Márcia Savino
A reconstrução de Nova Friburgo já começou. A segunda reunião ampliada do Conselho Empresarial da Firjan aconteceu com cerca de cem empresários do setor industrial presentes no auditório da CDL, em Nova Friburgo. Aberto pelo presidente da Representação Regional da Firjan, Vicente Bastos Ribeiro, o evento contou com depoimentos pungentes de empresários de diferentes setores, preocupados em normalizar e retomar as atividades de seus negócios. Diante da situação de calamidade, o estado de tensão dos empresários era latente frente às responsabilidades com empregados, clientes e fornecedores, além de diversos tipos de obrigações e prejuízos.
Coletivamente, os empresários decidiram assinar uma carta endereçada ao vice-governador Luiz Fernando Pezão, já enviada e destinada ao BNDES e à INVESTE RIO, que contém uma proposta do setor industrial para a imediata retomada das atividades, revertendo uma situação que prejudica também a vida dos funcionários. A carta descreve as condições necessárias para que a indústria de Nova Friburgo, severamente afetada pelo desastre de 12 de janeiro, possa - de fato - se beneficiar dos valores anunciados pelas agências de fomento. Em contra-partida ao crédito imediatamente acessível, o setor oferece o compromisso de manter 90% da folha de empregados até o fim do ano.
“Depois de um desastre como esse, o socorro financeiro liberado da forma necessária é um oxigênio fundamental para que as empresas possam continuar operando e honrando seus compromissos. O poder público, que tão prontamente entendeu a emergência física, precisa entender a emergência financeira no curtíssimo prazo, sob pena de colaborar para um segundo desastre, desta vez no dia 5 de fevereiro, quando a maioria das empresas prepara suas folhas de pagamento”, alerta Vicente Ribeiro.
“Houve comoção, ajuda, donativos, isso é importante. Mas, agora, o dia 5 está chegando. Eu fui obrigada a dar férias aos funcionários, como vou fazer para pagar as 120 pessoas que vão chegar na minha porta em fevereiro?”, disse uma empresária do setor de acessórios de moda, que teve o galpão de 1.800m inundado, inutilizando um lote de exportação de três mil peças para a Rússia.
“A retomada vai ser com o nosso pessoal. Eles estão lá trabalhando, ajudando a limpar, mas é porque acreditam que o dinheiro vai chegar e que vamos voltar a produzir. Se o crédito não chegar imediatamente, pode agravar uma situação já extremamente difícil”, disse outro empresário do setor de confecções.
Também participaram da mesa os empresários Carlos José Ieker (Sindicato Têxtil), Cláudio Tângari (Sindmetal), Nelci Layola (Conselho da Moda) e Ediwar Ismério (Sinduscon), além da superintendente do SESI/SENAI no estado do Rio, Maria Lúcia Telles, e o superintendente do IEL, Alberto Besser. Outros membros do corpo técnico do Sistema Firjan (Assessoria de Responsabilidade Social Empresarial, Gerência de Estudos Econômicos, e Gerência de Novos Investimentos e Infraestrutura) também estiveram presentes.
A próxima reunião acontecerá no auditório do Senai, amanhã, 2, às 16h. Um diagnóstico da Firjan Regional identificou no cenário industrial da cidade hoje quatro tipos de empresas: as que desapareceram do mapa, as que foram seriamente atingidas, as parcialmente atingidas e as indiretamente atingidas (que estão afetadas pela irregularidade dos serviços de infraestrutura).
TRECHO DA CARTA AO VICE-GOVERNADOR:
1. 1. As linhas de crédito devem focar essencialmente o CAPITAL DE GIRO;
2. 2. Devem ser incluídos mais bancos repassadores que Banco do Brasil e Caixa, para facilitar o acesso às empresas que já contam com limites de crédito analisados em outras instituições financeiras;
3. 3. A distribuição das linhas entre os municípios não pode ser igual, pois a atividade industrial de Petrópolis e Teresópolis está praticamente preservada.
4. 4. Não deve ser exigida Licença Ambiental quando se tratar de operações EXCLUSIVAS de capital de giro, já que essa eventual exigência inviabilizará a rapidez da liberação do crédito.
5. 5. As certidões a serem exigidas devem ser simplificadas como aquelas solicitadas para a emissão de Cartão BNDES;
6. 6. As empresas que não dispuserem dessas certidões em um primeiro momento, poderão receber até 30% do valor aprovado de imediato, ficando o saldo restante a ser liberado mediante a apresentação das certidões;
7. 7. Deve ser equacionada a questão das garantias, pois para a maior parte das empresas, neste momento, não há garantias reais a oferecer (sem estoques para penhor mercantil; sem duplicatas por não estarem faturando); sugerimos a utilização do Fundo de Aval do SEBRAE para as micro-empresas, e a constituição de fundo garantidor no BNDES para as demais;
8. 8. EM CONTRA-PARTIDA, AS EMPRESAS ACEITAM ASSUMIR COMPROMISSO PARA LIBERAÇÃO DO CRÉDITO DE MANTER, ATÉ 31.12.2011, PELO MENOS 90% DOS EMPREGOS REGISTRADOS EM 31.12.2010.
CARTA DOS EMPRESÁRIOS DA INDÚSTRIA FRIBURGUENSE
Nova Friburgo, 26 de janeiro de 2011
Nova Friburgo foi o município mais atingido pelas chuvas que se abateram sobre o estado do Rio de Janeiro no último dia 11 de janeiro.
Além da tragédia social bastante divulgada pela mídia, com grande quantidade de perdas de vidas humanas, feridos, desalojados e desabrigados, Nova Friburgo teve sua economia completamente abalada pela paralisação decorrente do desastre, seja na indústria, no comércio e no turismo. Contribuiu para isso o fato das enchentes e desabamentos terem ocorrido em praticamente todo o espaço urbano da cidade, e mais concentradamente em locais com forte concentração de atividade industrial, diferentemente dos demais municípios.
A recuperação da economia de nossa cidade depende de ações de curtíssimo, curto e médio prazo; e só teremos a possibilidade da completa retomada da atividade econômica do município se a indústria local voltar ao seu ritmo normal de produção.
Isso porque, diferentemente das outras regiões atingidas, 40,4% dos empregos em Nova Friburgo estão na indústria, enquanto a média do estado como um todo é de apenas 17,8% (RAIS – 2008). Logicamente, o comércio e o turismo (de negócios) dependem, em grande parte, da renda gerada na atividade industrial.
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