Dib Curi
Centenas de empresas da Região Serrana não conseguiram os empréstimos do BNDES e muitas permanecem fechadas ou funcionando precariamente. Além disto, é muito alto o grau de endividamento de empresas que tiveram que pegar empréstimos com os bancos privados, após acabarem os recursos do BNDES, em julho passado.
Uma das razões de muitas empresas não terem conseguido os empréstimos é que perderam toda a sua documentação na enchente e sofreram atrasos consideráveis para conseguir os documentos necessários para a formalização dos pedidos. Muitas tiveram, inclusive, que conseguir recursos, mesmo estando no vermelho, para quitarem suas dívidas para com a União e conseguirem as certidões negativas de débito. Para estas empresas, esta descapitalização forçada constituiu-se em um grave problema, pelo fato de, mesmo assim, não terem conseguido os recursos esperados junto ao BNDES.
Somente em Nova Friburgo, segundo o BNDES, 949 empresas conseguiram empréstimos, um número bem inferior às 5 mil empresas que sofreram prejuízos diretos ou indiretos e que necessitam de um aporte urgente de recursos.
Estes recursos são, principalmente, para renovação do maquinário perdido e para capital de giro, de modo a compensarem os meses parados ou funcionando precariamente, o pagamento de pessoal e da mercadoria em estoque e, principalmente, a queda em seu volume de negócios em virtude da desaceleração econômica dos municípios atingidos pelas chuvas. Segundo Francisco Assis, Secretário de Fazenda de Nova Friburgo, nesta desaceleração “houve uma queda do imposto sobre serviços (ISS) de mais de 50% no início do ano. Hoje, esta queda está em 30%, graças a ações fiscais implementadas pela secretaria”. Segundo o Secretário de Fazenda, a inadimplência considerada normal varia de 7 a 10%, no máximo.
Processos parados nos Bancos e novas demandas
Os gerentes Thiago Petrucci e Flávio Caram, das agências centrais da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, em Nova Friburgo, afirmam que são procurados por dezenas de clientes desejosos de saber quando sairá a nova linha do BNDES. Segundo Thiago, da Caixa, “atualmente, só se fala em BNDES”. Segundo Flávio Caram, do BB, a agência parou de acatar as inúmeras propostas que chegavam, tão logo os recursos acabaram e ainda são muitos os clientes que procuram todos os dias a agência, na expectativa de entregarem suas propostas. No caso da Caixa Econômica, ela exigia a licença ambiental, o que atrasou dezenas de clientes na obtenção do empréstimo. Segundo informações destas duas agências, são quase 200 processos que estão parados, sem os recursos disponíveis. Importante lembrar que estes processos são só de duas agências, sendo que os dois bancos contam com cerca de 20 agências na Região Serrana. Isto sem contar que outros bancos também trabalharam com os recursos do BNDES-PER, como Bradesco, Itaú, HSBC, Santander, Citibank e também o Invest Rio.
Vice-governador Pezão afirma que está buscando novos recursos e empresários da cidade pedem maior agilidade
Em recente visita a Nova Friburgo, o vice-governador Pezão disse que estariam garantidos mais 300 milhões para a Região Serrana, justamente para serem usados como linha de crédito na área produtiva. Segundo Pezão, “a facilidade da linha de crédito tem ajudado a região a continuar com seu desenvolvimento. Isso é muito bom. Por isso estamos solicitando mais recursos. O pedido já está na mesa da ministra Mirian Belchior”, ressaltou.
Segundo Cláudio Verbicário, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo, “esta segunda parcela dos recursos do BNDES/PER, da ordem de R$ 300 milhões, em fase de liberação, é imprescindível para a sobrevivência das micro e pequenas empresas, pois as MPEs já vivem sufocadas pelo injusto sistema econômico vigente, e em Nova Friburgo e região, após a catástrofe climática de janeiro, elas entraram em fase de estrangulamento”. Verbicário finaliza dizendo: “Espero que, na liberação desses recursos, o BNDES use o Social de sua sigla para flexibilização de suas inúmeras exigências, sem o que é impossível para as MPEs apresentar a documentação exigida e obter o empréstimo”.
