Entrevista - A razão de um empreendimento idealizado por um só homem para ser compartilhado e desfrutado por quantos queiram

segunda-feira, 31 de agosto de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Entrevista - A razão de um empreendimento idealizado por um só homem para ser compartilhado e desfrutado por quantos queiram
Entrevista - A razão de um empreendimento idealizado por um só homem para ser compartilhado e desfrutado por quantos queiram

Ser o proprietário da Fazenda Canto Allegro significa para o advogado e empresário carioca Pio Borges, o começo de uma nova, gratificante e vitoriosa caminhada em direção à realização de um sonho no qual estão abrigados outros, tão desejados quanto.

Esta criatura tão cheia de ideias, que parecem brotar aos borbulhões quando fala, pode parecer, à primeira vista, difícil de definir ou resumir em poucas palavras. Nem tanto. Ele é simples e claro como a água que nasce em suas terras friburguenses.

Filho de desembargador e advogado há mais de 40 anos, formado na Universidade Candido Mendes, do Rio, Pio está decidido a trilhar novos caminhos e se dedicar a atividades mais amenas e que lhe deem prazer. Ele quer fincar raízes aqui, cidade que conhece desde criança quando vinha passar férias com a família. Paixão antiga, repleta de lembranças. Além da carteira da OAB, ele tem a de pescador profissional, atividade que leva a sério e é fundador da ONG SOS Águas Brasileiras, criada em 2001. Em formação, o floricultor orgânico. E tem como hobby, estudar astronomia.

Crianças e meio ambiente, por exemplo, estão no cerne de seus anseios. Educação é o carro chefe de seus projetos e está implícita nas atividades que pretende promover. Ele propõe a seguinte questão: como abordar as crianças de Vargem Alta, filhas de agricultores, para explicar que agrotóxicos como roundup e glifosol são venenos e devem ser combatidos? É para falar sobre este tema que Pio Borges concedeu esta entrevista exclusiva ao jornal A VOZ DA SERRA.

A Voz da Serra – Como você pretende fazer esse trabalho?

Pio Borges – Bem, nas atividades recreativas que tenho promovido aqui para alunos das escolas municipais locais, conheci duas professoras fantásticas, a Patrícia e a Zuleica, que estão muito empenhadas em despertar seus alunos para a educação ambiental. Conversamos e concluímos que é possível trabalharmos juntos, aproveitando o espaço disponível aqui na fazenda, para conscientizar as crianças neste sentido.

AVS – Como a ONG SOS pode contribuir nesse aprendizado?

PB – Através dela podemos ensinar muitas coisas para as crianças, entre elas, agricultura e floricultura orgânicas. Por exemplo: há quatro anos comecei a trabalhar com quatro socas de copos de leite. Uma soca (tipo uma braçada) tem umas cinco, seis ou até dez plantas, por aí. Então, separamos umas das outras e replantamos. E assim, sucessivamente, elas vão naturalmente se multiplicando. Nos últimos quatro anos, desde 2005, com as iniciais cinco socas produzimos 10 mil. Estas irão gerar até fevereiro de 2010, cerca de 50 mil mudas de flores isentas de agrotóxicos.

AVS – Como vocês pretendem passar isso para as crianças?

PB – Nós temos aqui dois porquinhos que, como todos sabemos, porcos adoram chafurdar na lama. Pois bem. Fuçando a terra como gostam, eles fazem o trabalho do veneno, limpam e preparam o terreno de maneira muito mais eficaz e sem a desgraça que os agrotóxicos trazem. E uma produção orgânica tem muito mais valor no mercado que a tratada com agrotóxicos. Ficamos todos felizes: nós e os porquinhos.

AVS – Essa foi a maneira, digamos lúdica, que você pensou para fazer as crianças entenderem como uma plantação pode ser feita sem veneno?

PB – Quando elas se convencerem de que isso é possível, à medida que crescerem, vão entender que podem produzir floricultura de alto nível. É um trabalho lento e persistente de educação, de criar esse tipo de cultura nelas. É perfeitamente viável que filhos de lavradores tenham condições de estudar e se tornarem engenheiros agrônomos. O problema é que muitos desses jovens têm vergonha de suas origens e preferem trabalhar em empresas nas capitais. É o velho problema da autoestima. Está baixa? Então vamos tratar de levantá-la. Como? Mostrando, desde a infância, o quanto eles podem fazer em suas próprias terras, produzindo bens de alta qualidade, aproveitando o conhecimento que adquiriram nas universidades em proveito próprio, de sua família, da comunidade, de sua cidade natal, enfim. É assim que se formam cidadãos de primeira classe para viver em cidades das quais se orgulhem.

AVS – Você acha que Nova Friburgo está precisando resgatar esse amor próprio?

PB – Ora, Nova Friburgo é o segundo polo de floricultura do Brasil, depois de Holambra. E tem tudo para se destacar como um polo de floricultura orgânica, único no país. Se passarmos a vender esse tipo de flor, simplesmente teremos o mercado mundial aberto para conquistarmos. E Varginha, Vargem Grande e Vargem Alta podem se tornar mais um ponto turístico, como um Caminho das Flores. Vamos fazer um banco de sementes e plantar nas margens da estrada. A natureza esta aí oferecendo todas essas possibilidades para nós. Temos que aproveitar, do contrário, é um desperdício inaceitável. Imagina o quanto isso vai mexer com os brios dessa meninada, que vai passar a sentir orgulho de ser filho de agricultores. Isso muda tudo, abre um novo horizonte para eles e para toda a comunidade. Por enquanto, eles só pensam em ir para a cidade. É preciso mudar essa perspectiva.

AVS – E a instalação do planetário de que tanto se tem falado?

PB - Estou engajado num projeto ambicioso de dotar Nova Friburgo de um planetário porque o céu daqui é algo maravilhoso de se observar. Acredito que com apoio do governo, das universidades, dos empresários, este sonho possa vir a se tornar realidade. Basta termos um projeto muito bem feito, existem verbas governamentais destinadas a este tipo de iniciativa, assim como isenções de impostos a nível estadual e federal. Vou apresentar este projeto ao prefeito Heródoto Bento de Mello e, tenho certeza de que ele vai se interessar, por ser um homem arrojado, empreendedor e, acima, de tudo, amar muito esta cidade. Poderia vir a ser construído ali no Curral do Sol, onde, ao que parece, será erguido o Centro de Convenções. Esse casamento teria tudo a ver, formando um conjunto muito interessante e que certamente atrairia moradores e turistas.

AVS – Como assim?

PB – Acredite quem quiser, e sei que tem gente que pode achar que estou querendo tirar proveito dessas minhas atividades aqui na Fazenda Canto Allegro. Tudo bem, cada um pensa o que quer. Não tenho que provar nada. Sei o que quero e sei o que não quero. E, em absoluto, estou pensando em cargos públicos, políticos ou coisa que o valha. Sou a favor de um movimento suprapartidário a favor de Nova Friburgo. Se quisesse mais estresse, continuava à frente do meu escritório de advocacia e morando no Leblon. Estou me afastando aos poucos, meus filhos estão formados, quero me dedicar cada vez mais a esse pedaço de chão. Porque quero curtir a vida, mexer com a terra, embelezar a área onde vivo, dar um jeito na estrada que passa em frente das nossas casas, ver essa região aqui progredir e assistir essas crianças caminhando para um futuro promissor. Até já falei para meus filhos: quando eu morrer, joguem as minhas cinzas nestas terras. É tudo o que quero. Nada além. E precisa mais?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade