A entrevista do candidato a governador Luiz Eugenio Honorato ao AVS

Metalúrgico aposentado quer federalizar a saúde e critica intervenção na segurança do estado
quarta-feira, 05 de setembro de 2018
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
A entrevista do candidato a governador Luiz Eugenio Honorato ao AVS

Luiz Eugenio Honorato também quer rever as desonerações fiscais concedidas pelos últimos governos do Rio de Janeiro à empresas que atuam no estado. Candidato do Partido da Causa Operária (PCO), ele defende que a solução para a crise no estado é transferir os meios de produção das mãos dos “burocratas” para os “a classe trabalhadora e operária”.

Honorato quer reduzir a carga de trabalho para 35 horas e melhorar remuneração dos trabalhadores, mas não esclarece como fará isso. Propõe federalizar a saúde e critica a intervenção federal na segurança pública. Ele ainda afirma que, se eleito, vai estimular o turismo na Região Serrana e realizar estudos minuciosos para evitar a ocupação desordenada.

Natural de Vassouras, no Sul fluminense, Honorato tem 57 anos e concorre a um cargo eletivo na política do estado pela primeira vez. É metalúrgico aposentado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. Sindicalista, o ex-operário participou de lutas da categoria nas décadas de 1980 e 1990. Foi diretor da Central dos Trabalhadores (CUT) na região. Ele é divorciado.

Com 1% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, Luiz Eugenio Honorato é o décimo dos 12 candidatos ao governo do Rio entrevistados por A VOZ DA SERRA. Todos foram convidados a responder às mesmas perguntas sobre o estado, Nova Friburgo e a Região Serrana.

AVS: O próximo governador assumirá o estado com um rombo nos cofres estimado em R$ 10 bilhões. Como planeja sanear as contas do estado?
Honorato:
A quantidade de desonerações concedidas pelos governos do Rio de Janeiro a empresários supera com folga esse valor. Para enfrentar o problema, precisaremos mobilizar o conjunto da classe trabalhadora em torno de derrotar o golpe de estado que o país vem sofrendo, para somente assim ficarmos livres dos grilhões dos burocratas que vem saqueando nosso estado e país.

O Rio de Janeiro tem a maior taxa de desemprego do Sudeste. São cerca de 1,2 milhão de pessoas procurando uma oportunidade, segundo a Pnad/IBGE. Como gerar novas vagas?

As perdas em postos de trabalho foram geradas fundamentalmente em consequência da farsesca Operação Lava Jato, que com o pretexto de combater a corrupção vem entregando setores importantes da economia nas mãos dos verdadeiros corruptos. Para reverter o quadro, do desemprego no Rio e no Brasil, lutamos pela redução da carga de trabalho para 35 horas e melhor remuneração dos trabalhadores.

Moda íntima, indústrias metal-mecânicas, o comércio, a construção civil e a agricultura são motores de Nova Friburgo. Seu futuro governo planeja algum tipo de incentivo para incrementar a economia da Região Serrana?

A única forma de incrementar a economia, seja da Região Serrana, seja de qualquer outra região é a total transferência dos meios de produção para a classe trabalhadora e operária. Enquanto existir um grande capitalista monopolizando setores inteiros da produção, a classe trabalhadora estará sujeita e submetida à exploração.

O estado está sob intervenção federal na segurança há seis meses. Como evitar a fuga de criminosos da capital para o interior?
Não concordamos com o nome intervenção federal, é uma intervenção militar, afinal, não temos médicos, professores e outros funcionários da rede federal. E claro que somos contra. É uma preparação para um golpe militar e é um duro ataque à população que mora nas periferias e a toda população brasileira. Não dá para defender uma intervenção militar, que até agora só serviu para aumentar o número de mortes. A burguesia está metendo os pés pelas mãos com o uso político do Exército. As Forças Armadas deveriam se limitar à fiscalização das fronteiras e defesa do território. Não faz sentido lançar mão de um aparato de guerra contra a própria população do país.

O Hospital Municipal Raul Sertã, em Nova Friburgo, é uma referência para a região, recebe pacientes de 13 municípios, mas enfrenta dificuldades. Seu governo planeja estadualizar a unidade ou tem algum plano para melhorar o atendimento de urgência?
Para nós, toda saúde deve ser estatal e federalizada. A crise na saúde pública é fabricada pelos grandes conglomerados de empresários que ganham rios de dinheiro com a péssima estrutura pública de saúde, obrigando uma parcela muito grande da sociedade a pagar caro por um serviço que deve ser seu direito.

A UPA da cidade não recebe a parte dos recursos que cabe ao governo estado há mais de três anos. A prefeitura tem mantido a unidade 24 horas com recursos próprios, junto com o governo federal. Qual o seu plano para as UPAs?  

A resposta anterior se aplica a essa pergunta. Não podemos admitir que saúde seja tratada como mercadoria.

E quanto ao Hospital do Câncer, cuja obras em Nova Friburgo estão paralisadas desde 2016?
Exatamente como foi dito nas respostas anteriores, a comercialização da saúde é a causa primordial para o boicote à saúde pública. Os empresários desse ramo entendem que se a saúde pública for eficiente, seus hospitais, clínicas particulares e planos de saúde vão à falência.

Nova Friburgo conta com um campus da Uerj, o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ/Uerj). Como tirar as universidades estaduais (Uerj, Uenf e Uezo) dessa crise sem precedentes?
Essas universidades foram colocadas em crise de forma proposital por interesses particulares de grandes empresários da educação. Exatamente como ocorre com a saúde pública, o sistema de ensino também é extremamente boicotado pelos representantes dos grandes empresários do ramo. Educação não é mercadoria e deve ser de qualidade e gratuitamente oferecida a todo o conjunto da sociedade.

Friburgo, Teresópolis e Petrópolis são os principais destinos turísticos do estado para quem curte um friozinho. Qual seu plano para alavancar o setor turístico na região?
A população deve ter direito a fazer turismo e ao lazer de forma geral. Para alavancar esse setor, defendemos um forte investimento e incentivo aos pequenos comerciantes do ramo, concentrando todos os recursos provenientes dessa atividade nas mãos da classe trabalhadora.

Depois da tragédia climática de 2011, Friburgo recebeu importantes obras de contenção de encostas, habitação e canalização pluvial, como a do Rio Bengalas. Outras ainda faltam ser executadas na cidade. Você pretende fazer alguma mudança na política atual de prevenção a desastres naturais na serra?
Defendemos que o estado tenha responsabilidade total sobre o fornecimento de condições de vida com estrutura e dignidade a todo cidadão e cidadã. Dessa forma, acreditamos que devam ser feitos estudos minuciosos a respeito das contenções das encostas e a respeito da melhor ocupação dos espaços para melhor acomodar a população.

Friburgo perdeu o escritório regional do Ibama, que tinha importante papel na fiscalização do desmatamento. A cidade conta agora com o trabalho do Inea e da prefeitura, mas ambos sofrem pressões políticas. O que seu governo fará para evitar a redução da Mata Atlântica, que cobre 45% do território friburguense, segundo o SOS Mata Atlântica?
Não podemos deixar nas mãos de algumas pessoas, que colocam seus interesses financeiros pessoais à frente de qualquer coisa, o destino de uma região tão importante. Todo o território deve ser utilizado de maneira consciente e para servir única e exclusivamente aos interesses da classe trabalhadora.

 

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