Os afrescos do altar da Catedral São João Batista estão sendo redescobertos. É um trabalho minucioso, executado por profissionais experientes, que integra o desejo de dotar a catedral do aspecto mais próximo de seu original, conforme atesta o pároco local, padre Marcus Vinícius Brito de Macedo, cuja expectativa é entregar a recuperação em janeiro, na mesma data de inauguração do novo Ambulatório Bento XVI. Porém, a restauração não para por aí, com possibilidade de continuar em outras partes do templo, que completa 145 anos em dezembro próximo.
O processo de restauração foi iniciado em 2013 pelo padre Marcus com a pintura da nave central e capelas laterais, com uma tonalidade próxima do original; foram recolocados os nichos com as imagens dos santos; e em 2014 — ano dos 145 anos — está sendo feita a pintura externa, de acordo com a prospecção feita, que apontou a primeira tonalidade dada à catedral, que ora está sendo aplicada.
A fase atual da obra são os afrescos. Os profissionais que trabalham na restauração são de um ateliê especializado, do Rio, credenciado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac), que autorizou e acompanha essa restauração. A obra consiste na retirada das camadas de tintas sobre os afrescos e, em janeiro, durante a festa em ação de graças programada pela recuperação, esse patrimônio será entregue já devidamente renovado. E o trabalho tem agradado os frequentadores e visitantes da catedral.
A cor externa da catedral, como originariamente, recorda outros patrimônios friburguense da mesma época, como dos colégios Nossa Senhora das Dores, Anchieta e Instituto de Educação de Nova Friburgo (Ienf), todos edifícios históricos de Nova Friburgo.
O padre Marcus fala com satisfação que as ajudas para custeio desse trabalho estão chegando, pelo que agradece. E as oportunidades de ajudar são várias, como a campanha através de boletos, envelopes que são entregues ao final de cada missa e as doações espontâneas, além das empresas que também têm colaborado muito na preservação desse patrimônio tombado pelo governo do estado.
O artista ítalo-brasileiro que pintou os afrescos
Os afrescos da Catedral São João Batista, assim como alguns outros importantes patrimônios friburguenses, foram pintados por Elviro Ernesto Martignoni, nascido em 1854 e falecido em 1929. Era bisavô do conhecido professor João Ângelo, que nos enviou dados importantes desse artista.
Martignoni nasceu na Itália. Nesta época, D. Pedro II procurava incrementar as imigrações alemã, suíça e italiana no Brasil. Certamente atraídos pela possibilidade de um melhor nível de vida, Alberto Martignoni, Elviro Ernesto Martignoni e Giovanni Martignoni lançaram-se à aventura. Deviam possuir na Itália um nível financeiro regular, pois há uma versão de que Alberto era engenheiro (ou profissão similar) e viera, a convite, para construir uma ponte em Nova Friburgo, então Vila de São João Batista de Nova Friburgo.
Em 1870, Alberto Martignoni, com seu filho Elviro Ernesto e seu irmão Giovanni, então embarcaram com destino ao Brasil. Elviro tinha 15 anos. Casou-se em 1874 na Paróquia São João Batista (hoje Catedral), em Nova Friburgo, com Balbina Roza dos Santos, filha de portugueses, nascida em Santa Rita do Rio Negro, Cantagalo. Ele com 19 anos, e ela com 17. Tiveram 13 filhos. Passaram a residir numa casa na Praça Paissandu (hoje Praça Marcílio Dias), com o seu pai Alberto, do qual nunca se separou. Alberto trabalhou para a Estrada de Ferro Leopoldina (Leopoldina Railway) e é possível que seu irmão Giovanni também tenha trabalhado lá.
No início de 1882, por motivo de saúde e aconselhado por seu médico, Elviro (então com 28 anos de idade) deixou a família em Nova Friburgo e foi para a Itália. Porém, quando o navio atracou em Gênova, seu cunhado Leone Radaelli (marido de sua irmã Giselda) subiu a bordo e avisou-o que não deixasse a embarcação, pois poderia ser preso como desertor e obrigado a prestar serviço militar. Elviro não pôde ficar muito tempo por ali e não conseguiu ver sua irmã (Giselda), que estava em Milão em adiantado estado de gravidez.
Elviro então foi para o sul da França, em Menton, próximo à fronteira, onde ficou poucos meses (já que a família estava no Brasil), aperfeiçoando seus conhecimentos em desenhos e pinturas diversas. Ele doou ou vendeu (dizem os filhos que doou) à irmã os bens aos quais tinha direito e, restabelecido de sua saúde, voltou para o Brasil, via Portugal. Foi contratado para pintar as residências do conde de Nova Friburgo e do barão de São Clemente, onde foi a antiga Câmara Municipal e o atual Sanatório Naval de Nova Friburgo, com o tio Giovanni Martignoni. Também pintou e decorou igrejas no Rio de Janeiro e o altar da Catedral São João Batista em Nova Friburgo (altar que está sendo restaurado).
Era um mestre em sua profissão: pintava, dourava, desenhava, decorava, forrava paredes com papel, etc. Consta de um cartão de visitas seu: "Elviro Martignoni - pintor e dourador - Nova Friburgo”. Em uma espécie de fatura, está impresso: "Elviro Martignoni – pintor e dourador – de casas, carros, letras e forrador – pintura sobre vidro. À esquerda: Fornece papel e tintas. Especialidade em pintura a têmpera”. Tinha em casa um quarto reservado exclusivamente às tintas, no qual se trancava e passava horas esquecido desenhando e pintando. Seu filho Alberto o auxiliava no trabalho e tomava conta das suas coisas.
Em 1883, faleceu sua filha Angelina. Como nada mais o ligava à Itália, naturalizou-se brasileiro.
PARTICIPAÇÕES E ATIVIDADES - Em 1894, existiam três sociedades italianas aqui em Nova Friburgo. Uma delas, a Societá Mutuo Socorso, presidida por Elviro Martignoni, que mais tarde procurou reunir-se com as outras duas existentes — Escola Italiana Vittorio Emanuele III e a Sociedade Principe di Napoli —, ambas presididas pelo amigo Giovanni Giffoni. Pela fusão das três, em 7 de fevereiro de 1914 (com aproximadamente 30 integrantes), surgiu a atual Casa d’Italia de Nova Friburgo – Circolo Italiani Uniti.
Em 30 de março de 1895, Elviro foi proposto sócio instalador da Sociedade União Beneficente Humanitária dos Operários, que ele ajudou a fundar um ano antes. Em 1914 ele era o primeiro secretário da Humanitária e também vereador da Administração Municipal.
Progrediu na Maçonaria, e pela "Patente” de 1897 foi elevado ao grau 30 - Cavaleiro Kadosch, segundo informa a Loja Maçônica Indústria e Caridade.
(Texto enviado por João Ângelo. A história dos Martignoni na íntegra está no seu blog www.joao-angelo.blogspot.com.br, clicando à direita em "Meus Livros” - Martignoni – Genealogia.)
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