Entrevista com Mônica Bonin Leal, presidente da OAB-NF

Advogada comenta o reduzido número de mulheres candidatas e eleitas
sábado, 15 de setembro de 2018
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Mônica Bonin Leal
Mônica Bonin Leal

Dando seguimento à série sobre a importância do papel da mulher na política, o poder do voto e da força feminina nesta eleição, entrevistamos a advogada Mônica Bonin Leal, primeira mulher a presidir a OAB - 9ª Subseção, sediada em Nova Friburgo. 

AVS: Ainda é elevado o número de indecisos e desconfiados nesta eleição. Como a senhora avalia essa situação?

Mônica Bonin: O cenário atual com frequentes notícias de corrupção, fraudes e outras envolvendo a classe política e os gestores públicos contribuem para o clima de indecisão embora eu entenda que há uma tentativa de esvaziamento da política pelos meios de comunicação e do judiciário.

Segundo analistas, o cenário político está confuso e isso se reflete nas dúvidas que assolam o eleitor. Dá para prever como esse cidadão vai se orientar em relação à escolha de seus candidatos?

Educação, saúde, transporte, déficit habitacional, segurança, emprego, economia. O Brasil necessita urgentemente rever suas políticas públicas para proporcionar uma melhor qualidade de vida à população, em todos esses setores. São muitos os problemas que o brasileiro enfrenta e decidir qual o candidato que apresenta a melhor solução para o que necessitamos no momento não é tarefa fácil. A previsão de como o eleitorado vai se orientar em relação à escolha de seus candidatos vou deixar para que os especialistas, se é que eles podem prever alguma coisa.

A corrupção é o principal fator para tamanho descrédito em relação aos políticos? Há outros fatores, um conjunto deles, talvez?

As pesquisas mostram que saúde, educação e segurança voltam como maiores preocupações da sociedade, desbancando a corrupção que, até alguns meses atrás tinha ultrapassado os direitos sociais. O descrédito na classe política, muitas das vezes com origem na desinformação, me parece que também contribui para o clima de desconfiança. O certo é que, se desejamos educação, saúde, habitação, transporte de qualidade e inclusivos o que, com certeza, contribui para a segurança pública, necessariamente tem que passar pela classe política. Não existe outra forma a não ser através do legislativo e do executivo, através do voto. Fora da política teremos barbárie.

Considerando o fato do eleitorado feminino representar 53% do total, concluímos que mulher não vota em mulher. A que atribui essa dissonância?

Somente em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto. A principio, facultativo, e, em 1934, tornado obrigatório. O que aos homens é assegurado pelo fato de ser homem, às mulheres é concedido somente após lutas e conquistas. Estamos nesse período da luta para conquistarmos o voto da mulher na mulher. Somente as cotas reservadas às mulheres nos partidos não foram suficientes. É necessário que elas tenham, efetivamente, voz e vez nos seus partidos, em igualdade com os homens. A desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda é grande. Veja, mulheres têm trabalho, casa, filhos, etc., nosso tempo é escasso e engajamento político demanda tempo.

As mulheres, agora de forma maciça, estão se dando conta da força de seu voto,  desse contingente que decide o resultado das eleições no Brasil. Como vê esse momento?

Penso que seja nossa capacidade de insistir e de lutar pelo que desejamos. Somos igualmente competentes para alcançar qualquer lugar que quisermos. Eu, mulher, escolho onde quero estar..... e isso independente de raça, cor, opção sexual, religião, ideologia....

A violência e o aumento das agressões contra as mulheres, o assassinato da vereadora Marielle Franco, entre outras, cotidianamente, é suficiente para que eleitoras repensem suas posições em relação às candidatas-mulheres?

Sem dúvida. As mulheres estão cada vez mais conscientes de que as pautas que a elas interessam necessitam de mulheres na sua propositura e defesa.

 

Idade e perfil do eleitorado

Dados sobre o eleitorado brasileiro que vai às urnas em outubro revelam mudanças significativas em relação a eleições anteriores. O autor desse estudo, o cientista político David Fleischer, explicou as implicações dessa nova situação.

"As pesquisas de opinião mostram que temos uma faixa de eleitores que podemos chamar de alienados ou decepcionados. Que dizem que não vão votar, ou que vão votar em branco ou nulo. Então, essa decepção com a política aumentou muito em 2018. Porque temos praticamente todos os dias nos jornais notícias sobre corrupção política e outros delitos, inclusive homicídios. O eleitorado fica muito decepcionado e acha que todo político é corrupto”.

No entanto, segundo David Fleischer, que também é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), ainda é cedo para dizer se essa mudança trará alterações no perfil ideológico. Segundo ele, a idade do eleitorado mudou: hoje há mais pessoas acima de 60 anos (18,5 %) e eleitores entre 16 e 24 anos, por exemplo, são somente 15,6%.

Um outro aspecto destacado pelo estudo é o aumento da participação feminina nas eleições, que passou de 51%, em 2014, para 53% em 2018. Esse fato, no entando, não deve refletir muito no resultado das eleições, segundo ele.

"Infelizmente para as mulheres, mulher não vota em mulher. Se mulher votasse em mulher, nós teríamos metade da Câmara dos Deputados e do Senado, composto por mulheres. Infelizmente a tendência é de mulher votar em homem. O Brasil tem uma sociedade muito machista", explicou, também apontando para um problema de estrutura política.

"Nós temos menos candidatas mulheres. Não temos um sistema de cotas, como na Argentina, por exemplo, com lista fechada. Infelizmente, o nosso sistema eleitoral é proporcional, com lista aberta. Então, a tendência de 98% do eleitorado é o voto nominal, votar em um nome. Segundo a lei, os partidos precisam ter pelo menos 30% de mulheres nas listas. Muitas vezes, no entanto, os nomes são colocados apenas para constar, cumprir a meta".

(Fonte: trecho de entrevista publicada no site Sputnik Brasil)

 

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