"O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”, disse Mario Quintana. E não sentimos saudades do que foi ruim. Sentimos saudades dos que nos foram caros, especiais e importantes, dos momentos que nos fizeram felizes, das músicas que serviram de trilha para encontros prazerosos, de locais que foram cenários inesquecíveis de tramas, fatos, decisões, de cheiros, gostos, cores, daquilo que ficou feito tatuagem em nossos corações.
É chegado o tempo de ouvir suspiros e a declaração da saudade dos carnavais. Todos sentem saudades dos carnavais que passaram... E saudade é um sentimento personalíssimo. A nossa é sempre a mais importante. Mais brilhante, mais tenra e inesquecível.
O entrudo tomava conta da cidade. Era uma brutalidade divertida. Limões de Cheiro cruzavam as ruas em todas as direções batendo em cheio nas pessoas que transitavam ou estourando no ar, despejando água perfumada. O corso, as batalhas de confetes e serpentinas, os blocos e cordões animavam a cidade, que assistia, na última tarde do Momo, aos desfiles de préstitos alegóricos e de críticas, confeccionados por artistas animados.
Nos clubes, sociedades musicais e no Theatro Dona Eugênia, os bailes à fantasia tinham concorrência extraordinária, com fanfarras tomando parte, no fim da noite, os blocos, e a Lira Friburguense, cordão de negros e cabrochas, que durou muitos anos como um dos primeiros da cidade, tal o rigor de suas vestimentas, seu canto melodioso e o ritmo dos seus tambores e tamborins.
Carros abertos, lindamente ornamentados com flores naturais, percorriam a cidade..., depois vieram os ranchos, os blocos e as escolas de samba..., e ainda, os clubes. A saudade dos carnavais passados faz parte do universo de todos nós. E os mitos se revisitam a todo instante. O carnaval se reinventa ano após ano. Os blocos estão de novo nas ruas. As vozes entoam marchinhas. As fantasias se recriam. Volta e meia mergulhamos no ontem e, como um dejavú, visitamos o passado, relembrando momentos que não voltam e não voltarão. Ficarão guardados para sempre no porta-joias da nossa alma, no cofre secreto que pulsa a cada fechar de olhos.
Os confetes espalhados no chão, o pedaço da serpentina preso à fantasia, o canhoto do ingresso daquele baile... O perfume, o sabor do beijo, a imagem da despedida que não queríamos que tivesse acontecido. O telefone anotado no guardanapo, o bilhete amassado no fundo da pequena bolsa... as mais deliciosas lembranças que trazem frescor à alma...fazem pulsar o coração...fazem o tempo voltar ao som da orquestra, daquela marchinha que pontuou o exato momento daquele flerte fatal que mudou o instante ...um sopro de vida... um vento súbito e invasivo que fez balançar o nosso íntimo... ah, como seria bom se pudéssemos parar os ponteiros do tempo e ouvir para sempre:
"Se acaso o meu bloco
Encontrar o seu,
Não tem problema,
Ninguém morreu.
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,
Até quarta-feira!”
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