonho é o de não realizar?
Eriberto Leão - Gostaria de fechar a entrevista nesta pergunta, dizendo e falando para as pessoas que vão ler esta matéria que o maior medo de um piloto não é cair, e sim, não poder voar, assim como o maior medo de alguém que batalha pelos seus sonhos não deve ser o de fracassar, mas o de não poder sonhar.
Deixe o seu comentário