A entrevista do candidato a governador Eduardo Paes ao AVS

Ex-prefeito do Rio quer rever o plano de recuperação fiscal e não pretende renovar a intervenção federal na segurança
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Eduardo Paes em campanha no interior do estado (Divulgação)
Eduardo Paes em campanha no interior do estado (Divulgação)

Eduardo Paes diz que vai atrair mais empresas para o setor metal-mecânico de Nova Friburgo e estimular a criação de um grande centro de inovação na cidade, com participação das universidades. Ele ainda quer estimular consórcios intermunicipais para a saúde e criar um centro de operações, semelhante ao que existe na capital, para situações de emergência climática do estado.

Com 18% das intenções de voto, de acordo com pesquisa do Datafolha, Paes falou ainda que vai propor uma repactuação no regime de recuperação fiscal do estado, firmado com a União, porque considera que os termos do plano farão o Rio pagar uma conta alta demais. O candidato ainda afirmou que não vai renovar a intervenção federal na segurança pública, cujo prazo termina no fim deste ano.

Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes tem 48 anos, é formado em direito pela PUC-Rio e especialista em políticas públicas pela UFRJ. Começou na vida pública em 1993, ao assumir a subprefeitura da Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Foi vereador, deputado federal duas vezes e secretário do ex-prefeito do Rio, César Maia, e também do ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção.  

Paes foi prefeito da capital por dois mandatos, em 2008 e 2012. Ao deixar o cargo,  foi consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento e vice-presidente para a América Latina da maior fabricante de veículos elétricos do mundo, a BYD. É casado e tem dois filhos. Ele é o sétimo dos 12 candidatos ao governo do Rio entrevistados por A VOZ DA SERRA.

 

AVS: O próximo governador assumirá o estado com um rombo nos cofres estimado em R$ 10 bilhões. Como planeja sanear as contas do estado?
Eduardo Paes: O regime de recuperação fiscal foi fundamental para permitir que hoje os servidores recebessem os seus salários em dia e que os serviços básicos fossem retomados, minimamente. Mas ao fim do período do regime, a conta a pagar continuará muito alta. Se eleito, vou procurar o futuro presidente para poder repactuar o regime. E, claro, fazer o meu dever de casa: cortar gastos, diminuir a sonegação modernizando a administração tributária do estado e buscar novas formas de receita, como ampliar a arrecadação fruto da dívida ativa.
 

O Rio de Janeiro tem a maior taxa de desemprego do Sudeste. São cerca de 1,2 milhão de pessoas procurando uma oportunidade, segundo a Pnad/IBGE. Como gerar novas vagas?
Um dos elementos que mais afasta as empresas é a falta de segurança no estado. E o nosso trabalho na segurança pública vai devolver às empresas a tranquilidade para investirem aqui. Outro ponto importante é recuperar a confiança das pessoas no governo. Mesmo com um posicionamento logístico estratégico na Região Sudeste, sofremos pela falta de infraestrutura. Saneamento básico, rodovias, ferrovias ainda não oferecem condições mínimas para aumentar a atratividade de negócios.
 

Moda íntima, indústrias metal-mecânicas, comércio, construção civil e agricultura são motores de Nova Friburgo. Seu futuro governo planeja algum tipo de incentivo para incrementar a economia da região?
O governador precisa lutar, antes de mais nada, pela manutenção dos empregos já existentes. E isso se faz melhorando o ambiente de negócios com menos burocracia, com qualificação profissional, com estradas de qualidade, financiamento. Nova Friburgo tem uma economia diversificada e extremamente potente, sendo central para este novo ciclo de desenvolvimento que vamos criar. Na agricultura, vamos oferecer equipamentos e assistência técnica para melhorar e aumentar a nossa produção no campo. No polo metal-mecânico vamos incentivar a busca por mais empresas, de modo que Friburgo seja um grande centro de inovação. Não poderia esquecer o polo cervejeiro artesanal de Nova Friburgo, que é um exemplo bem-sucedido de diversificação econômica para todo o estado.
 

O estado está sob intervenção federal na segurança há seis meses. Como evitar a fuga de criminosos da capital para o interior?
Vou estabelecer uma nova estratégia de atuação conjunta das Forças Armadas com as forças de segurança do estado, sempre sob o comando do governador. A intervenção não será prorrogada. Um dos focos da nossa atuação vai ser a retomada de territórios dominados pelo crime e a expansão de novos territórios.
 