Já o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (SinComércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, defende que a verba necessária para socorrer as empresas do município afetadas pela tragédia climática de janeiro deveria ser de R$ 1 bilhão. Ele informa que, neste momento, pleiteia junto aos órgãos governamentais que os R$ 300 milhões remanejados de projetos do Nordeste pela presidente Dilma Rousseff sejam liberados logo, e nas mesmas condições dos R$ 400 milhões disponibilizados anteriormente através de linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Se não for daquela maneira, não adianta. Ainda existem muitas empresas passando dificuldades, e nós estamos preocupados porque a economia da cidade precisa dessa injeção de recursos. No início do ano, o dinheiro saiu mais rápido, por conta do impacto da tragédia, mas agora tudo está lento”, opina.
Braulio Rezende observa que os bancos particulares ofereceram resistência em trabalhar com a linha de crédito do BNDES. As empresas da cidade recorreram, então, ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica.
“O Banco do Brasil deu prioridade aos clientes dele e nem assim conseguiu atender a todos. Já a Caixa ficou sobrecarregada de trabalho, porque teve que operar também com o dinheiro do FGTS, e precisou contar inclusive com o reforço de funcionários de outras agências do país”, explica.
O presidente da CDL e do SinComércio revela que é praticamente impossível calcular o número de empresas que sofreram prejuízos com a catástrofe. Em alguns bairros—como Centro, Conselheiro Paulino, Duas Pedras, Córrego Dantas, Campo do Coelho, Conquista e Chácara do Paraíso, só para citar alguns—todas as lojas foram atingidas pelas águas.
Segundo o presidente do escritório regional da Firjan, Vicente Ribeiro: “A linha de crédito do BNDES talvez tenha sido o fator que individualmente, depois do desastre de janeiro 2011, mais contribuiu para a recuperação do dinamismo das empresas da região”. Vicente afirma ainda ser lamentável, sobretudo para as pequenas e médias empresas, que ainda não tenhamos disponível no Brasil crédito de longo prazo para capital de giro”.
Novos empregos?
Recentemente, o Ministério do Trabalho, através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgou estatística do mês de julho em que Nova Friburgo consta como a quarta colocada no Estado do Rio na geração de empregos. Estes empregos gerados em Nova Friburgo não significam necessariamente um reaquecimento da economia, porque há um forte impulso dos empregos na construção civil, por conta da aceleração da reconstrução do município. Este segmento tende a oferecer ainda mais empregos nos próximos meses. Se por este fato o nível de empregos na região teve uma leve alta (foram gerados 543 novos postos de trabalho), ele tende a decair fortemente a partir deste segundo semestre, se o BNDES não criar um novo aporte de recursos para sanear os enormes prejuízos e dívidas contraídas pelas empresas da região.
Como funciona o empréstimo do BNDES
Lançado em fevereiro passado para apoio às empresas afetadas pela enxurrada de janeiro na região serrana fluminense, o Programa Emergencial de Reconstrução do Estado do Rio de Janeiro (PER-RJ) foi encerrado, em julho, com R$ 397 milhões comprometidos. A dotação prevista era R$ 400 milhões.
Segundo dados do BNDES, foram feitas em 7 municípios da Região Serrana um total de 2.871 operações de financiamento. Os municípios que receberam maior volume de recursos do programa foram Nova Friburgo, com R$ 138,2 milhões, ou o equivalente a 38% do total liberado; Petrópolis, com R$ 119,1 milhões (33%); e Teresópolis, com R$ 57,3 milhões (16%).
Criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o programa ofereceu condições financeiras que incluíam taxa de juros de 5,5% ao ano, com prazo de amortização de 120 meses e carência até 24 meses. Os recursos visavam a financiar capital de giro e projetos de investimentos. No primeiro caso, o limite de financiamento era R$ 2 milhões. Os investimentos em ativo fixo estavam limitados até esse mesmo valor. Isso permitia que cada empresa tivesse acesso a até R$ 4 milhões do BNDES.
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