A entrevista da candidata a governadora Dayse Oliveira ao AVS

Professora defende que o estado controle a produção e venda de drogas, descriminalizando-as, como estratégia para reduzir a violência
quinta-feira, 06 de setembro de 2018
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
A entrevista da candidata a governadora Dayse Oliveira ao AVS

Dayse Oliveira, 52 anos, quer suspender o pagamento da dívida do estado e as isenções fiscais às empresas. Candidata do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) ao governo do Rio de Janeiro, ela quer criar um plano de obras públicas para ampliar a infraestrutura e gerar empregos em cidades do estado, incluindo, Nova Friburgo.

Professora de História da rede estadual há 32 anos, Dayse planeja criar conselhos populares para acompanhar as ações de polícia nos municípios. Apoia descriminalização das drogas, com produção e comercialização sob controle estatal. Para ela, a questão é de saúde pública. Se eleita, vai colocar a saúde sob gestão de profissionais da área, e quer reduzir a prestação de assistência à saúde pela iniciativa privada.

A candidata ainda planeja criar uma empresa pública de turismo para estimular o setor. Também defende a expropriação e estatização das empresas que poluem o meio ambiente e desmatam florestas protegidas. Dayse tem mestrado em educação e foi diretora do Sepe, o sindicato da categoria. Ela atua no movimento Mulheres em Luta e Quilombo Raça e Classe.

Fundadora do PSTU e solteira, Dayse Oliveira tem 1% das intenções de voto, segundo a última pesquisa realizada pelo Datafolha. Ela é a 11ª dos 12 candidatos ao governo do Rio convidados por A VOZ DA SERRA a responder às mesmas perguntas sobre o estado, Nova Friburgo e a Região Serrana.


AVS: O próximo governador assumirá o estado com um rombo nos cofres estimado em R$ 10 bilhões. Como planeja sanear as contas do estado?
Dayse Oliveira: 
O Rio de Janeiro possui uma dívida que deve chegar a 17,6% do PIB do estado no final deste ano. Essa dívida transfere o dinheiro dos nossos impostos para banqueiros nacionais e estrangeiros. Ao mesmo tempo, segue uma política de renúncias fiscais sem contrapartidas que garantam emprego e renda para a população. De 2007 até 2016 foram R$ 218 bilhões em benefício fiscal. Precisamos suspender o pagamento da dívida e as isenções fiscais.

O Rio de Janeiro tem a maior taxa de desemprego do sudeste. São cerca de 1,2 milhão de pessoas procurando uma oportunidade, segundo a Pnad/IBGE. Como gerar novas vagas?
Nós vamos criar um Plano Obras Públicas e reformular a Empresa de Obras Públicas (Emop) para gerar empregos e realizar obras de interesse geral.

Moda íntima, indústrias metal-mecânicas, o comércio, a construção civil e a agricultura são motores de Nova Friburgo. Seu futuro governo planeja algum tipo de incentivo para incrementar a economia da Região Serrana?
Nosso Plano de Obras Públicas irá fortalecer a infraestrutura da região e vamos dar todo o apoio a iniciativas que gerem emprego e renda para os trabalhadores.

O estado está sob intervenção federal na segurança há seis meses. Como evitar a fuga de criminosos da capital para o interior?
A política de guerras às drogas só serviu para armar o tráfico e promover um verdadeiro genocídio da juventude negra. Ocupação militar, seja com o Exército ou com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), não traz segurança alguma. É preciso uma polícia com vínculos na comunidade, submetida a conselhos populares, que combata os que lucram com a criminalidade, que não é a população das periferias. E é preciso descriminalizar as drogas, com produção e comercialização sob controle estatal, tratando como problema de saúde pública. Só assim vamos acabar com a violência no nosso estado.

O Hospital Municipal Raul Sertã, em Nova Friburgo, é uma referência para a região, recebe pacientes de 13 municípios, mas enfrenta dificuldades. Seu governo planeja estadualizar a unidade ou tem algum plano para melhorar o atendimento de urgência?
A solução para o atendimento a saúde passa por reverter o curso privatista que injeta dinheiro público em empresas privadas e colocar a gestão nas mãos dos profissionais, que sabem quais são as necessidades do hospital. Com as decisões administrativas nas mãos de quem lida com os problemas cotidianos, o atendimento terá um salto de qualidade.

A UPA da cidade não recebe a parte dos recursos que cabe ao governo estado há mais de três anos. A prefeitura tem mantido a unidade 24 horas com recursos próprios, junto com o governo federal. Qual o seu plano para as UPAs?
É preciso cumprir as obrigações com a UPA, além de investir em medicina preventiva e em obras de saneamento, que diminuem o custo com saúde com o tempo. Atenção integral à saúde e administração pelos próprios profissionais sem empresas privadas lucrando sobre a saúde do povo.

E quanto ao Hospital do Câncer, cuja obra em Nova Friburgo estão paralisadas desde 2016?
Essa importante obra estará em nosso Plano de Obras Públicas, que terá na saúde uma de suas prioridades.

Nova Friburgo conta com um campus da Uerj, o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ/Uerj). Como tirar as universidades estaduais (Uerj, Uenf e Uezo) dessa crise sem precedentes?
Vou suspender o pagamento da dívida e as isenções, além de incorporar os terceirizados.

Friburgo, Teresópolis e Petrópolis são os principais destinos turísticos do estado para quem curte um friozinho. Qual seu plano para alavancar o setor turístico na região?
Constituir uma empresa pública de turismo que dê suporte para que o potencial natural, cultural e histórico de cada município seja aproveitado, realizando parcerias com os pequenos produtores para desenvolver o turismo rural.

Depois da tragédia climática de 2011, Friburgo recebeu importantes obras de contenção de encostas, habitação e canalização pluvial, como a do Rio Bengalas. Outras ainda faltam ser executadas na cidade. Você pretende fazer alguma mudança na política atual de prevenção a desastres naturais na serra?
Tragédias ambientais como as que atingiram Friburgo, Morro do Bumba (2010) e Xerém (2013) são tragédias sociais. Por um lado, temos a depredação ambiental por uma exploração predatória e por outro a ocupação irregular forçada pela falta de opção de moradia e de planejamento urbano. O Plano de Obras Públicas que queremos pôr em prática será vital nesse sentido, garantindo as obras ambientais, como a limpeza de rios e a recomposição de vegetação nas margens, proteção nas encostas e etc, além da construção de moradias e obras de saneamento.

Friburgo perdeu o escritório regional do Ibama, que tinha importante papel na fiscalização do desmatamento. A cidade conta agora com o trabalho do Inea e da prefeitura, mas ambos sofrem pressões políticas. O que seu governo fará para evitar a redução da Mata Atlântica, que cobre 45% do território friburguense, segundo o SOS Mata Atlântica?
É preciso um novo sistema de licenciamento em que toda obra que afete o meio ambiente, a vida e a cultura das comunidades, deva apresentar estudos técnicos e científicos em linguagem acessível e seja aprovado por conselhos populares. Defendemos a expropriação e estatização das empresas que poluem e desmatam.

 

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