MÁRCIO MADEIRA DA CUNHA
Nascido no Rio de Janeiro e engenheiro mecânico por formação, César Raibert apaixonou-se por genealogia e por Nova Friburgo ainda menino, ouvindo as muitas histórias contadas por sua avó Justina, descendente de suíços e alemães. Hoje, aos 54 anos, César cuida da preservação de uma preciosa área de Mata Atlântica no distrito de Lumiar, ao mesmo tempo em que se dedica a pesquisar e catalogar documentos que desenham a mais completa árvore genealógica dos primeiros imigrantes a habitarem estas terras.
Determinado a tornar acessíveis as informações que teve tanta dificuldade para reunir, César criou em 2011 o blog que se tornou referência para descendentes de imigrantes, e que hoje é um dos endereços mais visitados em todo o mundo, entre aqueles dedicados à genealogia.
A VOZ DA SERRA: Como começou sua história com Nova Friburgo?
César Raibert: Bom, eu fui concebido aqui! Nasci lá no Rio de Janeiro, mas minha história começou aqui, então acho que é uma ligação que vem desde antes do meu nascimento. Além disso, em minha infância eu sempre ouvia as histórias contadas por minha avó Justina, que unia no sangue as tradições das famílias Murith, da Suíça, e Raibert, da Alemanha. Então eu cresci fascinado por esse lugar, onde os agricultores pisavam na grama coberta de gelo pela manhã, e pelas histórias dessa mistura de culturas que minha avó testemunhou. E quando comecei a vir para cá, nas minhas férias, pude comprovar a veracidade de tudo que já tinha ouvido. A partir daí, minha vida esteve sempre ligada a Friburgo, até o dia em que comprei meu sítio e passei a ter meu próprio endereço aqui.
AVS: E como surgiu o interesse em genealogia?
César Raibert: Foi a partir do 1º Encontro Comunitário Suíço-Brasileiro, em 1977, numa época de grande reaproximação entre os dois povos. Havia todos aqueles sobrenomes em comum, mas um hiato muito grande de gerações escondendo os reais laços de parentesco. Isso me estimulou a pesquisar, e nunca mais parei.
AVS: E você conseguiu catalogar a árvore genealógica completa dos imigrantes suíços e alemães?
César Raibert: Sim, temos todos os nomes, com raras exceções de alguns membros de uma ou outra família. A maior parte das famílias nós conseguimos mapear completamente, e em alguns casos foi possível reunir informações até mesmo anteriores à imigração. Da família Murith, por exemplo, tenho um documento do abade Joseph Murith que conta 450 anos de genealogia. Da família Reibert tenho documentos que remontam ao nascimento de Johannes Reippert, pai do imigrante Johann Karl Reibert, no dia 29 de agosto de 1760. Para os dados anteriores à imigração suíça de 1819, no que concerne aos imigrantes do Cantão de Fribourg (que correspondiam a 80% dos imigrantes), existe um site de genealogia da Suíça que disponibiliza muitas informações das famílias, como os pais dos imigrantes, brasões e armas. Este site foi elaborado com ajuda de Henrique Bon e o link para acessá-lo é http://www.diesbach.com/sghcf/brasil.html.
AVS: Diferentemente dos genealogistas mais tradicionais, você, que é engenheiro por formação, teve a preocupação de disponibilizar os resultados de suas pesquisas através de um blog. Conte-nos um pouco sobre ele.
César Raibert: Pois é, eu busquei uma forma de tornar acessíveis as informações, justamente porque enfrentei enormes dificuldades para conseguir obtê-las. Não é fácil fazer esse tipo de pesquisa no Brasil, especialmente em períodos anteriores a 1889 e à Proclamação da República. A maior parte dos registros desta época ficava nas igrejas e nos cemitérios, e nem sempre eram precisos. Além disso, muitos desses livros se perderam ou sofreram a ação do tempo, guardados em locais bastante inapropriados.
E o blog que eu criei (http://raibert.blogspot.com.br/) acabou se tornando um dos mais visitados no mundo entre os dedicados à genealogia. De modo muito especial, temos tido muitos acessos na Suíça e na Alemanha, e isso acabou rendendo a visita de uma equipe de televisão suí-ça e o convite para que eu e meu tio fôssemos à Europa conhecer as origens de nossa família.
AVS: Você fala francês e alemão, entre outros idiomas. Estas línguas foram ensinadas em casa ou você mesmo tomou a iniciativa de estudá-las?
César Raibert: Não, não. Tenho certeza de que minha avó, por exemplo, ainda ouvia os idiomas em casa, mas já não falava, ou não falava fluentemente. Eu estudei mesmo por opção, para poder conhecer melhor as raízes de minhas famílias.
AVS: Bom, além do serviço prestado a Nova Friburgo através da genealogia, você também é responsável pela preservação de uma grande área de mata nativa. Como aconteceu isso?
César Raibert: Ah, eu sempre fui apaixonado por natureza. Esta, aliás, é uma das coisas que me encanta aqui em Friburgo. Então quando eu tive a chance de comprar o meu sítio em Lumiar, já o fiz com a intenção de preservar a mata nativa. Ao todo são 132 mil metros quadrados de área preservada, com uma biodiversidade incrível. É um paraíso!
AVS: Durante muito tempo você morou no Rio e dedicou seu tempo livre a Nova Friburgo. Recentemente, no entanto, você passou a viver aqui. O que mudou?
César Raibert: Eu decidi tirar um ano sabático em minha vida, para fazer coisas que sempre quis. Estive há pouco tempo na África do Sul, que sempre quis conhecer, e agora estou me dedicando a coisas novas. Como engenheiro eu sempre gostei de pesquisar energias renováveis, e de um tempo para cá eu também comecei a pintar com óleo. Para todas essas tarefas, a paz que tenho no meu sítio é fundamental.
AVS: Entre tantas tarefas, você por acaso pensa em reunir num livro as histórias que descobriu a respeito dos imigrantes?
César Raibert: Sim, isso vai acabar acontecendo. Não é projeto para agora, mas eu tenho tudo organizado, e realmente as histórias vão muito além dos nomes em cada geração. São muitas informações que não podem ser perdidas e que certamente renderão um livro bastante rico no futuro.
Livros de registros da Igreja de Langen-Bergheim, Alemanha
Julien Guillaume (repórter de La Tele) e Cesar Raibert
Cesar e Jacques em Bulle (localidade de origem dos Murith),
viajando a convite de uma rede de televisão europeia
Deixe o seu comentário