O Hospital Municipal Raul Sertã, de Friburgo, é uma referência para a região, recebe pacientes de 13 municípios, mas enfrenta dificuldades. Seu governo planeja estadualizar a unidade ou tem algum plano para melhorar o atendimento de urgência?
Não vamos estadualizar. O que vamos fazer é ajudar com a criação de consórcios intermunicipais e com aporte de recursos do estado para que os municípios possam manter seus hospitais em pleno funcionamento.
 

A UPA da cidade não recebe a parte dos recursos que cabe ao governo estado, há mais de três anos. A prefeitura tem mantido a unidade 24 horas com recursos próprios, junto com o governo federal. Qual o seu plano para as UPAs?  
Vamos retomar os pagamentos que nos competem e repassar os recursos obrigatórios para o município. Além de manter as UPAs que estão sob a competência do estado.
 

E quanto ao Hospital do Câncer, cuja obras estão paralisadas desde 2016?
Vamos retomar as obras do Hospital do Câncer, sem dúvida alguma. Até porque, a saúde da população é algo prioritário. Quando fui prefeito do Rio, praticamente tripliquei o orçamento da pasta que em 2008 era de R$ 2 bilhões e ao fim do meu governo saltou para quase R$ 6 bilhões. Mais uma vez reforço que o estado terá uma função fundamental no apoio aos municípios, que hoje sofrem muito com a crise financeira.
 
Friburgo conta com um campus da Uerj, o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). Como tirar as universidades estaduais (Uerj, Uenf e Uezo) dessa crise sem precedentes?
Vou garantir os orçamentos das universidades estaduais e fazer com que elas se conectem cada vez mais com a realidade dos locais onde estão. Também vou valorizar o corpo docente com investimentos em sua capacitação, criando mecanismos e instrumentos que garantam a possibilidade de que eles desenvolvam de forma digna as atividades de ensino, pesquisa e extensão.
 

Friburgo, Teresópolis e Petrópolis são os principais destinos turísticos do estado para quem curte um friozinho. Qual seu plano para alavancar o setor turístico na região?
É preciso potencializar o turismo na região e encará-lo também como fonte efetiva de geração de trabalho e renda. Vamos incrementar e estimular o calendário de eventos culturais na Região Serrana. Em Friburgo, por exemplo, esta foi uma iniciativa do meu vice governador, Comte Bittencourt.  Os eventos aumentam o volume de turistas e dinamizam a economia regional. Friburgo comemora os seus 200 anos e vai realizar pela primeira vez uma Oktoberfest. É neste momento que o estado precisa estar presente para apoiar o município.
 

Depois da tragédia climática de 2011, Friburgo recebeu importantes obras de contenção de encostas, habitação e canalização pluvial, como a do Rio Bengalas. Outras ainda faltam ser executadas na cidade. Você pretende fazer alguma mudança na política atual de prevenção a desastres naturais na serra?
Vamos criar um programa de resiliência para a Região Serrana que vive sob a vulnerabilidade das chuvas. Vamos criar um programa de coordenação das operações de emergências em toda a região. Vai ser um Centro de Operações de Emergências para aumentar a capacidade de resposta dos órgãos de estados, como o Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, para atuarem nas situações de crise.
 

Friburgo perdeu o escritório regional do Ibama, que tinha importante papel na fiscalização do desmatamento. A cidade conta agora com o trabalho do Inea e da prefeitura, mas ambos sofrem pressões políticas. O que seu governo fará para evitar a redução da Mata Atlântica, que cobre 45% do território friburguense, segundo o SOS Mata Atlântica?
Vou melhorar a tecnologia de monitoramento da cobertura vegetal no estado para manter um acompanhamento de perto da qualidade ambiental das reservas. E estimular parcerias com o setor privado, organizações e proprietários rurais para preservar o meio ambiente e investir na qualificação de pessoal. Ainda vou trabalhar com os produtores rurais para recuperar os espaços degradados e requalificar as matas ciliares, além das áreas de proteção ambiental dentro de zonas rurais.

 

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